A esperança não decepciona



Pe. Dr. Telmo José Amaral de Figueiredo
Assessor da Comissão Bíblica Diocesana – Jales (SP)


 Há 54 anos, a Igreja Católica, no Brasil, vem celebrando em setembro, o Mês da Bíblia. Essa é uma oportunidade para que os cristãos se familiarizem mais com as Sagradas Escrituras, estudando, refletindo e orando à luz de um dos livros bíblicos. Os livros do Antigo e Novo Testamentos se revezam como livro-tema desses Mês da Bíblia. Neste ano, é a vez da Carta aos Romanos, atribuída a São Paulo, que se encontra no Novo Testamento, ser o livro bíblico a merecer nossa atenção.

Essa escolha foi motivada pela realização, em 2025, do Ano Santo Jubilar convocado pelo saudoso Papa Francisco, sob o tema: “Peregrinos de Esperança”, inspirado em Romanos 5,5: “a esperança não decepciona”. De fato, mostrou-se muito oportuna essa escolha da Carta aos Romanos, pois ela é um escrito dirigido a uma Igreja que vive em clima de polarização entre cristãos mais adeptos da cultura religiosa judaica e cristãos que não concordam com a preservação de vários costumes provenientes do judaísmo que não constituem a essência de sua fé, são os cristãos mais de origem gentílica. Sem nos esquecermos que a comunidade cristã de Roma vivia em uma sociedade muito hostil aos seus hábitos, uma vez que não praticava a adesão aos ídolos venerados e adorados pelos romanos. Os governantes romanos, também, não se mostravam muito tolerantes com esse grupo que, apesar de pequeno, era determinado e fiel aos seus princípios e valores.

Portanto, quando a Carta aos Romanos fala de “esperança”, ela não está se referindo a um sentimento vago e superficial de alimentarmos bons propósitos e expectativas sobre o nosso futuro. São Paulo é bem claro e explícito ao afirmar: “... pois nos gloriamos também de nossas tribulações, sabendo que a tribulação gera a perseverança, a perseverança leva a uma fidelidade comprovada, e a fidelidade comprovada desabrocha em esperança” (Rm 5,3-4). Trata-se de uma esperança em meio à tribulação, ao sofrimento, à perseguição, à incompreensão. Um teólogo do século XX nos ajuda a compreender de que tipo de esperança se fala na Carta aos Romanos, nos referimos a Dietrich Bonhoeffer (1906-1945), pastor luterano, membro da resistência alemã antinazista, que morreu enforcado pelo nazismo que combatia. Para ele, a esperança é a confiança ativa e responsável na vinda iminente de Deus, que se manifesta não em um ideal distante, mas na ação concreta e amorosa no mundo presente, especialmente ao serviço do próximo e em meio às dificuldades.

Desse modo, a esperança é fruto de uma vivência cristã coerente que não teme as adversidades, as aflições, as opiniões contrárias, mas é fiel a Deus que se faz presente em cada um de nós pelo seu amor “derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5). E esse amor comunicado por Deus a nós deve transbordar em ações concretas, amorosas em favor dos outros, especialmente, dos mais necessitados e desprezados pela sociedade. Bonhoeffer conecta essa esperança à “graça custosa”, que exige uma vida de discipulado radical, marcada pelo sacrifício e pela solidariedade com o sofrimento dos outros, em vez de uma “graça barata” que justifica o pecado sem transformar o pecador.

Celebrar o Ano Jubilar de 2025 e vivenciar o Mês da Bíblia deste ano é, por conseguinte, estarmos dispostos e dispostas a observar o que São Paulo nos diz em Romanos capítulo 12, versículo 2: “Não se deixem modelar por este mundo, mas transformai-vos pela renovação da mente, a fim de distinguir o que é da vontade de Deus: o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito”. As pessoas de autêntica e verdadeira fé, ao invés de se preocuparem e se ocuparem em agradar e seguir seus ídolos deste mundo % políticos, artistas, esportistas, influencers etc. % devem se empenhar em discernir o que, de verdade, Deus quer para nós, ou seja, o amor, a justiça, a misericórdia, a paz, o perdão, enfim, uma vida fraterna e feliz para todos, não apenas para alguns.

Vamos nos lançar com muita vontade e determinação na leitura, estudo e reflexão da Carta aos Romanos. Com certeza, não nos decepcionaremos!

Comentários