TOC atinge milhões de brasileiros e prejudica a qualidade de vida

 


Especialista explica como a terapia cognitivo-comportamental pode ajudar no tratamento da doença

Muitos já devem ter ouvido piadas sobre Transtorno Obsessivo Compulsivo, conhecido popularmente como ‘TOC’. A doença, no entanto, é coisa séria, e afeta a vida de quase 4 milhões de brasileiros. Segundo pesquisas, aproximadamente uma a cada 50 pessoas sofre de Transtorno Obsessivo Compulsivo no País - destas, cerca de 30% das que têm a doença se recusam a passar por tratamento. 

 

O TOC é definido por uma série de obsessões e manias que a pessoa apresenta na rotina. A principal característica do transtorno é a presença de crises pertinentes, recorrentes e pensamentos impulsivos e obsessivos que obrigam o indivíduo a repetir uma certa ação por diversas vezes, ou seja, os pensamentos mostram as mesmas imagens ou falas por um longo período.

 

“Para quem sofre dessa doença, a única forma de controlar os pensamentos e vontades impulsivas é a realização das ações que são propostas, obedecendo cada critério e os instintos que perturbam. Essas atitudes se chamam compulsões, onde a própria pessoa pré-estabelece regras que são extremamente rígidas.”, explica a psicóloga Talita Padovan.

 

A mente de alguém com TOC é constantemente bombardeada por ansiedade, medo e mal-estar. Tudo isso dá margem para comportamentos repetitivos. Recentemente, a atriz Luciana Vendramini relatou a sua vivência com o transtorno durante uma palestra na Escola de Psicanálise de São Paulo. “Cheguei a passar dez horas tomando banho, a demorar seis horas para conseguir levantar da cama e a ficar 11 dias sem comer, O TOC coloca tantas paranoias e manias na sua vida que fica quase impossível ter uma rotina, é muito ruim", contou. 

 

A atriz explicou ainda como o transtorno afetava o seu dia a dia, uma vez que precisava bater a porta do carro algumas vezes, usar o elevador sem paradas - caso alguém entrasse no meio, era preciso refazer o caminho completo - e pensar positivo ao passar por uma porta. Porém, só depois de cinco anos convivendo com a doença, Luciana procurou ajuda profissional e encontrou um equilíbrio. Além da atriz, outros famosos também enfrentam o transtorno.

 

O cantor Roberto Carlos evita certas cores, como marrom e preto. Por isso, até retirou alguns clássicos de seu repertório, caso de “Negro Gato“. Já o azul está presente em toda a sua vida até os dias de hoje. 

 

O ator e comediante Renato Aragão, o Didi, também sofre com a doença. Na biografia “Renato Aragão: do Ceará para o coração do Brasil”, escrita pelo jornalista Rodrigo Fonseca, Didi revela que desenvolveu há aproximadamente 20 anos uma obsessão relacionada às cores que usa em seu dia a dia. Isso, para ele, significa vestir apenas azul e branco às segundas e sextas e apenas branco às terças. Às quartas e quintas, as cores são livres, com exceção do preto, que é proibido - a mesma condição vale para os finais de semana.

Já o famoso ator britânico Daniel Radcliffe, que interpretou o personagem Harry Potter, surpreendeu a todos ao confessar que possui transtornos obsessivos desde os 5 anos de idade. Um deles é repetir sussurrando cada frase que fala. 

 

Os Tratamentos para TOC

 

Segundo a psicóloga Talita Padovan, quem sofre de TOC precisa procurar ajuda médica o quanto antes. Os profissionais da área da psicologia podem ajudar no controle da doença. “A terapia cognitivo-comportamental (TCC), por exemplo, é um ótimo processo terapêutico, pois  reduz os sintomas em 70% dos pacientes que realizam essa modalidade de tratamento, e em aproximadamente 30 % deles pode eliminar por completo os sintomas. Já em casos mais sérios, é necessário o complemento através do uso de medicamentos quando um psiquiatra julgar necessário”, explica a especialista. 

 

A TCC, como é conhecida, procura corrigir pensamentos distorcidos, crenças e hábitos disfuncionais. Através do processo terapêutico, o paciente poderá alterar padrões de pensamento e comportamento. “Um problema de ordem prática é o fato de a TCC ser um método pouco conhecido e pouco utilizado em nosso meio e ainda existirem poucos profissionais com experiência na sua aplicação prática”, pontua Talita Padovan. 

 

O TOC é uma doença que pode atingir a qualquer um, em diversos níveis e ações. Os pensamentos e manias sistemáticas podem se manifestar em tamanha profundidade a ponto de controlar e prejudicar o convívio social. Apesar de ser conhecido, grande parte da população não sabe que possui o transtorno. Fica a dica: a necessidade de realizar qualquer tarefa por repetidas vezes, de maneira obrigatória, pode ser um indicativo de TOC, sendo essencial procurar ajuda para compreender melhor o distúrbio de comportamento. 

 

Comentários