Sociedade do cansaço

 


  *José Renato Nalini

            Tempos estranhos estes que nos foram dados vivenciar. Temos de estar bem, de parecer bem, de dizer que se está bem. É uma espécie de ditadura da felicidade. Por isso a explosão de selfies e de sorrisos no Instagram. Todos irradiando a plenitude do “estar bem com a vida”.

            Não há mal em querer ser feliz. Acontece que o ser humano é uma criatura complexa. Nunca está inteiramente satisfeita. A economia política explica bem a situação de buscar incessantemente uma coisa que, mal alcançada, frustra quem tanto esperou. Aí já é outra ânsia, outro desejo, que enquanto não satisfeito, deixa a pessoa frustrada.

            A expressão “sociedade do cansaço” é do filósofo coreano Byung-Chul Han. Ele enxerga o ser humano como simultaneamente algoz e escravo de si mesmo. Um carrasco e uma vítima ao mesmo tempo. Uma imposição da positividade. Isso deixa as pessoas cansadas, como autômatos, como verdadeiros zumbis.

            Entretanto, a vida nos reserva frustrações, decepções, desencantos e perdas. É preciso saber enfrentar tudo isso. E, tão importante quanto assimilar a realidade de que nossa vida é curta e plena de perigos, é transmitir às crianças tal sentimento. Elas precisam estar preparadas pois a tristeza chegará. De todas as formas.

            Primeiro, elas não podem ser ignoradas quando da perda de um ente querido. Há quem diga: não levo meus filhos a velórios. Se eles não curtirem o luto, poderão ser adultos deprimidos mais tarde.

            Somos um complexo emocional em que oscilamos da euforia ao estresse. Temos a obrigação de treinar a serenidade. A ascese. Não nos iludir com aquilo que nos entusiasma, não nos abater com aquilo que se pode e se deve esperar: decepcionar-se com o próximo, colher ingratidão, acrescentar perdas afetivas às perdas irrecuperáveis daqueles aos quais amamos e que não conseguimos segurar um dia a mais, um dia sequer, do tempo que lhes foi reservado para estar conosco.

            Aceitemos nossa finitude e nossa vulnerabilidade. Não somos super-heróis. Na verdade, eles só existem para nos deixar perplexos. Quanto a isso, o inesperado está em cada esquina a nos aguardar e a nos surpreender. Não nos assustemos, portanto.

 

*José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Presidente da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2021-2022.

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