Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019, 243 milhões de mulheres sofreram violência física, sexual ou psicológica por um parceiro íntimo. O Brasil é o 5º no ranking de feminicídio. Ainda de acordo com a OMS, três em cada cinco mulheres sofrem, sofreram ou sofrerão relacionamentos assim. Durante a pandemia os casos aumentaram em 50%.
Os motivos para reconhecer uma relação tóxica são, muitas vezes, sutis e difíceis de serem identificados, mas dependendo da frequência com que se dão, podem ser observados com mais facilidade. De acordo com a Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP), o abusador faz uso de críticas maldosas, acusações, xingamentos, desprezo, ironia, ameaças veladas, silêncio como forma de punição à vítima - geralmente mulher - e tudo mais que configure abuso psicológico para se manter no controle.
Um levantamento realizado pelo projeto Justiceiras também comprovou que o apelo ao psicológico é uma das principais formas de violência utilizada pelo parceiro para se manter no controle. A análise, que considerou os atendimentos prestados entre 2020 e 2022, mostrou que 82% das mulheres que buscaram ajuda alegaram violência psicológica, ou seja, se sentiram controladas em algum momento da relação.
Um relacionamento tóxico tem como uma de suas características um ciclo de abusos, rebaixando a pessoa na qual ela se relaciona e até mesmo diminuindo suas conquistas, seus desejos e opiniões. É um comportamento constante, assim como o ciúme exacerbado. O ciclo de abusos transita em fases de violência, que pode ser psicológica, material ou física, por exemplo, e períodos de arrependimento em que o abusador se desculpa, pede perdão e promete nunca mais repetir o abuso.
Isso cria uma dinâmica de vai e vem na relação que desestabiliza emocionalmente a pessoa vítima de um relacionamento tóxico. Uma vez envolvidos na dinâmica desse tipo de relação, em muitos casos, os sinais são ignorados e até se submetem ao outro, buscando sua validação e apoio. Mesmo que não se consiga nomear o que se sente, o relacionamento tóxico pode trazer um desconforto com a companhia do parceiro e um desejo de ficar longe para evitar a tensão de um confronto iminente.
Além disso, é comum as crises de ciúme frequentes por conta da dinâmica de controle estabelecida, o que o torna um relacionamento tóxico e abusivo. Outro sinal é a vítima estar sempre errada e não possuir privacidade, sendo estes eventos que podem ocorrer nesse tipo de relação.
Havendo a percepção da vítima na primeira fase, em que as atitudes abusivas ainda poderão ser confundidas com práticas não intencionais, será possível evitar as duas fases seguintes e episódios de violência psicológica, patrimonial, financeira, sexual e física, como pontua o psicólogo, especialista e presidente do IBFT - Instituto Brasileiro de Formação de Terapeutas, Jair Soares.
“No momento do início da relação, há todo um encantamento, todo engajamento, o amor está no ar. Só que tempos depois, uns quatro meses ou cinco meses, até mesmo um ano de relação, você acaba não percebendo onde inicia esse comportamento tóxico. Quando as pessoas começam a subjugar ou querer ser dono (a) um do outro já é um sinal de que você pode estar num relacionamento tóxico”, explica.
Em vista disso, é notável como a violência psicológica pode levar a inúmeras sequelas. Transtornos como, ansiedade, depressão, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), transtornos alimentares, crises de pânico, distúrbios do sono e até mesmo pensamentos suicidas.
“É importante estar atento, porque nesse momento o cérebro da pessoa só vê coisas boas em relação ao abusador, e não consegue perceber a realidade. Ou seja, aquela flor agora passa a ter espinhos. Claro que isso não é uma tarefa fácil. Por isso, é importante mapear o comportamento um do outro.”, comenta Jair Soares.
Como sair de um relacionamento tóxico?
Um dos primeiros passos para sair de um relacionamento tóxico é reconhecer que se está
envolvido nesse tipo de relação, esse reconhecimento é essencial e pode ser muito difícil, pois muitas vezes a pessoa se sente desacreditada, duvida de si mesma, inclusive por conta do tipo de abuso psicológico que costuma sofrer. E logo em seguida, procurar ajuda psicológica, através de terapia com um profissional.
O psicólogo explica que pessoas que estão passando por relacionamentos tóxicos, precisam de ajuda necessária, para obter resultados o mais rápido possível. O especialista criou uma metodologia chamada TRG - Terapia de Reprocessamento Generativo, que vem expandindo por todo o Brasil, com mais de 30 mil terapeutas formados através do IBFT.
O seu objetivo é trazer esse conhecimento que tem ajudado inúmeras pessoas, aos profissionais da área da saúde, para que possam utilizá-la e ajudar mais pessoas. Uma vez que essa metodologia tem se mostrado extremamente eficaz e rápida, comparado a outros métodos terapêuticos, que podem levar anos para tratar e conseguir resolver o problema, principalmente o que se tange a relacionamentos.
Jair Soares relata o caso de uma de suas clientes que fez o tratamento através do método TRG. “Ela se queixava, que todos os seus relacionamentos começava muito bem, porém, depois de algum tempo, as pessoas mudavam com ela, tratando-a muito mal, com descaso e desprezo, até chegarem ao ponto de inventarem desculpas e compromissos e por fim terminar o relacionamento com ela.”
Jair conta que a primeira coisa que ele explicou para a cliente, foi que o inconsciente humano procura trazer sempre uma maneira de superar as situações, o que se chama amadurecimento, que é uma maneira de superar os traumas vividos.
“Ela me relatou, que em toda a sua infância ela sempre teve um pai ausente, pois trabalhava muito, além de ter 4 irmãs. E quando ele chegava em casa era sempre uma disputa entre elas para obter a atenção do pai, até mesmo a própria mãe buscava a atenção do marido. Mas o que mais a marcou foi quando seu pai simplesmente desapareceu, foi embora e nunca mais voltou, ou seja, ela já vivia um relacionamento tóxico familiar, e que se estendeu para a fase adulta, buscando em outros homens aquele amor que ela sempre buscou do pai e que nunca havia recebido. Ela estava congelada emocionalmente na sua infância, o que fazia com que ela agisse em seus relacionamentos de uma maneira muito dependente emocionalmente, se tornando passiva, submissa e se fragilizando, implorando atenção de alguém que não a merecia.”
O especialista enfatiza que há vários viéses de um relacionamento que se torna tóxico, porém é necessário buscar onde está a raiz do problema, onde tudo começou e o que de fato aconteceu com essa pessoa, para que seja superado e resolvido.
“E é isso que a TRG aborda, tratamos a causa do problema, para que nunca mais a pessoa sofra além do que já está vivenciando e sofrendo a anos; costumo dizer que tem dor, tem pressa”, finaliza Jair.
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