O potencial do SUS na jornada por práticas sustentáveis


Por João Romano* 
 

A incorporação dos princípios de ESG (Environmental, Social and Governance- Ambiental, Social e Governança) às políticas públicas de saúde representa um dos marcos mais promissores e, ao mesmo tempo, desafiadores da gestão contemporânea. No Brasil, esse debate assume contornos singulares, uma vez que o Sistema Único de Saúde (SUS) não apenas reflete a complexidade das demandas sociais, ambientais e econômicas do país, mas também reúne as condições institucionais e operacionais necessárias para liderar a transição rumo a um modelo de cuidado mais sustentável, equitativo e inovador.

O componente ambiental dessa agenda, muitas vezes limitado à discussão sobre o manejo de resíduos hospitalares, deve ser compreendido de maneira mais abrangente. A eficiência energética das unidades, o uso responsável da água, a adoção de processos de compras sustentáveis e a incorporação de tecnologias digitais que reduzem consumo de papel e deslocamentos são exemplos de práticas que traduzem o compromisso ecológico em resultados concretos. Ao mesmo tempo, tais iniciativas produzem ganhos econômicos diretos, permitindo a realocação de recursos para a própria assistência e fortalecendo a sustentabilidade financeira do sistema.

Se no eixo ambiental, a oportunidade está na modernização dos processos, é no pilar social que reside a essência do sistema público. Criado sob o princípio da universalidade, o SUS é, por natureza, uma política de ESG avant la lettre (antes de o termo existir), ao garantir acesso gratuito, integral e equitativo à população. Incorporar os pilares de ESG a essa estrutura significa atualizar seus instrumentos de gestão para um tempo em que o impacto social é mensurado, a transparência é um valor estratégico e a inovação se torna indissociável da equidade. 

As Organizações Sociais de Saúde (OSSs) exercem papel crucial nessa transição. Como estruturas de governança dotadas de flexibilidade administrativa e foco em resultados, elas têm contribuído para a implementação de políticas de eficiência energética, digitalização de processos, programas de educação ambiental e incentivo à economia circular — práticas que reforçam um olhar voltado à preservação ambiental sem se afastar-se dos princípios do serviço público. 

Como gerente executivo de uma OSS parceira do poder público, acredito que o cuidado com as pessoas e a responsabilidade socioambiental caminham juntos. Foi com esse propósito que nos tornamos signatários do Pacto Global das Nações Unidas, reafirmando nosso compromisso com os Dez Princípios da ONU e com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

A presença de representantes de organizações sociais de saúde na COP 30, em Belém (PA), acompanhando os debates sobre mudanças climáticas e sustentabilidade e formalizando compromissos alinhados à agenda global, representa uma oportunidade de aprendizado e de alinhamento com as melhores práticas internacionais. Essa participação reforça o compromisso do setor em aprimorar a gestão socioambiental na saúde pública e fortalecer as iniciativas de ESG no âmbito do SUS.

É importante lembrar que a consolidação de uma cultura ESG na saúde requer métricas robustas, indicadores transparentes e mecanismos de governança que permitam monitorar o impacto ambiental, social e econômico das intervenções. A maturidade dessa agenda depende de sua institucionalização, o que significa incorporar o ESG como eixo estruturante dos modelos de gestão, e não como adendo reputacional.

O SUS, com sua capilaridade, diversidade de parceiros e capacidade de articulação em rede reúne condições ímpares para liderar esse movimento. Em um país marcado por desigualdades e desafios logísticos de grande escala, o fortalecimento de práticas sustentáveis e inovadoras no sistema público pode estabelecer um novo paradigma de política de saúde. Aquele em que cuidar das pessoas e preservar o planeta não são objetivos dissociados, mas faces complementares de uma mesma política de Estado.
 
* João Romano é gerente executivo do CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” 

 

 

Sobre o CEJAM     

O CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” é uma entidade filantrópica e sem fins lucrativos. Fundada em 1991, a Instituição atua em parceria com o poder público no gerenciamento de serviços e programas de saúde em São Paulo, Rio de Janeiro, Mogi das Cruzes, Campinas, Carapicuíba, Barueri, Franco da Rocha, Guarulhos, Santos, São Roque, Ribeirão Preto, Lins, Assis, Ferraz de Vasconcelos, Pariquera-Açu, Itapevi, Peruíbe e São José dos Campos.

A organização faz parte do Instituto Brasileiro das Organizações Sociais de Saúde (IBROSS), e tem a missão de ser instrumento transformador da vida das pessoas por meio de ações de promoção, prevenção e assistência à saúde.

O CEJAM é considerado uma Instituição de excelência no apoio ao Sistema Único de Saúde (SUS), tendo conquistado, em 2025, a certificação Great Place to Work. O seu nome é uma homenagem ao Dr. João Amorim, médico obstetra e um dos fundadores da Instituição. 

No ano de 2025, a organização lança a campanha "365 novos dias de saúde, inovação e solidariedade", reforçando seu compromisso com os princípios de ESG (Ambiental, Social e Governança). 

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