*José Renato Nalini
Fico indignado quando ouço falar que
o crime organizado evoluiu e, com desenvoltura, participa da vida negocial como
se atuasse na licitude. Ouve-se falar que depois dos postos de gasolina, a
delinquência passou a explorar usinas sucroalcooleiras. Como é possível que o
Estado não tenha tido condições de evitar a tragédia e que, depois dela, se
mostre impotente para reconduzir a economia ao mundo probo e ético?
É triste ouvir do meu semi-xará,
Renato Sérgio de Lima, que o crime organizado já é o principal empregador da
Região Amazônica. Ou assistir à declaração do governador Ronaldo Caiado no
mesmo sentido, quando se apresentou a um seminário aqui em São Paulo.
Não é “achismo”. O relatório do
Fórum brasileiro de Segurança Púbica revelou que o crime organizado no Brasil
já movimenta mais dinheiro com a venda irregular de combustível, ouro, cigarro
e álcool, do que com o tráfico de cocaína. Cocaína que está na água fornecida a
metade da população paulistana, pois liberada na urina do esgoto doméstico
irregularmente lançado na Represa de Guarapiranga, o único reservatório
abastecido com nascentes locais.
O pior é que o Fórum, para estimar o
tamanho da contaminação dos mercados lícitos pelo crime organizado, selecionou apenas
quatro: combustível, tabaco, bebida e ouro. Só que há muitos outros. Há vinte e
dois mercados transnacionais com a presença dos delinquentes, cada vez mais
sofisticadamente organizados.
A violência estraga o negócio dos
infratores. Por isso eles se valem da fragilidade das estruturas da economia
formal e se especializam em fraudes virtuais. É preciso que a sociedade civil
também se organize e cuide de eleger melhores quadros e invista numa educação
capaz de enfrentar a inteligência do mal. Sem isso, vamos acelerar a
marcha-a-ré. Sem competitividade, sem receber tributos, o que é trágico, pois o
que deixa de ser arrecadado é muito superior ao nosso déficit fiscal.
O que não pode é o brasileiro perder a sua capacidade de se indignar. Não é possível aceitar que sonegação, falta de arrecadação, corrupção, crime organizado, tráfico de drogas, sejam fenômenos normais, com os quais devamos conviver. Reajamos, gente boa!
*José Renato Nalini é
Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e
Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo.
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