É questão de sobrevivência

 


            *José Renato Nalini

            Falar de ambientalismo, de ecologia, de mudança climática, não é questão jurídica ou política. É questão de sobrevivência. Isso poucos sabem. Parece que não prestam atenção aos recados da terra. O planeta se cansou de quem a maltrata. Responde como pode.

            Os artistas, seres sensíveis, são os que mais sentem o perigo. O fotógrafo Sebastião Salgado é um desses corajosos transformadores da realidade. Com suas fotos, mas também com ações concretas: a recuperação de áreas que, com sua mulher, mudam a face do solo mineiro.

            Cláudio de Moura Castro é outro artífice da palavra que encanta os leitores de seu livro “Mutirão de árvores – Quero sombra e água fresca”. E não é só no Brasil que existem valentes heróis. O fotógrafo canadense Edward Burtynsky é considerado o “cronista da transformação do planeta”. São fotos de grande formato, feitas com câmeras de tecnologia de ponta, que mostram o paradoxo angustiante. É o que os jornais do mundo dizem: “refinados retratos do bruto”, “retrato de um lindo mundo em perigo” e “simultaneamente alarmantes e sublimes”, são alguns dos comentários.

            Fotografa e faz palestras sobre a questão ambiental. Sua preocupação começou há vinte e um anos, por causa de suas filhas pequenas. E tudo piorou desde então. “Falamos de 1,5º C como limite do aquecimento. Pois já chegamos! Estamos vivendo a metáfora da fã na panela, que fica mais quente, mas não sentimos o calor à nossa volta, por isso pensamos que está tudo bem”. Acho que já estamos sentindo sim. Quem suporta as ondas de calor que se renovam, fazendo com que 2024 repita 2023 ou até o supere, como o ano mais quente da história?

            Ele já foi crítico do ambientalismo apocalíptico. Hoje reconhece que é urgente pensar sobre como obter insumos sem destruir a natureza. Já é uma questão de sobrevivência humana e planetária. Depois de superar o grau e meio de aumento da temperatura, inimaginável o que ocorrerá. Por isso a urgência é a maior em todos os tempos. O alarme está tocando, mas ainda estamos no convés do Titanic, diz ele.

            A política não tem coragem de fazer o que é certo, pois depende de eleições. “O problema dos humanos é só acordar quando o fogo arde à sua porta”. Será assim em todos os lugares?

 

*José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo.   

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