Espetáculo “Ir e Vir: Cidadão Vigilante” encerra temporada com 40 apresentações e impacto direto na cultura, educação e segurança viária.
Um trio de estudantes tenta entender como as crianças podem contribuir para a segurança no trânsito. É o início de “Ir e Vir: Cidadão Vigilante”, espetáculo infantojuvenil da Companhia de Teatro Parafernália em parceria com o Ministério da Cultura e patrocínio da Renovias Concessionária, que percorreu 16 cidades do interior paulista em 2025 e encerra o ano com um balanço que vai além das estatísticas: mais de 9.600 pessoas beneficiadas diretamente, a maioria crianças e adolescentes da rede pública.
A estrada da consciência
O projeto Caminhos em Cena, que integra apresentações de espetáculos teatrais e a distribuição de materiais informativos, levou às escolas e espaços de cultura uma peça bem humorada, mas com uma missão séria: falar de mobilidade urbana, sustentabilidade, acessibilidade e cidadania para quem está apenas começando a aprender o que significa “ir e vir” com segurança.
Foram 40 apresentações gratuitas, sempre em duas sessões por cidade, passando por Mogi Guaçu, Mogi Mirim, São João da Boa Vista, Santo Antônio de Posse, Itobi, Águas da Prata, Mococa, São José do Rio Pardo, Estiva Gerbi, Aguaí, Holambra, Jaguariúna, Vargem Grande do Sul, Casa Branca e Campinas.
“É impressionante ver o brilho no olhar das crianças quando percebem que também fazem parte da mudança”, conta o ator Vinícius Rodrigues, que vive Gael, o menino curioso da trama. “Elas entendem que, mesmo sem dirigir, podem ajudar os pais ou responsáveis, cobrar o uso do cinto, respeitar a faixa. Elas saem vigilantes de verdade”, conta.
Entre o jogo e a vida real
Na história, Gael, Valentina (Jéssica Frizão) e Lucas (João Paulo Vital) se preparam para o Quiz do Cidadão Vigilante, um jogo de perguntas e respostas sobre mobilidade urbana e sustentabilidade. Com a ajuda da especialista Irevinda (Joyce Pontes), do Senhor Semáforo e do assistente Coninho, o trio busca respostas sobre como as crianças podem contribuir para um trânsito mais seguro.
A peça dura cerca de 40 minutos, mas o aprendizado pode durar bem mais. É o que explica o ator que interpreta os personagens Lucas e Coninho. “Durante o ano, vimos alunos levando para casa as ideias do espetáculo. Uma professora nos contou que uma menina de oito anos passou a lembrar o pai quando ele esquecia o cinto de segurança, por exemplo”, relata João Paulo Vital, também coordenador do projeto.
O impacto da peça é percebido nas vozes das próprias crianças. “Gostei do espetáculo e da (personagem) Valentina. Achei muito legal e aprendi sobre congestionamento”, conta a aluna Helena Maciel Ferraresi, de 8 anos, do 3º ano. Para Mariana de Cássia Ferreira Rodrigues, também do 3º ano, a personagem favorita foi a professora que conduziu os alunos durante o Quiz do Cidadão Vigilante. “Com ela, aprendi a importância de respeitar o trânsito e tomar cuidados para evitar acidentes”, compartilhou.
Quando o teatro se encontra com a rodovia
A Renovias Concessionária, que administra 345,6 km de rodovias entre Campinas, o Circuito das Águas e o Sul de Minas, mantém há 13 anos parceria com a Cia. de Teatro Parafernália. “Uma grande parceira. Sem seu apoio, não seria possível levar cultura e educação para tantas crianças do interior paulista. Foram mais de 126 mil espectadores em mais de uma década e um sentimento de gratidão imensurável”, afirmou a atriz Andréia Nunes, gestora cultural e coordenadora executiva da Companhia Parafernália.
Em 2025, além de levar cultura durante as ações itinerantes do projeto Caminhos em Cena, a concessionária também realizou ações paralelas de conscientização como, por exemplo, orientações sobre os perigos do uso de celular ao volante, da condução em condições de sonolência, o consumo de álcool e a importância de respeitar os corredores de motos.
“A arte e a conscientização fala onde a placa não alcança”, resume Andréia. “Uma placa pode alertar, mas o teatro emociona. Transforma. A criança não esquece o que sente. É assim que a mensagem se espalha, de dentro da escola para dentro de casa. Esse é o poder da cultura quando ela tem propósito”, afirma.
Números que contam histórias
Segundo levantamento do Detran-SP, o estado de São Paulo registrou 6.099 mortes no trânsito em 2024, o número mais alto dos últimos nove anos e 16,1% superior ao registrado em 2023. Entre as vítimas, 1.375 eram pedestres.
No âmbito nacional, dados do Global Road Safety Facility, do Banco Mundial (2023), apontam que os acidentes rodoviários custam ao Brasil cerca de US$ 61 bilhões por ano, o equivalente a 3,8% do PIB.
Para Andréia, esses números reforçam a importância de ações contínuas de conscientização e iniciativas culturais que envolvam o engajamento social. “Cada vez que o teatro entra na escola, o trânsito fica um pouco mais seguro”, destaca. “Não é exagero. É uma transformação que pode ser duradoura e que, de forma direta e indireta, contribui para a educação no trânsito e para a redução de acidentes”, acrescenta.
Do palco à prática
A peça faz parte de um conjunto maior de ações educativas do projeto Caminhos em Cena, que distribuiu cartilhas, adesivos e certificados de “Cidadão Vigilante” - tudo alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, especialmente os ODS 4 (Educação de Qualidade) e 11 (Cidades Sustentáveis).
Para a supervisora de ensino Arieta Barbosa, o valor do projeto vai além do aprendizado em sala de aula. “As crianças são sábias e se tornam agentes multiplicadores, levando o que aprendem com o teatro para o convívio familiar. E isso contribui muito para o nosso trabalho na escola”, afirma.
Nas cartilhas, os alunos aprendem brincando: associam meios de transporte, resolvem labirintos, descobrem o que é “infraestrutura disponível” e entendem que metrô, ônibus e bicicletas fazem parte de uma cidade mais equilibrada e sustentável.
“Eles aprendem enquanto se divertem. E quando brincam, aprendem sem perceber”, diz Jéssica Frizão, intérprete de Valentina. “Teve cidade em que os alunos ajudavam os personagens durante o Quiz do Cidadão Vigilante reproduzindo as alternativas das questões com o uso de Libras, que também são abordadas durante o espetáculo. Foi lindo ver o envolvimento”, disse Jéssica.
Algumas das novidades deste ano incluem intérpretes de Libras, abafadores sensoriais e aparelhos de audiodescrição voltados para pessoas com deficiência auditiva, visual ou sensorial, com o objetivo de garantir que o espetáculo fosse acessível a todos e reforçar o compromisso do projeto com a inclusão.
Para o diretor do espetáculo, Alexandre Souzah, a peça Ir e Vir: Cidadão Vigilante foi além do teatro: “Nosso objetivo era emocionar e conscientizar ao mesmo tempo. Cada sorriso, cada interação foi uma oportunidade de plantar a semente da responsabilidade no trânsito desde cedo. Ver as crianças refletindo sobre suas atitudes foi a maior recompensa do nosso trabalho. A edição de 2025 contou com um elenco incrível”, parabenizou o diretor.
Almir Pugina, responsável pela adaptação do texto original de Viviane Casteliani, complementa: “Ao transformar a história para o ‘palco escolar’, buscamos uma narrativa divertida e educativa. Queríamos que as crianças se reconhecessem nos personagens e percebessem que pequenas ações no dia a dia podem salvar vidas. Essa consciência é o verdadeiro prêmio que o teatro oferece”, acrescentou o autor.
O futuro do Cidadão Vigilante
Com balanço positivo, a Companhia de Teatro Parafernália encerra a temporada de 2025 e já planeja novas edições do projeto Caminhos em Cena e do espetáculo “Ir e Vir: Cidadão Vigilante”. “Queremos que o ‘Ir e Vir’ continue sendo um movimento, garantindo acesso à cultura e proporcionando às crianças seu primeiro contato com a magia do teatro, mantendo nosso compromisso de formar gerações mais conscientes”, concluiu Vital.
No final do espetáculo, o trio conquista o bóton do Cidadão Vigilante. Para o público, porém, o prêmio é outro: a consciência de que pequenas atitudes podem fazer a diferença no dia a dia e que aprender a ser responsável começa cedo.
Este material é de domínio público e pode ser livremente aproveitado para fins de Comunicação Social.
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