*José Renato Nalini
Quem estudou Ciências Jurídicas e
Sociais, antigo nome do curso de Direito, aprendia que soberania é o poder
incontrastável, indelegável, incondicionado, ilimitado e verdadeiramente
onipotente. Um dos elementos essenciais do Estado, essa sociedade de fins gerais,
de amplitude suficiente para acolher, em seu interior, as demais sociedades de
fins particulares e os indivíduos.
Será que se pode falar em soberania
com esses atributos nesta segunda década do século 21? Ou seja: qual o Estado
verdadeiramente soberano, que pode exercer esse poder absoluto e incontestável,
ainda que dentro de seu território?
Inviável falar-se em plenitude da
independência, mais adequado pensar-se numa interdependência que impõe
humildade aos governantes. Ninguém é hoje suficientemente poderoso para impor a
sua vontade aos demais. Ao contrário, todos estamos vinculados numa teia
complexa de vinculações, que limitam a autoridade estatal e a submetem a um
convívio forçado com outras autoridades análogas.
Sem diálogo, o mundo não conseguirá
enfrentar os imensos desafios postos à humanidade, pois o clima está a cobrar a
insensatez ignorante ou gananciosa que se impôs nas últimas décadas e que
acabou com a infinitude dos recursos naturais. Todos hoje finitos e correndo
risco de desaparecimento, enquanto a densidade demográfica prossegue acelerada.
O número de pessoas não cabe nas limitações de um planeta exaurido. Isso não
entrou ainda na cabeça de muitos fanáticos, acometidos de um egocentrismo
nefasto, pois não apenas aceleram a hecatombe, mas condenam ao desaparecimento
a juventude, a infância, e aqueles que ainda não nasceram.
Mais do que invocar “soberania”,
para manter anestesiados os que se fanatizam com teorias conspiratórias,
acreditam em terraplanismo, em projetos de domínio das mentes mediante
introdução de chips nas vacinas salvadoras, seria importante abrir diálogo com
todos os humanos que podem oferecer uma alternativa ao caos que se avizinha.
Esse o projeto a ser implementado
por aqueles que ainda são providos de discernimento e de bom senso, essa
bússola natural que parece ter abandonado a mente dos animais ditos racionais.
*José Renato Nalini é
Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Presidente da
ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2021-2022.
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