*José Renato
Nalini
Muitos
paulistanos ainda não sabem que sua cidade vai crescer em qualidade ambiental.
O Prefeito Ricardo Nunes assinou declarações de utilidade pública de uma área
equivalente a onze por cento do território da megalópole. São trinta e duas
áreas, num total de cento e sessenta e cinco quilômetros quadrados.
Impressionante
a dimensão dessa providência: são quase dezessete mil hectares, superiores a
todo o perímetro de Paris e seus arredores. Nela, caberiam quase dezesseis mil
campos de futebol. Houve exauriente e minucioso trabalho de detecção de glebas
ainda providas de verde, os resíduos da Mata Atlântica ainda não totalmente
eliminados pelo crescimento desordenado desta conurbação instigante que é a
capital paulista.
Agora,
seguir-se-á na identificação dos proprietários, que serão contactados e não se
exclui a possibilidade de um acordo entre a Municipalidade e os titulares
dominiais. Se isso não for possível, a expropriação garantirá à Prefeitura
imediata imissão na posse, pois o interesse público se sobrepõe ao interesse
particular. E haja interesse público na preservação de remanescentes da
exuberante cobertura vegetal quase toda dilapidada ao longo dos cinco séculos
da chegada do colonizador. Um investimento que poderá ultrapassar os setecentos
e vinte e seis milhões de reais.
Antes
desses trinta e dois atos de declaração de utilidade pública, outros onze já
haviam sido publicados. O benefício é para as atuais e futuras gerações. Estas
ainda sofrerão os desastrosos impactos da mudança climática, gerada pela
insensatez no uso dos recursos naturais. Efeitos que eram anunciados para daqui
a um século, mas que já estão ocorrendo e com intensidade surpreendente.
A
cidade de São Paulo foi a primeira no Brasil a criar uma Secretaria de Mudanças
Climáticas, exatamente para que o tema esteja na preocupação de todas as demais
unidades estatais de responsabilidade do Município. Mais ainda, pretende-se
conscientizar a iniciativa privada, a Universidade, a Academia, a sociedade
civil, a mídia e todas as pessoas. A gravidade do tema não permite que qualquer
pessoa se sinta excluída em relação à sua responsabilidade quanto à possível
mitigação dos prejuízos advenientes dos fenômenos extremos.
O
grande vilão é o carbono, portanto a descarbonização já passou da fase de
urgência. Mas também é preciso cuidar da excessiva produção de resíduos
sólidos, que são geradores de quase dez por cento dos gases venenosos
causadores do efeito-estufa.
A
ampliação de áreas verdes garante não só o aumento dos sumidouros de gás
carbônico, essa a função das árvores, mas também a atenuação da temperatura, a
redução das “ilhas de calor”, a ressurreição de córregos e de cursos d’água e
aumento de longevidade e da qualidade de vida para toda a população.
Pensar
o que cada um pode fazer quanto ao enfrentamento das mutações do clima é um ato
responsável e de cidadania, a que ninguém pode estar subtraído. Vamos encarar
juntos aquilo que a maior cidade do Brasil pode fazer em relação ao seu futuro.
*José Renato Nalini é
Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo.
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