*José Renato Nalini
A sociedade caminha para sua
extinção, aparentemente sem se dar conta do que isso significa. Os alertas
começaram na década de setenta do século passado. Cientistas hoje lamentam sua
timidez e conservadorismo ao não abusarem do catastrofismo. As mudanças
climáticas se converteram nas emergências que hoje o mundo inteiro não sabe
como enfrentar.
A minha geração, quase toda ela,
muito hipócrita e negligente, folclorizou o ambientalismo, tachou os
ecologistas de “ETs”, disseminou a ideia de que o planeta sempre atravessou
ciclos de alterações e subsistiu. Não entende, até agora, que não é o planeta que
corre risco. Ele continuará, como discreto e obscuro corpo celeste. Quem está
ameaçado de sucumbir é a vida. Principalmente a humana.
Há quem sustente ainda existir uma
tábua de salvação. Ela depende de uma coesão universal, a conscientização
coletiva dos bilhões de humanos que continuam a se comportar como se nada
pudesse acontecer para acabar com a farra do consumismo.
Poucos os seres sensíveis que
enxergam a realidade e que se mostram angustiados, aflitos e até desesperados.
Os que puderam fazer algo para coibir a insensatez foram os artistas. Sua
ligação íntima com a transcendência os torna suscetíveis de reações insólitas. Um
nome a ser cultuado é o de Frans Krajcberg, (1921-2017), um amigo de verdade do
verde. Nos anos 1980, ele percorreu a floresta amazônica na região do rio
Juruena, em Mato Grosso. Apanhava os troncos carbonizados pelo fogo e os
convertia em obras de arte. O seu intuito era emocionar quem se defrontasse com
aquelas parcelas da natureza vitimadas pela sanha dendroclasta do bicho-homem.
Seu processo criativo era gêmeo
univitelino da natureza. Ele sempre repetia: “Gosto mais de árvores que de
pessoas”. Ele sabia que os humanos foram capazes de exterminar semelhantes,
pois era judeu polonês, teve a família vitimada no horror da Segunda Guerra
Mundial e associava os incêndios florestais que viu no Brasil, à carnificina
dos nazistas.
Sua vida foi retratada num livro de
João Meirelles, cujo título emprestei para esta reflexão que o reverencia como
artista e visionário.
*José Renato Nalini é
Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e
Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo.

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