FOLHAGERAL: Quem melhor vai saber decidir será o Juiz de Direito.

Temos em mãos cópia do Relatório Final, referente ao Inquérito nº 2276189 de 2022, sobre uma infração penal em que o investigado é Rivelino Rodrigues. O Relatório Final foi emitido pela Delegacia Seccional de Jales SP em 26/01/2023, ao Juiz de Direito. Não é um caso complicado. Mas é um caso incomum. Em primeiro lugar porque o investigado – Rivelino Rodrigues – é um político de Jales filiado ao Progressistas (PP), é vereador e secretário da Mesa Diretora da Câmara Municipal. Em segundo lugar porque o inquérito se refere a uma infração pouco frequente: furto de terra. Isto mesmo. No dia 26 de agosto de 2022, nesta cidade, Rivelino Rodrigues estaria subtraindo terra de um terreno pertencente à Prefeitura Municipal. O Relatório Final contém várias informações. Mas não tem precisão suficiente para fornecer uma conclusão inequívoca. Dá para saber com certeza que Rivelino Rodrigues contratou por sua conta serviços de caminhão para transporte de terra. Rivelino também apresentou autorização para retirada de terra de um terreno do Frigorífico BBM e indicou o local à equipe contratada. Porém, em uma semana foram retirados mais de 100 caminhões de terra de um terreno da Prefeitura, vizinho ao terreno do Frigorífico. Uma parte da terra foi transportada para um terreno de propriedade de Rivelino e outra parte foi transportada para o local de construção de uma futura praça da Prefeitura. Caminhões de três empresas participaram do transporte de terra. Dominar bem nosso idioma não é o bastante para ler e compreender com convicção o que de fato aconteceu. Poderá ter havido apenas uma falha: local inexato de extração da terra. Ou mais do que isso. Quem melhor vai saber decidir será o Juiz de Direito. Na próxima semana (dia 1º de fevereiro), os 27 senadores e 513 deputados eleitos em 2022 tomarão posse no Congresso Nacional. Haverá eleição da Mesa Diretora de cada casa: Senado Federal e Câmara dos Deputados. Os presidentes atuais, no Senado e na Câmara, senador Rodrigo Pacheco (PSD) e deputado Arthur Lira (PP) tentam se reeleger. Enfim, a renovação política para 2023/2026 estará concluída. Assim vai ficar mais difícil garimpar assuntos políticos interessantes. Mas há uma boa notícia para quem adora assuntos políticos. A política se relacionamais com o entretenimento. Nos Estados Unidos, em 2008, o candidato a presidente Barack Obama saiu na capa da revista Rolling Stones com a manchete “Uma nova esperança” (título de um filme da série Guerra nas Estrelas). Em 2009, já eleito presidente dos Estados Unidos, Barack Obama saiu na capa da revista Homem-Aranha, interagindo com o herói. E até hoje, camisetas estampadas com a imagem do ex-presidente Barack Obama são compradas e usadas em espaços públicos. A política e o entretenimento ainda pertencem a espaços diferentes. A política trata de temas relacionados ao interesse público. O entretenimento está relacionado com momentos de distração, de não pensar em problemas. Na tradição, a política está voltada para questões sérias e o entretenimento para assuntos leves. No entanto, há décadas a política e o entretenimento andam por caminhos próximos, muitas vezes se misturando nas produções do cinema e da televisão. Separar totalmente a política do entretenimento não é mais possível. Em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), o cineasta inglês Charles Chaplin lançou nos Estados Unidos seu primeiro filme falado: O Grande Ditador. O Grande Ditador foi um filme fortemente político, classificado nos gêneros comédia, drama, sátira e crítica. Fez grande sucesso no mundo todo. Recebeu elogios e censuras em diferentes países. Passados os horrores da guerra, o filme triunfou na opinião geral. Há um discurso no final do filme. É um poema à liberdade e à democracia. Nele é dito que: “O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza. Nós criamos a época da velocidade, mas nos sentimos presos dentro dela.” Também é dito que: “A máquina que produz abundância tem nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos nos fizeram céticos. Nossa inteligência nos fez cruéis. Pensamos muito e sentimos pouco. Precisamos de humanidade, afeição e doçura.” E prosseguindo: “Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbirão e o poder do povo retornará ao povo. Assim, morrem os homens e a liberdade nunca perecerá. Lutemos por um mundo novo, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.” Hoje, as instituições políticas e os próprios políticos aprendem a se comunicar com o público na linguagem do entretenimento nos meios eletrônicos. Isso tem a ver com a manutenção da imagem e com a transparência junto ao público. Pessoas famosas ligadas ao entretenimento já se beneficiaram politicamente, como Romário (jogador de futebol), Jorge Kajuru (comentarista esportivo), Leila Barros (jogadora de vôlei), Agnaldo Timóteo (cantor), Tiririca (humorista) e muitos outros. O engajamento de produtores da indústria de entretenimento nas questões políticas é flagrante. No Brasil quase toda novela envolve temas sociais, como etnias, migrações, periferias, religiões, gêneros e outros de grande repercussão política. Gostar de política é sinal de inteligênciaquando se aprecia a política nas obras criativas de entretenimento. Quem assistiu aos filmes O Grande Ditador (de Charles Chaplin) e O Ovo da Serpente (de Ingmar Bergman) sabe bem disso. Mas, ao contrário, mostra sinal de alienação quem tem fixação em política partidária, quem escolhe um partido e um político e só enxerga virtudes neles. Mas só enxerga defeitos nos demais. Isso faz a pessoa viver fora da realidade e sofrer decepções desnecessárias.

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