Orgulho e memória: Cemitério da Consolação guarda a história de Andréa de Mayo, artista e mulher trans símbolo de resistência
Artista faleceu em 2000 e é a única mulher trans enterrada no local, segundo registros. Seu túmulo pode ser visitado em passeios mediados
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São Paulo recebeu este mês a 29ª edição da Parada do Orgulho LGBT+, com o tema “Envelhecer LGBT+: Memória, Resistência e Futuro”. Além de celebrar conquistas e dar visibilidade à diversidade, o período também convida à reflexão e à valorização da memória de figuras que ajudaram a construir a história da comunidade no Brasil.
Uma dessas figuras é Andréa de Mayo, artista, ativista e mulher transexual, falecida em maio de 2000 e sepultada no Cemitério da Consolação. De acordo com os registros disponíveis, Andréa é a única mulher trans, de que se tem conhecimento, enterrada no local.
A história de seu sepultamento também carrega marcas da exclusão. Quando faleceu, seu pai se recusou a realizar o enterro. Um amigo próximo, sensibilizado com a situação, disponibilizou um jazigo no Cemitério da Consolação. Posteriormente, o Serviço Funerário do Município localizou o proprietário do túmulo e viabilizou a regularização da sepultura. A lápide original foi substituída por uma nova, com o nome social de Andréa, em uma cerimônia realizada no cemitério em 17 de novembro de 2016, um ato simbólico de reconhecimento e reparação.
Andréa foi uma personalidade expressiva nas décadas de 1980 e 1990, atuando no meio artístico e na luta por direitos. Em vida, enfrentou o preconceito e defendeu o respeito às identidades de gênero com coragem e sensibilidade. Sua presença hoje no mais tradicional cemitério da capital paulista é um símbolo silencioso, mas potente, de resistência e representatividade.
“A memória da Andréa de Mayo é um marco importante da história LGBTQIAPN+ da cidade. Relembrá-la é um gesto de respeito, reparação e valorização da diversidade, que também compõe o patrimônio cultural de São Paulo”, afirma Francivaldo Gomes, mais conhecido como Popó, mediador das visitas no Cemitério da Consolação há mais de 20 anos. Popó, na época da morte de Andréa, era coveiro e participou do sepultamento da artista.
Thiago de Souza, idealizador do projeto O Que Te Assombra?, sempre faz questão de contar a história de Andréa nos passeios monitorados realizados mensalmente no Cemitério da Consolação. “Contar a história da Andréa é uma forma de manter viva a memória de uma mulher trans que desafiou o preconceito e ocupou seu espaço na arte e na sociedade”, afirma Thiago.
O túmulo de Andréa de Mayo pode ser visitado durante os passeios culturais mediados que acontecem às segundas-feiras, às 14h, e uma sexta-feira no mês no período noturno, às 19h, no Cemitério da Consolação. As visitas conduzem o público por trajetórias de personalidades que marcaram a história do país, incluindo artistas, escritores, políticos e ativistas, e agora, com destaque merecido, por uma mulher trans cuja vida ecoa como símbolo de resistência e orgulho.
Serviço
Visitas monitoradas no Cemitério da Consolação
Onde: Cemitério da Consolação (R. da Consolação, 1660 - Consolação, São Paulo).
Quanto: Grátis – Reservar ingresso no Sympla
Quando: segundas-feiras, das 14h às 16h.
Tour noturno: uma vez sexta-feira por mês também é realizado o passeio noturno no cemitério, às 19h15, uma parceria com o projeto O Que Te Assombra? E as inscrições são divulgadas no perfil @oqueteassombra. Limite de 130 pessoas.
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