Goleiro do Cruzeiro relata recusa de escolas em receber a filha com TEA; caso reacende debate sobre desafios da inclusão na educação básica no Brasil
O desabafo do goleiro Cássio, do Cruzeiro, ao relatar a dificuldade de matricular sua filha Maria Luiza, de 7 anos, diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA), em escolas particulares de Belo Horizonte, reacendeu um debate urgente sobre inclusão escolar no país. A fala, publicada nas redes sociais na sexta-feira (21/8), repercutiu amplamente e expôs uma realidade enfrentada por milhares de famílias brasileiras.
Segundo o atleta, a recusa não foi por falta de vagas, mas pela ausência de preparo das instituições para receber sua filha. “Não estavam prontas para acolhê-la”, afirmou. A situação gerou comoção e levantou questionamentos sobre o cumprimento da legislação e o preparo das escolas para lidar com estudantes neurodivergentes.
Dados do Censo Escolar 2024, divulgados pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), mostram que o número de alunos com TEA matriculados na educação básica cresceu 44,4% em relação ao ano anterior, passando de 636.202 para 918.877. O total de matrículas de estudantes da educação especial chegou a 2,1 milhões em 2024, um aumento de 17,2% em relação a 2023.
Ainda segundo o Inep, o percentual de alunos com deficiência incluídos em turmas regulares na faixa etária de 4 a 17 anos subiu de 93,2%, em 2020, para 95,7% em 2024.
Apesar dos avanços quantitativos, especialistas alertam que a presença em sala de aula não significa, necessariamente, inclusão de fato.
“A recusa de matrícula, embora proibida por lei, ainda ocorre de forma disfarçada. Muitas escolas não sabem como adaptar seu espaço e sua prática pedagógica para atender adequadamente alunos com TEA”, afirma Alessandra Freitas, especialista em aprendizagem e alfabetização e fundadora do Eduka Todos.
A inclusão que vai além da matrícula
Com atuação em todo o Brasil, o Eduka Todos nasceu para apoiar escolas, professores e famílias na construção de ambientes realmente inclusivos. A plataforma oferece formações práticas, estratégias adaptadas e ferramentas de apoio para lidar com os desafios da educação de alunos neurodivergentes.
“No Eduka Todos, acreditamos na transformação por meio da inclusão, da educação e do apoio contínuo às famílias e aos profissionais. Trabalhamos para empoderar mães, capacitar professores e construir um futuro mais justo para todos”, explica Alessandra.
“Não basta dizer que a escola é inclusiva. É preciso saber como ser. Oferecemos um método claro e acessível para que instituições superem barreiras e avancem de forma concreta”, complementa.
Minas Gerais: estrutura cresce, mas práticas ainda enfrentam desafios
Minas Gerais tem registrado avanços em políticas de educação inclusiva. A rede estadual atende cerca de 50 mil estudantes com deficiência, entre eles crianças e adolescentes com TEA. Segundo a Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais, há mais de 1.480 salas de recursos multifuncionais distribuídas pelo estado, além de 47 Centros de Referência em Educação Especial Inclusiva (CREIs), um por Superintendência Regional de Ensino.
Em Belo Horizonte, algumas escolas estaduais têm se destacado por boas práticas inclusivas. É o caso da EE Laura das Chagas Ferreira e da EE Alberto Delpino, que vêm implementando reformas e recursos pedagógicos adaptados.
Apesar disso, Alessandra ressalta que a realidade ainda é desigual, sobretudo entre as redes pública e privada.
“O caso do Cássio é emblemático, mas está longe de ser isolado. Escuto relatos semelhantes todos os dias, principalmente de mães. Mas também vejo, na prática, que é possível transformar esse cenário com formação adequada, planejamento e intencionalidade pedagógica.”
Iniciativas legislativas e o papel da sociedade
Na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, tramita o Projeto de Lei 750/2019, que propõe campanhas de conscientização sobre a inclusão de pessoas com deficiência e TEA em escolas públicas e privadas. A proposta busca fortalecer a cultura da inclusão no ambiente escolar e combater o capacitismo institucional (Fonte: almg.gov.br).
Para Alessandra, a repercussão do caso é uma oportunidade para gerar mudanças estruturais:
“A fala de uma figura pública deu visibilidade a uma dor que muitas famílias enfrentam em silêncio. Precisamos aproveitar essa janela para avançar em políticas públicas, cobrar a aplicação da lei e, acima de tudo, mudar a cultura escolar. Inclusão é um direito, não um favor.”
Sobre Alessandra Freitas
Alessandra Freitas é especialista em aprendizagem e alfabetização, com foco em educação inclusiva e desenvolvimento de estratégias pedagógicas para crianças com autismo. Fundadora do Eduka Todos, já impactou milhares de famílias, escolas e educadores com formações práticas e soluções acessíveis para a construção de ambientes escolares mais justos e inclusivos.
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