Em 2025, territórios disseram o que o Brasil ainda precisa ouvir

 

 

2025 confirmou algo que atravessa todo o trabalho da Énois: quando comunicação, comida e clima se encontram nos territórios, outras formas de narrar o país ganham corpo. O ano marcou a chegada da COP 30 e o lançamento do Prato Firmeza Amazônia, criado ao lado de quem vive e sente, diariamente, os efeitos das mudanças climáticas na produção de alimento, na renda e no cotidiano. Não é apenas um guia: é um gesto político de reconhecimento das práticas que mantêm mundos em pé.

Como destaca nossa conselheira Fabiana Moraes, a força da comunicação produzida nas periferias e nos territórios tradicionais está justamente em romper com a distância confortável que ainda estrutura boa parte dos grandes centros de produção midiática. Ela lembra que projetos comunitários “constroem outras epistemologias, pautadas na experiência direta, na escuta coletiva e na atuação política enraizada”. E que também fazem do jornalismo um campo vivo de disputa por memória, reconhecimento e justiça. O Prato Firmeza Amazônia reafirma esse horizonte, pois valoriza quem planta, quem transforma a floresta em alimento, quem guarda técnicas centenárias e quem alimenta a vizinhança. Mostra que comida é escolha, é política e é também tecnologia para enfrentar um clima cada vez mais extremo.

As narrativas que compõem o guia foram escritas coletivamente com quem vive e conhece profundamente os territórios. As de Manaus (AM) pelo coletivo Puxirum do Bem Viver, e as de Belém (PA) pelo veículo Tapajós de Fato. Em parceria com Maickson Serrão, do podcast Pavulagem, publicamos dois episódios especiais: um sobre a comida como cura e outro sobre a saudação da mandioca. Com a presença da Énois durante a COP, o PF esteve em mesas, no painel oficial da Blue Zone e no corpo a corpo pelos pavilhões e ruas, onde distribuímos cerca de 700 exemplares do guia.

Crédito: Énois no Belém+10, realizado em parceria com Instituto Mapinguari e Sustentarea/ arquivo Énois

Este percurso abriu espaço para ampliar a discussão. Em um país onde as famílias mais pobres pagam proporcionalmente mais impostos, em que na alimentação, lares das classes D e E podem comprometer até 35% da renda com tributos, lançamos também a cartilha Prato Firmeza Amazônia: alimentação, clima e justiça tributária, conectando um debate urgente a práticas concretas de quem sustenta os sistemas alimentares do Brasil.

Também avançamos com o Arte é Informação, passando por cinco periferias de São Paulo (SP) ao lado de parceiros locais, em formações voltadas ao fortalecimento de artistas, comunicadores e lideranças. Porque entendemos que a arte é uma aliada da informação, capaz de alcançar públicos diversos, da música ao grafite, do zine a tantas outras linguagens inovadoras que a arte nos propõe. Estivemos ainda no Festival Mix Brasil, um dos maiores festivais LGBTQIAPN+ do país, com o Sarau Arte é Informação, reunindo artistas da nossa rede que são também comunicadores e que, com suas vozes e corpos, fizeram a informação circular.

Crédito: Evento Diálogos Culturais do Arte é Informação / arquivo Énois

E em cada ação dessa, a Énois esteve nos territórios, junto com organizações, coletivos e comunicadores que seguiram construindo conosco práticas que enfrentam a desinformação onde ela mais impacta. Esse acúmulo nos prepara para o que vem: um ano eleitoral marcado por disputas narrativas intensas e tensões climáticas reais. Sabemos, porém, que a força da Énois está justamente na capacidade de produzir sentido onde a vida acontece. E assim seguiremos para 2026, cumprindo nossa missão: fortalecer as tecnologias sociais, a comunicação comunitária e quem informa nas ruas, nas favelas, nas quebradas, nos quilombos, nas aldeias, e na arte, enfrentando diariamente a desinformação e ampliando o direito à comunicação, a arte e à alimentação, com os pratos que estão adiando o fim do mundo.


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