Gustavo Alves Balbino, advogado e professor universitário
Após 26 anos de espera, o filme “Ainda estou aqui”, do diretor Walter Salles, concorrerá a estatueta do Oscar. A última indicação foi em 1999 com o filme “Central do Brasil”, também de Salles. No mesmo ano a atriz Fernanda Montenegro concorria a categoria de Melhor Atriz. O resultado teve derrota dupla: as estatuetas foram para o filme “A Vida É Bela” (1998), de Roberto Benigni, e para a atriz Gwyneth Paltrow (“Shakespeare apaixonado”, 1998). Até hoje há crítica a não premiação de Montenegro, por ter sido injusta.
O filme “Ainda estou aqui” é estrelado por Fernanda Torres (filha de Fernanda Montenegro, mas que carrega o sobrenome do pai, também ator Fernando Torres, já falecido). Um adendo: Fernanda Montenegro também atua no filme. Representando a velhice da personagem principal, Eunice Paiva, esposa de Rubens Paiva, político preso, torturado e morto pela Ditadura Militar. A produção é baseada na biografia de Marcelo Rubens Paiva, premiado escritor e jornalista brasileiro. Quando seu pai foi preso, Marcelo tinha apenas 11 anos.
Tanto Rubens Paiva quanto seu filho Marcelo eram cidadãos atuantes com as mazelas que o cercavam. Rubens foi sequestrado, torturado e morto em razão de ter sido encontrado cartas de militantes políticos exilados no Chile com o seu nome como destinatário. Foi levado para o DOI18 CODI do Exército do RJ para prestar depoimento. De lá nunca saiu. Por sua vez, seu filho Marcelo Rubens Paiva retrata em suas obras e entrevistas abordam temas como a defesa dos direitos humanos, a luta contra a desigualdade e a crítica a regimes autoritários. Ele é conhecido por sua abordagem crítica em relação a questões políticas e sociais no Brasil. Ambas as personalidades fizeram e fazem uma reflexão sobre a realidade local vivida. Rubens Paiva transforma a conclusão(quando há) em textos, artigos, livros que depois resultam em séries, filmes, peças de teatro.
O jornalista (que se difere de comunicador ou formador de opinião, garantido pelo texto constitucional) exerce papel essencial e primordial na sociedade contemporânea. A figura humana, ao se deparar com uma situação cotidiana do qual se indigna, pode (deve!) ficar abatido e nada fazer. Já o jornalista pode encarar aquela situação vivenciada e transformá-la em artigo, para que haja algum tipo de mudança do status a quo pelas pessoas que podem alterar o estado da coisa. É um trabalho social, de fomentar políticas públicas eficazes.
Nesse sentido era a frase “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia” de Leon Tolstói, do qual o jornalista Deonel Rosa Júnior estampava em seu ambiente de trabalho. O entendimento da frase pode ser: para entender e ajudar o mundo como um todo, você deve primeiro se concentrar em sua própria comunidade ou lugar. E essa era e foi a preocupação de Deonel. Pelo documentário “Vozes do Interior”, feito pela jornalista Marina Nossa Neto, 34 em parceria com os companheiros de projeto Diogo Campanelli, William Milaré, Mariana Leão, Fernanda Burilli e David Takaki, viabilizada pela Lei Paulo Gustavo, conclui-se que Deonel tinha essa preocupação.
Como diretor proprietário do Jornal de Jales desde 1981, foi fundador do “Fórum da Cidadania”, implantação da Casa de Cultura (anos 70/80), editor e idealizador do Projeto Memória, que contava a história de Jales por meio de testemunhos dos moradores locais e talvez mais importante, dos editoriais do rotativo denominados “Acorda Jales”, que conclamava ‘a população para assumir suas responsabilidades cidadãs’. Por último, é essencial que a atividade jornalista seja exercida de forma independente e leal aos princípios básicos da profissão. O jornalista atua como um verdadeiro cão de guarda (‘watchdog’) da sociedade, diante das injustiças e desvios que ocorrem. E isso ocorre no filme
“Guerra Civil”, estrelado por Wagner Moura e Kirsten Dunst. A personagem Jessie diz: “Nós só registramos e deixamos que os outros questionem”. Mas isso fica para outro texto.
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