Em São José do Rio Preto, ampla oferta de carreiras colabora para formação diferenciada do estudante da Unesp
Com quase 60 anos de existência, Ibilce oferece cursos em todas as áreas do conhecimento e já formou mais de dez mil profissionais, além de colaborar com pesquisas de impacto na região
Eliete Soares / ACI Unesp
Uma “minicidade universitária”. É neste tom de brincadeira que alguns professores definem o Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, o Ibilce. A comparação faz sentido: a unidade da Unesp na cidade de São José do Rio Preto abriga cursos em todas as grandes áreas do conhecimento, promovendo interdisciplinaridade e troca de saberes fundamentais para a formação do estudante universitário.
O Ibilce nasceu em 1955, como Universidade Municipal de São José do Rio Preto (Umurp). Em 1959, transformou-se na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (Fafi) e, em 1976, foi incorporada à Unesp, tornando-se assim Ibilce. A comunidade do Instituto hoje é formada por aproximadamente 200 professores, 200 servidores técnico-administrativos, 1.800 alunos de graduação e 800 de pós-graduação. Ao longo dos seus quase 60 anos de existência, mais de dez mil alunos de graduação foram formados na unidade universitária.
O Ibilce oferece cursos de graduação em Ciência da Computação, Ciências Biológicas (bacharelado e licenciatura), Engenharia de Alimentos, Física (bacharelado e licenciatura), Letras, Letras-Tradução, Matemática (bacharelado e licenciatura), Pedagogia e Química (bacharelado e licenciatura). A unidade mantém também 12 programas de pós-graduação, que são uma oportunidade para que o estudante complemente a sua formação, aprofunde pesquisas e continue vivenciando o ambiente acadêmico.
“Além do ensino e da pesquisa, o câmpus abriga atividades culturais, esportivas e de convivência que o transformam em uma 'minicidade'. Esse é um dos motivos que torna esse espaço tão acolhedor para os alunos”, afirma Liliane Cristina Campreguer, diretora da Divisão Técnica Administrativa da unidade.
Para o professor Fernando Barbosa Noll, diretor do Ibilce, o Instituto, assim como as demais unidades da Unesp, destaca-se pela dedicação exclusiva de seus docentes, isto é, eles não exercem atividades remuneradas em outros lugares, a exceção de algumas situações previstas em lei. Nesta cidade universitária unespiana de São José do Rio Preto, os docentes ensinam os temas sobre os quais pesquisam, transferindo para a sala de aula o que existe de mais avançado em cada área. O resultado deste regime de trabalho é que os alunos acabam aprendendo sobre o que está na fronteira do conhecimento.
“A dedicação exclusiva é um dos fatores que nos permite ter excelência no ensino, na pesquisa e na extensão. Além disso, temos excelentes laboratórios de pesquisa, uma licenciatura muito forte e estamos desenvolvendo muito a extensão nos últimos anos”, destaca Fernando Noll.
O investimento no ensino não se restringe ao ambiente do câmpus ou às salas de aula. Inclui também visitas externas e excursões didáticas. Noll destaca, por exemplo, as visitas ao litoral paulista que os estudantes da disciplina de Biologia Marinha fazem ao longo do ano letivo. “As direções do Ibilce sempre aplicaram adequadamente recursos para excursões didáticas. Frequentemente, algum aluno relata que aquela foi a primeira oportunidade que ele teve de ver o mar. Acredito que todo dinheiro investido em educação é um recurso bem aplicado”, afirma o diretor.
O professor Arif Cais é voluntário no Ibilce e uma daquelas pessoas que personificam a história do Instituto. Está na instituição desde 1958, quando entrou na faculdade como aluno. Depois de formado, permaneceu no Instituto como professor e, mesmo aposentado, atua até hoje nas salas de aula da cidade universitária rio-pretana. “Eu acho que um dos nossos pontos fortes é a formação. Nós recebemos da sociedade um estudante e, quando ele deixa o Ibilce, é um profissional bem formado. Quando olhamos a trajetória dos nossos ex-alunos, observamos profissionais atuando em empresas e universidades pelo país e fora dele”, afirma Arif Cais.
De acordo com os docentes da unidade universitária, a taxa de empregabilidade dos egressos é alta, em empresas dos mais diversos segmentos.
Integração com a comunidade externa
Para além dos muros da unidade, o Ibilce também desenvolve uma série de projetos de extensão universitária, os quais ajudam a aproximar o cotidiano acadêmico da comunidade de São José do Rio Preto. Existem atividades envolvendo música e coral, artes cênicas e teatro, mostra de cinema e a Universidade Aberta à Terceira Idade (Unati), que incentiva o acesso do idoso ao meio universitário e possibilita a ele uma troca de experiências e a aquisição de novos conhecimentos.
Entre as diversas atividades de extensão, outro destaque é o Centro de Línguas, que abre vagas para estudantes, funcionários da Unesp e para a comunidade externa. Nele, os estudantes matriculados podem aprender alemão, espanhol, francês, inglês e italiano, além de um importante serviço de acolhimento para os imigrantes, que é o Português para Estrangeiros, oferecido com emissão de certificado.
A população também conta com os cursinhos Atlas, Vitoriano e Episteme, espaços de ensino em que os próprios graduandos lecionam voluntariamente e estão abertos para alunos que se preparam para o vestibular ou para concursos públicos. “Os estudantes do Ibilce são voluntários que trabalham na organização, na gestão e no ensino das disciplinas. Então, de certa forma, o projeto também é uma formação para eles”, explica a professora Monica Abrantes Galindo, vice-diretora da unidade. ”Com o projeto, também preparamos os alunos da cidade e da região para fazer exames, permitindo a eles acessarem outras universidades, não apenas o Ibilce”, diz.
Galindo reforça a importância de se valorizar a educação, um tema que guarda relação direta com a Unesp em função da atuação da Universidade na formação de professores, por meio de seus cursos de licenciatura, alguns deles oferecidos no Ibilce. “Muitos dos alunos chegam aos nossos cursos com o sonho de ir para a sala de aula. Eu gosto da frase do (educador) Paulo Freire em que ele fala que a educação não muda tudo sozinha, mas sem ela não existe mudança”, afirma a vice-diretora.
Ciência com impacto local
Com linhas de pesquisas consolidadas, os programas de pós-graduação oferecem aos alunos a oportunidade de dar continuidade à sua formação acadêmica. A excelência de alguns desses programas faz com que o Ibilce “exporte” pesquisadores para todo o Brasil.
“Aqui no Instituto nós temos trabalhos sobre doenças com diferentes abordagens, além de estudos em bioenergia. A área de Engenharia de Alimentos desenvolve uma série de pesquisas diretamente envolvidas com a qualidade e a maneira com a qual os alimentos são processados, enquanto na Ciências da Computação os trabalhos ultimamente têm dado muito foco à inteligência artificial”, exemplifica o professor Noll.
O diretor destaca ainda que, frequentemente, as pesquisas desenvolvidas nos laboratórios do Instituto ganham projeção nacional, com destaque em grandes veículos jornalísticos do Brasil. Esse foi o caso de um gel aplicado para o tratamento de queimaduras, um dos produtos desenvolvidos nos laboratórios do Instituto com potencial de chegar à população e causar impacto positivo na vida das pessoas.
Na área de Linguística, o Ibilce organiza eventos acadêmicos e científicos que atraem estudiosos de outras partes do país, além de figurar como um importante polo de produção de conhecimento na área, com trabalhos sobre meios de comunicação contemporâneos, como as redes sociais.
Outra área em que a unidade universitária possui expertise comprovada são os estudos sobre biodiversidade, ecologia e impactos ambientais. É comum que gestores públicos consultem especialistas do Instituto antes de tomar decisão diante de alguma questão ambiental colocada para a região. São José do Rio Preto e o oeste paulista como um todo costumam ser afetados por queimadas, um problema que tende a aumentar em função da maior frequência de períodos prolongados de estiagem.
O diretor Noll pontua que existe na Universidade uma liberdade para o estudo de linhas de pesquisas, o que dá fôlego para a pesquisa básica e permite aos docentes investigar questões que não necessariamente estão no radar de interesses econômicos imediatistas. Amplia-se ou aprofunda-se assim o conhecimento de um determinado tema sem necessariamente uma aplicação prática no horizonte. Galindo cita como exemplo uma pesquisa que abordou aspectos alimentares de uma doença negligenciada. “Foi um trabalho de originalidade que abordou uma questão de cunho social. Não havia trabalhos no Brasil ou no exterior sobre este problema”, destaca a vice-diretora.
Conhecimento muda a percepção do cidadão
A busca pelo conhecimento, seja ciência básica ou aplicada, frequentemente produz resultados palpáveis. O professor Arif Cais lembra de uma atuação específica dos pesquisadores do Ibilce que impactou a cidade. Há algumas décadas, grupos de andorinhas começaram a se estabelecer no centro de São José do Rio Preto. As aves faziam muita sujeira e passaram a incomodar quem frequentava o local. Uma pesquisa multicêntrica com a participação de docentes do Ibilce recebeu investimento de diversas empresas da região para tentar entender o fluxo migratório dessas aves e conseguiu identificar que as andorinhas comiam muitos insetos, inclusive em áreas de plantio no entorno da cidade, o que reduzia a população de insetos e ajudava a cidade a ficar livre dessas pragas. Diante da evidência científica, mudou a percepção das pessoas: os moradores da cidade, que anteriormente queriam uma solução para a presença das aves, passaram a defendê-las.
“A história ganhou repercussão na região e virou reportagem de jornal. Os pesquisadores descobriram que aquelas andorinhas nasciam nos Estados Unidos e depois vinham para São José do Rio Preto”, afirma Arif Cais, que lembra de outro estudo que marcou época, o desenvolvimento de um produto para controlar um ácaro que prejudicava os seringais. “Veja que tudo começa com a pesquisa básica”, pontua o professor.
Análises que cabem à Comissão de Ética em Pesquisa e à Comissão de Ética no Uso de Animais podem ser feitas no próprio câmpus, dando à unidade a infraestrutura necessária para o bom andamento dos projetos de pesquisa. “Isso contribui muito com a pesquisa dos nossos docentes e dos nossos alunos. Analisamos não só as pesquisas que vão ser desenvolvidas aqui, mas também projetos de outras instituições”, afirma a servidora Liliane Campreguer.
O Instituto abriga cinco coleções biológicas para fins didáticos e de pesquisa. “É como se fosse uma biblioteca de seres vivos. Essas coleções são referência no Brasil e na América do Sul e são extremamente importantes para alunos e pesquisadores”, argumenta Noll. O professor explica que é necessário um investimento milionário para se chegar a um acervo tão expressivo com ácaros, peixes, girinos e anfíbios, insetos e um herbário. “É necessário valorizar e preservar todo esse conteúdo”, diz o diretor.
No início deste ano, foi aberto à população o Museu Didático de História Natural Prof. Dr. Luiz Dino Vizzoto, que conta com expressivo acervo com mais de cem espécies de animais taxidermizados, materiais de Biologia Celular, Histologia, Biologia e Botânica. O foco do espaço está na educação ambiental e no atendimento a crianças e escolas da região de São José do Rio Preto.
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