Evolução e Evangelho

 




...para aperfeiçoar os santos em vista do ministério, para a edificação do Corpo de Cristo, até que alcancemos todos nós a unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, o estado de Homem Perfeito, a medida da estatura da plenitude de Cristo. (Efésios, 4: 12 e 13)
 
Evangelho
A palavra grega Euangelion no grego clássico indicava a "gorjeta" que era dada a quem trazia uma boa notícia. Mais tarde passou a significar uma "boa-nova", segundo a exata etimologia do termo. Falava-se de "evangelho", nas cidades gregas, quando ecoava a notícia de uma vitória militar, quando os arautos noticiavam o nascimento de um rei ou de um imperador. Ao termo estava unida a ideia de festa com cânticos, luzes e cerimônias festivas. Era, em suma, o anúncio da alegria, porque continha uma certeza de bem-estar, de paz e salvação.[i]
No império romano a boa notícia era referente ao imperador: uma nova conquista, um novo imperador, ou mesmo a sua presença em determinada cidade.
Na Bíblia, na Septuaginta, o vocábulo aparece no Segundo Livro de Samuel, 4: 10. No contexto um emissário traz a notícia da morte de Saul, achando que seria uma boa notícia para Davi pensando que este lhe daria uma recompensa:
Aquele que me relatou estar Saul morto, ainda que era como um trazendo boas novas para mim, apanhei-o e matei-o em Ziclague, aquele a quem eu devia, como ele pensava, ter dado uma recompensa por suas notícias.[ii]
No Novo Testamento a literatura denominada Evangelho foi inaugurada por João Marcos quando deu título à sua narrativa biográfica de Jesus. Entretanto, foi Paulo de Tarso quem pela primeira vez usou esta palavra em se referindo a Jesus, pois a Carta aos Tessalonicenses, aos Gálatas, aos Romanos, entre outras, são anteriores ao livro de Marcos. Todavia, quem primeiro usou este vocábulo referindo-se à Mensagem do Reino de Deus foi o próprio Jesus. (Cf. Lucas, 4: 18 e 43)
Para Paulo, o Evangelho era o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê[iii]. No Espiritismo salvação designa o fim dos ciclos provacionais e expiatórios, a libertação das reencarnações em corpos físicos. Para ele, Paulo, o verdadeiro Evangelho era a essência da mensagem de Jesus.
Nele também vós, tendo ouvido a Palavra da verdade -— o evangelho da vossa salvação -— e nela tendo crido, fostes selados pelo Espírito da promessa, o Espírito Santo.[iv]
O espiritismo em concordância com o apóstolo dos gentios nos afirma que Jesus é o nosso Guia e Modelo[v], ou seja, é através de seus ensinamentos contidos no Evangelho que atingiremos nossa meta, a desvinculação dos mundos físicos e o retorno à Casa do Pai. Não esqueçamos que Espírito Santo e Espírito de Verdade são expressões sinônimas nos falando do Paráclito (Consolador)[vi].
Assim, entendemos Jesus como nosso Salvador, pois como Ele já percorreu o Caminho, pode nos ensinar como nos encaminharmos com excelência. Daí a importância de estudarmos e praticarmos as lições de Seu Evangelho.

 
Evolução
No espiritismo a teoria da evolução está atrelada à ciência. Ela é feita em dois planos, no físico e no espiritual. Evoluem os seres, os planetas, os órgãos, os conceitos,  etc. Todo Universo evolui.
Como isto se dá?
Nos primórdios da vida temos:
  • Geleia cósmica.
  • Mônada (princípio inteligente).
  • Ação dos trabalhadores espirituais.
  • A rede filamentosa do protoplasma.
  • Séculos de atividade silenciosa[vii]
Já não dissemos que tudo em a natureza se encadeia e tende para a unidade? Nesses seres, cuja totalidade estais longe de conhecer, é que o princípio inteligente se elabora, e individualiza pouco a pouco e se ensaia para a vida, conforme acabamos de dizer. É de certo modo, um trabalho preparatório, como o da germinação, por efeito do qual o princípio inteligente sofre uma transformação e se torna Espírito.”[viii]
Para o princípio inteligente se transformar em Espírito é preciso percorrer longa jornada evolutiva nos reinos inferiores da Natureza, em ambos os planos da vida, até obter condições para a humanização, transformando-se em um ser dotado de razão e de livre-arbítrio[ix].
... para alcançar a idade da razão, com o título de homem, dotado de raciocínio e discernimento, o ser, automatizado em seus impulsos, na romagem para o reino angélico, despendeu para chegar aos primórdios da época quaternária, em que a civilização elementar do sílex denuncia algum primor de técnica, nada menos de um bilhão e meio de anos.[x]
Em O Livro dos Espíritos, as Entidades Codificadoras ainda nos informam:
A Terra não é o ponto de partida da primeira encarnação humana. O período de humanização começa, geralmente, em mundos ainda inferiores à Terra. Isto, entretanto, não constitui regra absoluta, pois pode suceder que um Espírito, desde o seu início, esteja apto a viver na Terra. Não é frequente o caso, constitui antes uma exceção.[xi]
Entretanto é preciso considerar que a humanização é apenas o início da evolução consciente, o Espírito deverá a partir daí conquistar os valores superiores da alma, só assim conseguirá atingir seu objetivo de se tornar Santo através de sua redenção.
Portanto, deveis ser perfeitos como o vosso Pai Celeste é perfeito[xii].
Evolução e Evangelho
A partir do já comentado podemos fazer uma relação entre Evolução e Evangelho. A Evolução nos leva ao Evangelho ou é o Evangelho que nos leva à Evolução?
A segunda afirmativa não é totalmente verdadeira, pois a Evolução é uma Lei, ela existe desde a criação dos Universos físicos; o que ela faz é, despertando a potencialidade divina que há em nós, nos preparar para a assimilação do Evangelho. Podemos com segurança afirmar que o que o Evangelho faz é qualificar a Evolução, ou seja dar qualidade a esta. Antes da assimilação do Evangelho a Evolução é feita pelos impactos, a partir da conversão ao Evangelho ela é feita de forma consciente, com menores dores, e efetivamente mais rápida.
O princípio inteligente traz em si o modelo de sua perfeição, excelência e superioridade.
Já nos primeiros movimentos do livro Genesis, atribuído a Moisés, já vemos indícios desta Lei, o “Haja Luz[xiii]” é um mandamento divino para toda criação. Jesus confirma tal assertiva num momento mais adiante:
Brilhe do mesmo modo a vossa luz diante dos homens...[xiv]
Portanto, Evangelho e Evolução estão associados desde o princípio.
Sendo o escopo do Espírito a Perfeição Moral e sendo nós espíritas conscientes disto, concluímos ser dever de todo espírita o estudo, a meditação e a vivência dos ensinamentos do Evangelho que em última instância é de Deus.
Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que faz para domar suas más inclinações.[xv]
Conhecereis a Verdade, e a Verdade vos libertará.[xvi]
Ademais, os Espíritos nos informam na questão 621a de O Livro dos Espíritos que nós homens, esquecemos e desprezamos a Lei de Deus, e que Deus quis que ela nos fosse lembrada. O Evangelho é o maior código moral ensinado aos homens para praticar devidamente a Lei de Deus. Desprezá-lo é também, no mínimo, desprezar a encarnação de um Messias Divino que demorou séculos ou milênios para ser programada e efetivada como objetivo de nos revelar esta Lei tão necessária à nossa recomposição consciencial.


 


[i] Dicionário de filosofia: acessado pelo site https://sites.google.com/view/sbgdicionariodefilosofia/evangelho em 15/07/2024
[ii] 2 Samuel, 4: 10 (Septuaginta traduzida para o português por José Cassais)
[iii] Romanos, 1: 16
[iv] Efésios, 1: 13
[v] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 50ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1980. Q. 625
[vi] Cf. João, 14: 17 a 26
[vii] Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita Programa Filosofia e Ciência Espíritas Roteiro 18, acessado pelo site: https://www.febnet.org.br/wp-content/uploads/2013/05/Roteiro-18-Evolucao.pdf em 16/07/2024
[viii] O Livro dos Espíritos, questão 607a
[ix] Idem
[x] XAVIER, Francisco C./ Waldo Vieira/André Luiz (Espírito). Evolução em Dois Mundos, 13a Ed. Rio de Janeiro: FEB, 1993, Primeira Parte, cap. III
[xi] O Livros dos Espíritos, questão 607b
[xii] Mateus, 5: 48
[xiii] Gênesis, 1: 3
[xiv] Idem, 5: 16
[xv] KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 104ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1991.
 cap XVII
[xvi] João, 8: 32

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