*José Renato Nalini
O greenwashing é uma doença que
acomete o pretenso ambientalismo e que pode contaminar a agenda ESG. Ou seja:
empresas que propalam sua adesão à fórmula de sustentabilidade, são pegas em
flagrante e acusadas de más práticas.
Isso é muito comum. Mostra que entre
a promessa e o cumprimento dela, podem existir muitos furos. Uma coisa é se
prontificar à inclusão em favor da natureza. Outra é honrar esse compromisso, o
que dá muito trabalho e talvez até proporcione gastos não previstos.
Agora mesmo, uma grande empresa de alimentos
é acusada de patrocinar desmatamento legal por ação de parte de seus
fornecedores. Ela admite que nos quase setenta casos de desmate, identificou
69% deles e tomou providências. Faltam 30%, sobre os quais ela se limita a
negar envolvimento.
A apuração do devastamento foi feita
de forma científica e confiável. Alertas confirmados por sinais de imagens de
satélites. Mediante cruzamento dos dados com os CARs – Cadastros Ambientais
Rurais, é possível detectar as partes pertencentes a reserva legal ou a
demarcação indígena. Em muitas das apurações, verificou-se que o gado sai de
uma fazenda em que a pecuária é irregular, ou seja, ilícita, até criminosa e
vai diretamente para o frigorífico da empresa.
Ora, sabe-se o quão fácil é fugir às
malhas da lei quando se tem um corpo jurídico talentoso, hábil em manobrar o
labiríntico desafio de uma normatividade prolixa e de um sistema Justiça
caótico, burocrático, lento e ineficaz. Mais importante do que negar ligação
com a delinquência, seria essa empresa provar a sua profissão ecológica e
formar áreas de reflorestamento. O que ela tem feito para repor as árvores
ceifadas da floresta, que – apenas no Brasil – superam um bilhão?
Não adianta protestar, quando
permanece a dúvida – senão a certeza – de um comportamento hipócrita. Alinha-se
ao lado da sustentabilidade e pratica-se aquilo que é justamente a causa do
agravamento da ameaça que recai sobre a humanidade? Precipitar a chegada do
caos, com os eventos extremos e surpreendentes, que no nosso país têm causa direta
com a destruição da floresta?
Negar é insuficiente. Melhor seria
comprovar proatividade. Quantos milhões de hectares têm sido replantados por
empresa cujo vínculo com os dendroclastas parece tão provável?
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