
"O bom gestor, o bom parlamentar se elege com facilidade, por isso é preciso melhorar a qualidade da nossa representação política no Congresso Nacional". A avaliação é de Gilberto Kassab, presidente do PSD e secretário de Governo e Relações Institucionais do Estado de São Paulo.
Em palestra na Associação Comercial de São Paulo (ACSP) nesta sexta-feira (21/02), Kassab defendeu a proposta do voto distrital misto para o sistema eleitoral brasileiro, parada no Congresso desde 2017, mas que voltou a ser discutida agora como uma ferramenta para afastar outsiders do cenário político nacional.
No momento, destacou, está amadurecendo e na iminência de ser discutido "séria e profundamente" o Projeto de Lei (PL) 9.212/2017, atualmente na Comissão de Constituição de Justiça e de Cidadania (CCJC) da Câmara dos Deputados, que se origina do PLS 86/2017, de autoria do ex-senador e ex-governador paulista José Serra (PSDB), com ligeiras alterações
"O presidente (da Câmara) Hugo Motta já registrou sua vontade de criar uma comissão especial só para discutir esse projeto", sinalizou Kassab. O objetivo principal do voto distrital, uma das bandeiras da ACSP, é melhorar a qualidade da relação entre o eleito e seu eleitor, o que acabaria com o modelo atual das cotas partidárias, prevalecendo o voto direto.
Uma pesquisa do Instituto Datafolha dá uma ideia disso: em 2022, 64% dos eleitores não lembravam em quem votaram, e só 15% acompanhavam regularmente o seu mandato, deixando os eleitos na zona de conforto, e com pouca fiscalização de suas atividades.
Por isso a ideia, lembrou, é dividir os estados em metade distrital e proporcional, onde o eleitor escolheria o deputado de seu distrito e partidos de sua preferência, que teriam uma lista prévia de candidatos. São Paulo, por exemplo, que tem 70 deputados, seria dividido em 35 distritos, em uma lista escolhida pelos partidos em convenção, com um candidato por distrito.
"A Capital, por exemplo, teria oito distritos, e um deles seria o Centro: se há um deputado que é do Centro de São Paulo, ele vai morar aqui, vai ficar sempre aqui, na padaria, na farmácia, na estação de metrô. Ou seja, vai defender os interesses daquela região porque ele é dali, e sua votação vai ser fundamental para montar essa lista de candidatos", destacou Kassab.
Segundo ele, isso vai obrigar partidos a lançarem candidatos em todos os distritos, mesmo os derrotados, que também contam. "Assim, acabam as 'legendas de aluguel', porque o partido precisa estar estruturado no Estado inteiro, e os candidatos terem participado de eleições municipais. No médio e longo prazo, vai melhorar a qualidade da representação", acredita.

Esse cenário precisa mudar, segundo ele, e as eleições de 2024 tiveram papel preponderante para o debate do voto distrital ganhar força. Ele citou as manifestações de 2013, desencadeadas pela indignação da população a partir "de uma tarifa de ônibus", mas que na verdade tinham a ver com a insatisfação da sociedade com os rumos do país.
"As últimas eleições mostraram que essa insatisfação continua, porque os outsiders que apareceram quase ganharam. Como o (Pablo) Marçal, que quase venceu e ficou um pouco atrás do segundo colocado (Guilherme Boulos)", lembrou. "No Paraná, atrás do Ratinho Jr., foi uma jornalista (Cristina Graeml), e Fortaleza a mesma coisa, mostrando que ainda há indignação."
Mesmo assim, Kassab afirma que há um ponto positivo que a maioria não percebeu em relação àqueles que mostraram uma boa conduta, uma boa gestão. "A sociedade brasileira não tinha esse discernimento até pouco tempo atrás, mas está aprendendo a reconhecer os bons gestores, os bons políticos. Esse é um argumento irrefutável", completou.
O presidente do PSD, partido que mais elegeu prefeitos em 2024 no país, citou exemplos como o de Eduardo Leite (PSDB-RS), bem avaliado e mostrando bons resultados no Rio Grande do Sul, o prefeito Topázio Neto (PSD-SC), de Florianópolis, reeleito com 88% dos votos, e Eduardo Paes (PSD-RJ), pela quarta vez prefeito do Rio de Janeiro. E ainda, Raquel Lyra, governadora de Pernambuco, também pelo PSD, que elegeu 140 prefeitos, e Rafael Fonteles (PT-PI), "excelente governador e um gestor jovem e muito bem preparado", segundo ele.
Mas, para mostrar que "os políticos autônomos, youtubers, influenciadores e outsiders" crescem apenas quando há maus gestores, Kassab citou o que considera "cerejas do bolo": Tarcísio de Freitas, carro-chefe da eleição do prefeito de São Paulo Ricardo Nunes. Segundo Kassab, Tarcísio ajudou Nunes a enfrentar Marçal, que tem milhões de seguidores, e venceu porque é bom gestor. "O Marçal encontrou uma barreira que não conseguiu vencer: uma aprovação de 60%", disse.
ELEIÇÕES 2026
Kassab garantiu que Tarcísio não concorrerá à presidência em 2026, e afirmou que o PSD terá uma boa condição em pelo menos 18 dos 27 estados de eleger governadores, deputados federais, estaduais e senadores.
O presidente do PSD também disse estar muito otimista em São Paulo, onde seu partido elegeu 220 prefeitos e tem "uma aliança muito sólida" com Tarcísio de Freitas. Inclusive para o próximo pleito. "Em São Paulo, o caminho que Tarcísio apontar será o caminho seguido pelo PSD, a chapa que ele apoiar vai ser a chapa apoiada pelo PSD. Mas no plano nacional vamos nos esforçar para ter candidatura própria", destacou ele, que citou de novo o governador do Paraná, Ratinho Jr., e também Ronaldo Caiado (GO) como possíveis postulantes à presidência.
Além do presidente da ACSP Roberto Mateus Ordine, que deu as boas vindas ao secretário de Governo de SP, Alfredo Cotait Neto, presidente da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB) e Rogério Amato, que preside o Conselho Superior da ACSP, também participaram do debate.
IMAGENS: César Bruneli
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