*José Renato Nalini
Os brasileiros já se acostumaram a
falar em “refil”, aportuguesamento do verbete inglês “refill”, que significa o
conteúdo a ser substituído em recipientes que não precisam ser descartados.
Só que para pessoas, não é possível
operar essa substituição. Penso nas mortes recentes do Papa Francisco e de
Sebastião Salgado. Quem os substituirá? São pessoas insubstituíveis.
O Papa morreu triste, por não ter
conseguido a paz entre Rússia e Ucrânia, Hamas e Israel e no Sudão. Mas ele
tentou. Viajou a lugar de conflitos, encetou toda a sua autoridade para pedir
juízo aos beligerantes. Não adiantou.
Sebastião Salgado enfrentou lutas
diversas. Eternizou, na criatividade mágica da fotografia, imagens que
evidenciaram os maus tratos infligidos à natureza e aos humanos que a integram.
Não se cuida de assunto distinto: seres humanos vivendo em condições indignas e
o resultado da relação conflituosa entre humanidade e natureza.
De tanto fotografar misérias, era um
pessimista em relação à humanidade. Mas um otimista quanto ao planeta.
Afirmava: “O planeta vai se recuperar. Está cada vez mais fácil para o planeta
nos eliminar”. É isso que a maior parte dos ditos eruditos, dos cultos, dos
poderosos, tem negligenciado: não é o planeta que corre perigo. É a humanidade,
que não soube cuidar dele e já está pagando o preço por isso.
Duas pessoas éticas e resistentes. Eram
vozes respeitadas. A serenidade e mansidão do Papa, que sabia provocar os
fariseus, “esta raça de víboras” que continua a se espraiar pelo mundo. E a
força das fotografias de Sebastião. Ambos deixam legado. Francisco, ao publicar
a Encíclica “Laudato Si”, fez mais pela natureza do que muitos outros, bons no
discurso, mas medíocres na prática. Sebastião e sua mulher Lélia vivenciaram a
ética ambiental, com a fundação do Instituto Terra em Aimorés, Minas. Referência
internacional em restauração ambiental.
Sebastião fotografou em branco e
preto, mas na vida real, venerava o verde. Fazem falta e continuarão a fazer,
Bergoglio e Salgado. Para gente desse quilate, não há nem haverá refil.
*José Renato Nalini é
Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e
Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo.
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