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BI. Imagem referencial. | Dzelat/Shutterstock |
23 de jul de 2025 às 15:27
A agência do FBI de Richmond, Virgínia, EUA, espionou um padre que se recusou a informar conversas privadas que teve com um paroquiano que estava se convertendo ao catolicismo, segundo um relatório publicado ontem (22) pelo comitê judiciário da Câmara dos EUA.
Segundo o relatório, o Federal Bureau of Investigations (FBI) a polícia federal americana investigou os antecedentes do padre, monitorou suas viagens e analisou informações do seu cartão de crédito. A investigação teria sido iniciada porque o padre disse que precisaria falar com seus superiores e com um advogado antes de responder às perguntas feitas a ele por um agente do FBI sobre um paroquiano.
“Parecia não haver nenhum propósito legítimo da parte da polícia para investigar esse padre”, diz o relatório. “Essas novas informações sugerem que os abusos à liberdade religiosa cometidos pelo FBI foram mais generalizados do que o FBI inicialmente admitiu e levou o público a crer”.
O relatório, fornecido à CNA, agência em inglês do grupo EWTN, pelo gabinete de Jim Jordan, deputado do Estado de Ohio, do Partido Republicano, dá mais detalhes sobre até que ponto o FBI investigou os chamados católicos “tradicionalistas radicais”.
A investigação do FBI sobre supostos laços católicos "tradicionalistas radicais" com "o movimento nacional branco de extrema direita" foi revelada ao público pela primeira vez por meio de um relatório do escritório do FBI em Richmond vazado em fevereiro de 2023.
Embora o FBI tenha repudiado o documento quando ele veio à tona e dito que ele era um produto único de uma única agência de campo, informações reveladas pelo comitê judiciário da Câmara dos EUA mostram que as investigações sobre católicos foram mais abrangentes e que a sede nacional do FBI nos EUA estava envolvida.
No relatório, o comitê diz que o escritório do FBI de Richmond estava trabalhando com a sede nacional do FBI para desenvolver um documento abrangente sobre católicos "tradicionalistas radicais", que acabou sendo arquivado. A sede e outros escritórios de campo também se coordenaram com a investigação do escritório do FBI de Richmond sobre o padre mencionado anteriormente.
O relatório do FBI de 2023 usou a definição de catolicismo "tradicionalista radical" do Southern Poverty Law Center (SPLC), uma organização não-governamental de esquerda. O novo relatório do comitê diz que o escritório de Richmond se baseou em "vários materiais antirreligiosos radicais" de organizações que "propagaram ideologia radical e de esquerda" além do SPLC.
A CNA entrou em contato com o FBI, mas não teve resposta até o momento da publicação desta matéria.
Espionando um padre católico
E-mails descobertos pelo comitê mostram que o escritório do FBI de Richmond supostamente coordenou a investigação com a Divisão Antiterrorismo do FBI em nível nacional, com o escritório de campo do FBI em Louisville, Kentucky, e com o escritório de campo internacional do FBI em Londres na investigação do padre da região de Richmond que pertence à Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX).
A FSSPX é uma fraternidade sacerdotal católica tradicionalista que tem um status canônico irregular junto à Igreja. Seus bispos foram excomungados em 1988, embora essa ordem tenha sido revogada em 2009.
Quando o funcionário do FBI perguntou ao padre se o paroquiano havia falado sobre "desejos e planos de cometer violência", o padre "ficou muito desconfortável e começou a gaguejar incoerentemente", segundo um e-mail que o funcionário enviou à unidade antiterrorismo.
O e-mail dizia que o padre "solicitou falar com a liderança e os advogados da igreja" antes de prosseguir. O e-mail dizia que o padre então "se recusou a falar mais conosco, mas continuou a falar com [o paroquiano] enquanto estava na prisão, e até tentou visitá-lo".
O funcionário do FBI disse incorretamente no e-mail que as comunicações do padre com o paroquiano "não eram consideradas privilegiadas" porque ele "não havia completado sua catequese nem sido batizado na Igreja". A legislação do Estado da Virgínia protege o privilégio padre-penitente para qualquer comunicação confidencial com um membro do clero relacionada a "aconselhamento e orientação espiritual".
“O privilégio padre-penitente protege, com razão, as comunicações entre um membro do clero e um indivíduo que busca orientação espiritual”, diz o relatório. “Isso não depende de o indivíduo atingir determinados marcos em sua vida espiritual”.
Em resposta à recusa do padre em revelar informações confidenciais, o escritório do FBI de Richmond abriu uma "avaliação investigativa formal" sobre o padre. Nisso, há uma análise do histórico de ordenação do padre e a coordenação com o escritório do FBI em Londres para monitorar sua viagem ao Reino Unido.
Em comunicações por e-mail, funcionários do FBI discutiram a localização do padre, seus planos de viagem e informações sobre seu cartão de crédito. O funcionário do escritório do FBI de Richmond também buscou informações de outros agentes sobre a FSSPX em geral.
“Essas novas informações demonstram que o FBI não só usou seus recursos de aplicação da lei federal para vigiar certos católicos americanos, mas também usou esses recursos para investigar um membro do clero”, diz o relatório.
FBI e 'católicos tradicionais radicais'
O novo relatório do comitê também detalha resumos do escritório do FBI de Richmond sobre católicos tradicionalistas e as fontes questionáveis de onde eles tiraram suas preocupações.
Um documento oficial de apresentação do escritório do FBI em Richmond, intitulado Visão geral do catolicismo tradicionalista, discutiu a “ideologia e as crenças centrais” dos católicos tradicionalistas e o que eles veem como “catolicismo radical-tradicionalista”, que o escritório abrevia como RTC.
Alguns “conceitos centrais” do catolicismo tradicionalista, segundo a apresentação do escritório do FBI em Richmond, são a missa tradicional em latim, “valores/papéis familiares conservadores”, uma “rejeição da modernidade” e uma “tendência ao isolacionismo”.
Para o escritório do FBI de Richmond, o “catolicismo radical-tradicionalista” inclui a “crença de que o catolicismo comum é ilegítimo” e “posições de linha-dura sobre aborto, questões LGBTQ e diálogo inter-religioso”.
O escritório também supostamente inclui “tons apocalípticos”, “fundamentalismo rígido [e] integrismo” e um “tom de antissemitismo”.
Algumas das fontes citadas pelos analistas do FBI em relação às suas preocupações são um artigo na revista The Atlantic intitulado “How Extremist Gun Culture Is Trying to Co-opt the Rosary” (Como a cultura armamentista radical está tentando cooptar o rosário) e outro artigo na revista Sojourners intitulado “The Catholic Church Has a Visible White-Power Faction” (A Igreja Católica tem uma facção visível de poder para os brancos).
O relatório diz que algumas das fontes menosprezam os católicos e o movimento pró-vida. No artigo da Atlantic, o autor diz que “a convergência dentro do nacionalismo cristão se cimenta em causas comuns, como a hostilidade contra os defensores do direito ao aborto”.
“Os analistas do FBI que desenvolveram o memorando de Richmond basearam-se em literatura com um preconceito inerente contra pessoas de fé e aquelas com visões amplamente difundidas e profundamente pessoais sobre a santidade da vida”, diz o relatório.
Funcionários do escritório do FBI de Richmond também trabalharam com a sede nacional do FBI para desenvolver um "Relatório Analítico Executivo de Perspectiva Estratégica" para uso externo. O relatório diz que o escritório do FBI de Richmond interagiu com o escritório nacional do FBI nos EUA sobre a possibilidade já em dezembro de 2022, apenas um mês depois do escritório de Richmond começar a produzir o memorando, agora retratado. Por fim, esse projeto foi por causa da divulgação do memorando de Richmond.
O relatório diz que Kash Patel, o atual diretor do FBI, indicado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, forneceu os documentos ao comitê. O relatório acusou o governo Biden e Christopher Wray, ex-diretor do FBI, de ocultar informações do público e enganar o Congresso dos EUA sobre a extensão da investigação sobre católicos.
“Sob o governo Biden-Harris, o FBI desrespeitou e potencialmente violou as liberdades religiosas constitucionalmente protegidas dos fiéis americanos”, diz o relatório. “O governo Biden-Harris se recusou a fornecer informações relevantes ao comitê”.
Jordan disse à CNA que os legisladores "sabiam que o FBI Biden-Wray estava mirando os católicos, mas novos documentos obtidos pelo comitê — graças à liderança do diretor do FBI Patel — mostram que isso era pior do que qualquer um pensava".
“Ao contrário das declarações do diretor Wray, a perseguição aos católicos foi além do escritório de Richmond e se estendeu não só aos escritórios em todo o país, mas ao redor do mundo”, disse Jordan.
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