José Renato Nalini
O único animal que sabe que vai morrer é o ser humano. Porém, é tamanho o medo de enfrentar o desconhecido, que ele prefere fazer de conta que é imortal. Isso explica a sede de poder, a ganância pelo dinheiro, a preocupação com insignificâncias. Com o nada diante do mistério da morte.
Uma das provas de que os humanos mutilam
a racionalidade de que são dotados é o que fazem com a água. Essa graça
benfazeja que garante a vida – até o corpo humano é composto de mais água do
que elementos sólidos – vem sendo fustigada e conspurcada. A ponto de vir a
desaparecer.
Amostras d’água coletadas em rios da
Mata Atlântica evidenciam que a sua qualidade caiu de nível. O percentual de
pontos monitorados do bioma classificados com qualidade péssima – a pior da
escala – subiu de 2,9% em 2023, para 3,4% nas análises de 2024. Em 2022, essa
taxa era de 1,9%.
Como explicar que o agravamento da
saúde da água, essencial para a nossa preservação, resulte em negligência
maior, para não dizer omissão dolosa, cumplicidade, conivência e desfaçatez?
A qualidade ruim é hoje 13,8%,
enquanto em 2023 era 12,1%. A maior parte de nossos rios está na condição de
qualidade regular: 75,2%, queda de 1,8% em relação a 2023. Água de qualidade
regular não pode ser consumida por animais, inclusive o considerado racional. E
o custo do tratamento dela é cada vez maior.
O triste é que na Mata Atlântica, já
não existe rio considerado de ótima qualidade. O que deveria envergonhar a
população do Estado mais desenvolvido da República, aquele que concentra a
elite brasileira. Uma população realmente civilizada, antenada com os grandes
problemas que a afligem, teria dado um “basta” há muito tempo. Mas ela
continua, em sua imensa maioria, a conviver com a falta de saneamento básico,
com o desmatamento, com o sepultamento dos córregos, com a imundície lançada a
todos os cursos d’água. Não resta muito tempo para que o caos se instaure e a
falta d’água nos impeça de sobreviver.
Cabe perguntar a todos: “Queremos
desaparecer?”.
*José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo.
https:folhanoroeste.blogspot.com/
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