Carta do Leitor: Saúde Emocional e Mental na Advocacia: Um Tema Urgente Para Profissionais do Direito
Pesquisas nacionais e internacionais revelam que o estresse e a ansiedade já afetam grande parte dos advogados, tornando a saúde mental um desafio urgente para a profissão.
Por Rômulo Terminelis da Silva
O levantamento realizado pela OAB-SP (2022) revelou que mais de 70% dos advogados entrevistados relataram sintomas de ansiedade e estresse relacionados ao trabalho. Em escala internacional, a International Bar Association (IBA, 2021) apontou que 41% dos profissionais do direito já enfrentaram problemas emocionais sérios, e 32% chegaram a considerar abandonar a carreira devido ao desgaste. Esses dados evidenciam um cenário alarmante, em que a saúde mental dos advogados passa a ser uma preocupação central, não somente individual, mas institucional. Segundo Santos (2020), o estresse crônico no ambiente jurídico está associado à sobrecarga de responsabilidades, às cobranças externas e internas e à cultura de hiperprodutividade.
As causas desse fenômeno podem ser múltiplas. A rotina intensa, marcada por prazos exíguos, competitividade e alta carga processual, contribui para o esgotamento físico e psíquico. De acordo com Lima e Rocha (2021), o ambiente de litígio constante expõe o advogado a níveis elevados de tensão, que tendem a se agravar pela falta de tempo para lazer, descanso e convivência familiar. Além disso, a precarização do mercado jurídico, somada à pressão pela atualização contínua e à busca por resultados rápidos, reforça sentimentos de inadequação e insegurança profissional. Nesse contexto, o burnout — já reconhecido pela OMS como fenômeno ocupacional — emerge como risco concreto na advocacia.
Para enfrentar tal cenário, torna-se necessário investir em políticas institucionais que priorizem o bem-estar psicológico dos profissionais do direito. Iniciativas como programas de acolhimento, acompanhamento psicológico, incentivo a práticas esportivas e campanhas de conscientização podem mitigar os efeitos do estresse e da ansiedade. Conforme aponta Oliveira (2022), ambientes de trabalho que promovem saúde mental não apenas reduzem índices de adoecimento, mas também aumentam a produtividade e a qualidade dos serviços prestados. Assim, torna-se imprescindível superar a lógica da exaustão como sinônimo de comprometimento profissional.
Outro aspecto relevante está ligado à formação acadêmica. Segundo Martins (2019), a formação jurídica no Brasil ainda privilegia conteúdos técnicos em detrimento de competências socioemocionais, o que dificulta que os futuros advogados desenvolvam estratégias de enfrentamento ao estresse. A inclusão de temas como inteligência emocional, autocuidado e gestão do tempo em currículos e cursos de capacitação poderia preparar melhor os profissionais para lidar com os desafios da prática. Além disso, os órgãos de classe, como a OAB, podem desempenhar papel fundamental na promoção de debates e iniciativas voltadas à saúde mental.
Em síntese, a saúde emocional e mental na advocacia constitui um tema urgente e inadiável. O estigma de fragilidade associado à busca por apoio psicológico precisa ser superado, abrindo espaço para uma advocacia mais humana, sustentável e eficiente. Como enfatiza Barros (2020), “cuidar da saúde mental dos profissionais do direito é cuidar da própria justiça”, pois somente advogados emocionalmente equilibrados poderão exercer plenamente sua função social. Dessa forma, pensar em estratégias preventivas e interventivas para preservar o bem-estar dos advogados é também fortalecer o sistema jurídico e a sociedade como um todo.
Rômulo Terminelis da Silva é pós-doutorando em Neurociências pela Logos University, em Paris, França. Possui ampla formação acadêmica, com Doutorado em Educação pela Logos University Internacional (Unilogos) em parceria com a Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Doutorado em Psicologia Clínica pela FACISA/UPE e Ph.D. em Psicologia da Saúde pela Université des Sciences de l’Homme de Paris (ULSHP). Além disso, é psicanalista clínico (CBPC 2022-4040), neuropsicólogo, neurocientista da aprendizagem e neurocientista clínico. Atua como Professor Titular e Associado da Logos University Internacional (Unilogos) e também integra o Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE/Unilogos) na mesma instituição. É professor da Universidade Estadual de Roraima (UERR) e dedica-se ao ensino, pesquisa e orientação acadêmica, com ênfase nos campos da psicologia, neurociências e educação. Contato: drromuloterminelis@hotmail.com
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