Eletroestimulação (pulsos elétricos) podem ser aliados, mas não substitutos de exercícios físicos, segundo especialista
Cada vez mais tem crescido o número de adeptos à modalidade de eletroestimulação e, consequentemente, academias sem peso – como são chamadas, prometendo os mesmos resultados de um treino convencional, de 2 horas, em apenas 20 minutos. Mas isso ainda é um ponto bastante divergente entre os profissionais de Saúde e Educação física.
A prática consiste, basicamente, em vestir um colete com eletrodos que recebem estímulos na forma de uma rajada de pulsos elétricos de baixa frequência. A ideia, com esses pulsos elétricos, é gerar contração muscular o que, em teoria, seria responsável por transformar, de maneira ‘forçada’, um treino de 20 minutos em um equivalente a 2 horas.
Esta técnica, originária da Alemanha, chegada ao Brasil em meados de 2017, era anteriormente usada na reabilitação e recuperação de pessoas, principalmente, em pós-operatório.
Um estudo publicado na Revista de Terapia Física e Reabilitação de Oxford aponta que a prática é uma forma de treinamento efetiva para força e resistência, mas não contempla a obtenção de resultados efetivos sobre o ganho de massa. Isso porque, de acordo com o estudo, os pulsos elétricos produzidos pelos eletrodos chegam a, no máximo, 60% do máximo que o indivíduo seria capaz de produzir se fosse por meio das contrações voluntárias, pelo próprio sistema nervoso, através do treino convencional, portanto, não substitui e não traz melhores resultados em termos de hipertrofia muscular (aumento de tamanho dos músculos por conta de uma sobrecarga).
Para o especialista Leonardo Finotti, graduado em educação física pela UNIARARAS - FHO, com especialização em Treinamento de Alta Performance e pós-graduando em Fisiologia do Exercício, os ‘prejuízos’ da substituição do treino convencional pela eletroestimulação vão muito além da questão física:
“A eletroestimulação não seria capaz, de forma alguma, de proporcionar os mesmos benefícios de uma atividade física convencional, como os benefícios psicológicos, por exemplo. Quando se faz musculação, por exemplo, sua mente precisa estar totalmente focada na atividade, no movimento, na carga que está levantando, enfim... Isso ajuda na concentração, trabalha a ansiedade e a depressão, entre diversos outros benefícios, isso sem falar na liberação de hormônios”, aponta o especialista.
Um importante estudo publicado pela Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte revelou, em 6 meses, que 23 mulheres, de idades entre 60 e 70 anos, praticando 1 hora de atividade física por dia, registraram, após o período do estudo, melhoras significativas nos níveis de atenção, memória e no padrão de humor, em comperação a outro grupo, de controle, com 17 mulheres semelhantes, mas com hábitos sedentários, demonstrando benefícios importantes inclusive para pessoas com hiperatividade (TDHA) e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), reduzindo os sintomas dessas doenças.
“Isso se dá, principalmente, pela liberação dos hormônios durante a atividade física. Durante as atividades, há uma liberação quase que imediata dos níveis de dopamina, que é um neurotransmissor responsável por levar informações do cérebro para várias partes do corpo, conhecida por ser ‘o hormônio da felicidade’ e, quando liberada, provoca a sensação de prazer e satisfação, aumentando, consequentemente, a motivação. Há liberação considerável de endorfina, responsável pelo prazer. A epinefrina, também conhecida como adrenalina, também é produzida, aumentando o fluxo de oxigênio no cérebro, pulmões e fibras vermelhas dos grandes músculos. O cortisol, responsável por aumentar os substratos do metabolismo, trazendo benefícios à nossa saúde, como a diminuição dos efeitos do estresse do dia a dia, aumento dos efeitos anti-inflamatórios no corpo, regulação do ciclo biológico e a estabilização dos níveis de glicemia durante o treino, além, claro, da somatotrofina, mais conhecida nas academias como GH, que é o hormônio do crescimento, responsável pela multiplicação das células no corpo, que causarão a hipertrofia. Não é possível liberar esse hormônios nas quantidades adequadas e consideráveis por meio da eletroestimulação”, pontua o especialista Leonardo Finotti, especializado em Treinos de Alta Performance.
O especialista recomenda que a eletroestimulação seja um aliado à prática de exercícios convencionais, não substituto. A prática de eletroestimulação pode ser usada com maior obtenção de resultados, segundo ele, para ganho de resistência, já que, por conta da preservação do estímulo natural do sistema nervoso, evitando sua fadiga, é possível obter um ganho de força expressivo. Mas, em se tratando de benefícios para a saúde, mental e física, e hipertrofia (crescimento de músculos), nada substitui a boa e velha academia e seus halteres.
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