Pe. Prof. Dr. Telmo
José Amaral de Figueiredo
Comissão Bíblica da
Diocese de Jales (SP)
O que fazer quando os problemas e
desafios são enormes? É possível seguir confiando em Deus diante de uma grande
tragédia que afeta toda uma nação? Que esperança pode ter um povo que foi
deportado de sua própria terra e vive no estrangeiro em meio às incertezas?
Pois bem, essas foram as grandes
questões que um profeta do Antigo Testamento colocou a si mesmo. Estamos em
setembro novamente, chegamos ao Mês da Bíblia, momento tão aguardado por toda a
Igreja Católica, no Brasil. A cada ano, escolhe-se um livro, seja do Antigo
como do Novo Testamento, para ser refletido, conhecido e meditado durante o mês
de setembro. Em 2024 o livro escolhido foi aquele do profeta Ezequiel.
Ezequiel não é um profeta como os
outros, pois ele atuou e exerceu seu ministério profético somente em terra
estrangeira, longe de seu país, longe de Judá, na Babilônia, para onde foi
exilado em 598 a.C. Isso obrigou o profeta Ezequiel a pensar Deus e a religião
de uma maneira bem diferente daquela convencional. Vejamos algumas mudanças que
esse profeta realizou na mentalidade religiosa da época:
a)
O Deus de Judá, Javé, não é mais um Deus
prisioneiro de um templo construído por mãos humanas. Ele acompanha o seu povo
exilado na Babilônia. É um Deus que está junto ao seu povo. Apesar que, aqui,
há uma questão em aberto: o que dizer da presença de Deus, na terra de Judá,
onde ficaram mais de 40.000 judeus que não foram deportados? Leia: Ezequiel
1,1.4-28; 10,1-22; 11,22-25.
b)
A aliança antiga que Deus havia realizado com o
seu povo foi quebrada devido à infidelidade do povo, especialmente de seus
governantes, que pecou contra Deus, bem como, pecou contra os seus próprios
irmãos. Assim sendo, Deus se propõe a realizar uma nova aliança, que não
depende mais do rígido cumprimento e observância de leis e normas, mas de
aceitar que o Espírito de Deus esteja no íntimo de cada pessoa e oriente seus
pensamentos e ações. Leia: Ezequiel 16,60-63; 36,26-27.
c)
Ezequiel converte-se no grande profeta da
responsabilidade individual, pois a partir de então, a salvação e condenação do
ser humano dependem dele mesmo, e não de seus antepassados nem de sua família,
nem sequer do passado pessoal, mas do presente de cada um. Leia: Ezequiel
18,1-32.
d)
Apesar de ser um profeta que viveu na corte e de
estar junto à nobreza no exílio babilônico, Ezequiel foi muito crítico e duro
em relação aos governantes do povo. Para este profeta, Deus não quer mais que
seu povo seja conduzido por esses governantes que permitiram a desgraça
acontecer. Será o próprio Deus quem governará, doravante, a sua gente! Leia:
Ezequiel 34,1-22.
e)
O profeta observará que viver em meio a uma
sociedade com costumes, ideias e princípios muito diferentes daqueles do Deus
de Israel comporta um grande risco. Daí a necessidade de não se deixar
contaminar por aquilo que possa nos afastar do verdadeiro Deus. Leia: Ezequiel
22,26; 44,23.
Acima de tudo, o profeta Ezequiel
percebeu que o povo de Deus precisaria ressurgir, renascer em espírito para uma
nova realidade. Não era mais possível continuar adorando a Deus sem que isso
tivesse reflexos decisivos na vida, no comportamento, no pensamento e nas
atitudes das pessoas que dizem acreditar nele! Para isso, o profeta utiliza a
imagem de um novo espírito e um novo coração, isto é, um novo
entendimento (cf. Ez 11,19; 18,31; 36,26-27; 37,14).
Não seria isso que a nossa
sociedade também, nos dias atuais, está necessitando? Nossa sociedade, nosso
país, nossa nação não passaram por um exílio, nem por uma devastação. Porém,
entre nós estamos muito divididos, polarizados, devastados e sem esperança. Se
acreditamos, de verdade, em Deus, algo precisa mudar, e agora, a partir do
interior de cada um de nós.
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