![]() |
foto/divulgação |
O desvio progressivo na coluna lombar pode surgir em qualquer fase da vida, mas é mais comum durante a infância e a adolescência, justamente quando o crescimento é mais acelerado. No Brasil, a OMS estima que mais de 6 milhões de pessoas vivam com algum grau da doença, especialmente adolescentes do sexo feminino.
Embora em muitos casos a curvatura seja discreta e assintomática, a escoliose pode evoluir e provocar dor crônica, cansaço, desequilíbrio postural e dificuldades respiratórias em quadros mais graves. Além do impacto físico, o desconforto com a aparência e as limitações funcionais afetam diretamente o bem-estar emocional e a qualidade de vida, principalmente entre os mais jovens.
As causas da escoliose são variadas. A forma mais comum é a idiopática, que surge sem causa aparente e representa cerca de 80% dos casos. Também existem formas congênitas, neuromusculares (associadas a doenças como paralisia cerebral e distrofias musculares) e degenerativas. Em todas as situações, o diagnóstico precoce pode evitar a evolução da curvatura.
O neurocirurgião funcional e pesquisador da Disciplina de Neurocirurgia na Unicamp, Dr. Marcelo Valadares, alerta para a alta incidência da escoliose atualmente. “Hoje conseguimos identificar mais casos graças à ampliação do acesso a exames de imagem e ao maior conhecimento entre profissionais da atenção primária e da educação. O aumento do sedentarismo, do tempo prolongado em frente a telas e da má postura desde a infância em detrimento de uma vida ativa têm contribuído para agravar ou acelerar a percepção de assimetrias posturais”, reflete.
Diagnóstico ainda é tardio e tratamento demanda multidisciplinaridade
Especialistas como ortopedistas e neurocirurgiões são capazes de identificar o desvio com base em avaliação clínica, exames de imagem e exames específicos, como o teste de Adams. A escoliose, entretanto, é subdiagnosticada, principalmente em crianças e adolescentes, pois nem sempre causa dor nas fases iniciais e pode passar despercebida no ambiente escolar ou familiar.
O tratamento deve ser individualizado e depende da gravidade do caso, da idade do paciente e da causa da escoliose. Em crianças e adolescentes, o uso de coletes ortopédicos pode ser recomendado com o objetivo de conter a progressão da curvatura durante a fase de crescimento. Já nos casos severos ou quando há impacto importante na qualidade de vida, a cirurgia é indicada para corrigir a deformidade e estabilizar a coluna.
Entre os adultos jovens, especialmente aqueles que não foram diagnosticados na infância, o tratamento tende a priorizar a estabilização da curvatura e o alívio da dor. Para este público, fisioterapia, fortalecimento muscular, reeducação postural são indicados, além do manejo da dor, o que permite uma vida funcional e ativa mesmo com a presença da escoliose.
Em pessoas idosas, a escoliose costuma ser do tipo degenerativa, causada pelo desgaste natural das articulações e discos da coluna ao longo dos anos. Esse tipo de escoliose pode vir acompanhado de dores crônicas, rigidez, limitação de movimentos e, em alguns casos, compressão de raízes nervosas, levando a sintomas como formigamento, fraqueza ou dor irradiada para pernas. Nessa fase da vida, o tratamento cirúrgico é reservado apenas para casos muito específicos, com risco neurológico ou dor intensa que não responde ao tratamento conservador.
O tratamento da escoliose exige, ainda, abordagem multidisciplinar a fim de aliviar os sintomas apresentados, evitar complicações e preservar a funcionalidade. Fisioterapia, reeducação postural, fortalecimento muscular, e técnicas como acupuntura fazem parte do cuidado integral ao paciente. Para o controle da dor, que pode ser um sintoma frequente mesmo em curvaturas leves, pode-se recorrer a medicações analgésicas e anti-inflamatórios. O acompanhamento psicológico também pode ser indicado. “Quando a escoliose assume um caráter doloroso ou limitante, é essencial intervir com uma equipe preparada. Ao ouvir o paciente e entender suas queixas, podemos montar um plano terapêutico com estratégias conservadoras que, se bem conduzidas, são suficientes para preservar a autonomia funcional, controlar a dor e garantir qualidade de vida”, explica o neurocirurgião.
Comentários
Postar um comentário