Portugal suspende concessão de direitos a brasileiros e acende alerta diplomático: “não é mais como antes”, diz especialista

 

Foto: Divulgação / MF Press Global


Crescimento da imigração brasileira, pressão política da direita e colapso institucional estão por trás da interrupção do Estatuto de Igualdade. Dr. Fabiano de Abreu Agrela (foto) comenta impactos para a comunidade lusófona.


Castelo de Paiva, setembro de 2025 — O governo de Portugal interrompeu, desde 16 de junho, a publicação dos atos de concessão do Estatuto de Igualdade de Direitos e Deveres a brasileiros legalmente residentes no país. A medida, confirmada pelo Itamaraty, ainda não teve justificativa oficial divulgada, mas fontes ligadas à diplomacia e à administração portuguesa apontam para um cenário de pressão sociopolítica crescente.

A suspensão atinge diretamente os cidadãos brasileiros que, com base em um acordo bilateral com o Brasil, vinham usufruindo de uma série de garantias equivalentes às dos cidadãos portugueses, incluindo direitos trabalhistas, políticos e acesso ampliado a serviços públicos.

Segundo o Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues, assessor da Câmara Portuguesa, membro do projeto Terras de Cabral e um dos principais representantes da comunidade lusófona em Portugal:

“Há um acúmulo sistêmico: o aumento exponencial de brasileiros, a reação popular portuguesa, o colapso nos serviços de imigração e a mudança de direção política no país. Tudo isso forma um quadro que exigia uma resposta política, mesmo que esta tenha vindo de forma abrupta e pouco transparente.”

Contexto: direita em ascensão e imigração como foco

A interrupção ocorre paralelamente ao avanço de um discurso nacionalista e anti-imigração em Portugal, impulsionado pelo crescimento do partido CHEGA, liderado por André Ventura, e pelo reposicionamento do PSD (Partido Social Democrata), hoje rebatizado como Aliança Democrática (AD). O bloco só assumiu o governo ao adotar pautas mais conservadoras, historicamente associadas à direita radical.

Enquanto isso, o Partido Socialista (PS), antes majoritário, vê seu eleitorado encolher e se restringir às regiões mais pobres do país, perdendo influência nas decisões centrais.

“Portugal vive um realinhamento ideológico. Os partidos passaram a adotar narrativas de ‘proteção nacional’, e os brasileiros viraram alvos preferenciais, mesmo sendo maioria entre os imigrantes regulares. O problema está no volume e na velocidade da entrada”, explica Dr. Fabiano.

Sistema sobrecarregado e resistência popular

Dados extraoficiais indicam que o número de pedidos de residência e cidadania superou a capacidade de processamento dos órgãos de migração, provocando atrasos, denúncias de corrupção e protestos internos.

Paralelamente, crescem os relatos de rejeição popular e episódios de xenofobia. A percepção de que a presença brasileira estaria associada ao aumento da violência, ocupação de espaços laborais e pressão sobre o sistema de saúde tem sido explorada politicamente.

“Parte da população portuguesa começou a atribuir problemas estruturais internos à imigração, o que é simplista, mas politicamente eficaz. Isso alimenta medidas restritivas e justifica paralisações como essa”, aponta Dr. Fabiano.

Repercussões e próximo cenário

A suspensão do Estatuto pode representar um retrocesso histórico nas relações luso-brasileiras, alertam especialistas. Até o momento, o governo português não forneceu prazos ou critérios para retomar as publicações.

Do lado brasileiro, o Itamaraty admitiu desconhecer os motivos da suspensão e aguarda esclarecimentos formais. Internamente, há preocupação com o impacto sobre estudantes, profissionais de saúde, pesquisadores e famílias binacionais.

“Os brasileiros precisam entender que Portugal mudou. O país que antes era símbolo de acolhimento agora vive uma crise de identidade política. A realidade já não é a idealizada nas redes sociais. O cenário exige cautela e realismo”, conclui Dr. Fabiano de Abreu Agrela.

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