*José Renato Nalini
São Paulo deveria se envergonhar do
que fez e continua a fazer com o rio Tietê. Ele foi um dos principais motivos
para que os jesuítas José de Anchieta e Manoel da Nóbrega escolhessem o
planalto para instalar uma escola e iniciar uma possante civilização em meados
do século XVI.
Era um rio piscoso, de águas
límpidas, que serpenteavam ondulantes, rumo ao interior. O que a “civilização”
fez com ele? Quis eliminar suas curvas. Converteu-o num canal que primeiro gerou
a aceleração da corrente, depois transformou-o em condutor de todas as
imundícies produzidas pelo bicho-homem: esgoto, carcaças, tudo o que é
descartado pela economia inconsequente de um consumismo tolo.
Hoje, a sujeira de suas águas cresce
a cada ano. Entre 2021 e 2022, a mancha da poluição aumentou quase cinquenta
por cento, passando de oitenta e cinco quilômetros para cento e vinte e dois
quilômetros.
Nesse biênio, a extensão da água de
boa qualidade, que foi de cento e vinte e quatro quilômetros, passou para
sessenta. Houve explosão de sedimentos com altas cargas de demanda bioquímica
de oxigênio, provenientes de esgoto e de fontes difusas de poluição, como lixo,
defensivos agrícolas, fuligem de carros e resíduos sólidos em geral.
Grande parte da responsabilidade é
da própria população, que não enxerga o rio como fonte de vida. Mas enorme
carga de culpa está com o governo. Permitiu, durante décadas, que o esgoto
doméstico de Guarulhos fosse despejado in natura no Tietê. Não fiscaliza a
ilicitude criminosa de se despejar no rio substância química, toda espécie de
objeto descartável, além de não frear o lançamento de esgoto doméstico.
Falta muita educação de berço para a
população brasileira e São Paulo, que está na vanguarda financeira, tem quatro Universidades
públicas elencadas entre as melhores do planeta, está muito longe de ser um
Estado civilizado e ambientalmente correto.
A piora foi mais intensa no trecho
entre Botucatu e Barra Bonita, em Laranjal Paulista, sem falar na péssima
situação em Santana de Parnaíba e a qualidade ruim detectada em Guarulhos,
Itaquaquecetuba e Suzano.
Quando haverá vontade política para
devolver saúde ao Tietê? Por enquanto, ele vai de mal a pior.
*José Renato Nalini é
Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Presidente da
ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2021-2022.
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