*José Renato Nalini
Tudo está correndo perigo de
desaparecimento: a atmosfera, o solo e, principalmente, a água. Essencial para
a vida. Uma civilização centrada no petróleo esquece-se de que o corpo humano é
água e depende de água.
O derretimento acelerado do gelo
antártico produz tragédias. O impacto desastroso sobre o clima global, a cadeia
alimentar marinha e a sobrevivência da humanidade já se fazem sentir.
Todavia, qual gigantesca balada
histérica, a sociedade mundial não se emociona e não toma qualquer atitude. No
mundo micro, continuam as lavagens de passeios e calçadas, com a vassoura
hidráulica a esbanjar água tratada. No mundo macro, países que têm vastas áreas
cobertas de gelo se vangloriam de que vão poder produzir agricultura tropical.
Enquanto isso, o gelo desaparece com
rapidez. Paradoxalmente, a Europa vai sofrer um esfriamento ártico, à proporção
que se reduz o transporte de calor. A circulação da água profunda na Antártida
vai se enfraquecer com o dobro da rapidez do declínio no Atlântico Norte.
A elevação do nível do mar
sacrificará nações insulares existentes há milênios. Acabarão inúmeras espécies
e os corais de recife só poderão ser conhecidos por filmes e fotografias. Os
oceanos não terão condições de absorver todo o gás carbônico emitido. O
insensato humano desequilibrou as leis naturais e pretende revogar leis
eternas.
Aqui entre nós, os aquíferos
continuam a ser poluídos. Os rios se transformaram em coletores de esgoto e de
toda a imundície produzida pelo chamado “animal racional”. Irônica a intenção
de investir “rios de dinheiro” para salvar “rios de verdade”. Quando bastaria
ter deixado a solução já oferecida espontânea e gratuitamente pela natureza:
rios serpenteando várzeas, leitos piscosos de águas límpidas, que o homem quis
“corrigir”. E como o fez? Retificando o leito, criando um canal artificial em
lugar do espaço aprazível de origem, preferindo entregar a cidade ao carro, o
veículo mais egoísta e mais poluente sobre a face da Terra.
Quando faltar água para beber, pois
a que restar estará inservível para consumo humano, qual a resposta que as
atuais gerações oferecerão às vítimas da nossa ignorância e da nossa
insensibilidade?
*José Renato Nalini é
Diretor-Geral da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e
Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras.
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