Instituto Anelo lança música dedicada às mulheres pretas

 Videoclipe de Deixa a Senzala estreia em 25 de julho, quando se comemora o Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha e também o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra

No próximo 25 de julho, quando se comemora o Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha e também o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, o Instituto Anelo lança o videoclipe com a música Deixa a Senzala, de autoria de Luccas Soares, fundador e coordenador geral da instituição. A estreia será simultânea no Facebook, Instagram e YouTube.

Trata-se da terceira produção audiovisual do núcleo Pretas & Pretos, um dos grupos de representatividade do Instituto Anelo, uma associação civil sem fins lucrativos que há 22 anos oferece aulas gratuitas de música na região do Distrito do Campo Grande, em Campinas (SP).

As outras duas foram a regravação de Tributo a Martin Luther King, de Wilson Simonal e Ronaldo Bôscoli, e o lançamento de Carapuça, de Luccas Soares, canção esta que contou com a participação especial do cantor e produtor Wilson Simoninha, filho de Simonal, nos vocais. Ambos os vídeos podem ser conferidos no canal do Instituto Anelo no YouTube.

Deixa a Senzala foi gravada no próprio Instituto Anelo. Já o videoclipe teve como cenário principal as ruínas do Casarão do Jambeiro, sede da antiga Fazenda Jambeiro, um importante conjunto arquitetônico e ambiental da cidade tombado pelo Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc).

A canção, que pode ser considerada um chamamento para que mulheres pretas se libertem das amarras da opressão e do racismo para assumir o protagonismo a que têm direito na sociedade (leia letra abaixo), foi escrita por Luccas Soares para ser interpretada por uma mulher.

A voz perfeita encontrada pelo compositor foi a de Renata Alves, professora do Instituto Anelo. Com 27 anos, Renata é natural de São José do Rio Preto (SP) e é formada em Canto Popular pela EMESP Tom Jobim - Escola de Música do Estado de São Paulo, sendo que neste ano ela vai se formar na mesma modalidade pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Renata considera muito simbólica a gravação de uma música como esta, que será lançada em uma data tão significativa para a mulher negra. “Tudo o que envolve a nossa cor preta eu acho muito simbólico. O racismo sempre existiu, a gente sabe disso. Teve a escravidão. Houve um momento em que o racismo era mais velado, mas, nestes tempos que estamos vivendo, muitas pessoas não sentem mais vergonha de ser racistas”, afirma.

Ela também defende que canções como Deixa a Senzala alcancem a população como um todo. “Essas músicas não têm que chegar só pra gente, pro povo preto, elas têm que transcender e chegar a outras comunidades, a pessoas de outras raças, de outros gêneros, tem que chegar a todos. A gente já sabe do nosso sofrimento. Essas músicas e essas pautas têm que ser discutidas por nós, mas têm que ser mais discutidas pelas pessoas pessoas brancas”, afirma.

Para Renata, muita gente se esconde na frase “não estou no meu lugar de fala” para se distanciar de debates espinhosos como a questão do racismo. “Todo mundo tem um lugar de fala a partir do seu ponto de vista, do que você vive. Se você é uma pessoa branca, acho importante que você tenha pelo menos empatia com a pessoa preta. E leve em consideração todas as questões históricas e que a gente ainda presencia.”

E sobre ser mulher e preta? “A gente sabe que a mulher preta é estereotipada. Ela é sempre fogosa, hipersexualizada. As pessoas esquecem do fator mais importante, que é o amor. O preto também ama, não é só sexo, corpo”, afirma a cantora, que não passou imune a esse tipo de situação.

Luccas Soares, por sua vez, ressalta que Deixa a Senzala é dedicada a todas as mulheres pretas, e afirma que qualquer cantora que se sentir representada pela música e quiser gravá-la, poderá fazê-lo sem qualquer ônus. “Eu cedo todos os direitos autorais, a pessoa não precisa me pagar absolutamente nada. Se quiser gravar, fazer outro arranjo, dar outra interpretação e até mudar alguma coisa na letra se quiser, ela está livre.”

PRETAS & PRETOS

O grupo de representatividade Pretas & Pretos foi formado em 2021 e surgiu da necessidade de valorizar e destacar a presença do negro no Instituto Anelo, cujo quadro de professores é de maioria preta, portanto, um reflexo da sociedade brasileira - atualmente, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 54% dos brasileiros são negros.

O grupo é integrado por professores e colaboradores da instituição e trabalha um repertório de composições próprias, como as canções Deixa a Senzala e Carapuça, mescladas a standards da música brasileira que se tornaram sucesso com artistas negros, tais como o já citado Tributo a Martin Luther King e Olhos Coloridos, do cantor e compositor Macau, que conquistou o país na voz de Sandra de Sá.

O DIA 25 DE JULHO

O dia 25 de julho é de comemoração dupla para as mulheres negras. De acordo com o site da Oxfam Brasil (www.oxfam.org.br), em 1992, ano em que foi realizado, na República Dominicana, o 1º Encontro de Mulheres Afrolatinoamericanas e Afro Caribenhas, 25 de julho foi escolhido como o Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha. O objetivo foi marcar a data como um símbolo da resistência das mulheres negras contra a opressão de gênero, a exploração e o racismo.

No Brasil, na mesma data também se celebra o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Tereza de Benguela (1700-1770) foi uma líder quilombola que ajudou comunidades negras e indígenas na resistência à escravidão no século 18. Com a morte do marido, José Piolho, Tereza assumiu o comando do Quilombo Quariterê, que ficava no atual estado do Mato Grosso, e o liderou por décadas, tornando-se conhecida por sua visão vanguardista e estratégica.

O INSTITUTO ANELO

Fundado em 2000, o Instituto Anelo é um projeto intergeracional que já atendeu, ao longo de 22 anos de atividades, mais de 10 mil alunos em seus projetos. Alguns desses alunos tornaram-se músicos profissionais e professores, inclusive lecionando na própria instituição.

Atualmente, o Anelo trabalha com os seguintes projetos: Brincando com os Sons (de musicalização infantil), Instrumentos e Canto (ensino de instrumentos de cordas, teclas, sopros e percussão, além de canto coral) e Prática de Banda (música em grupo). Também possui a própria big band, a Orquestra Anelo, além de grupos de representatividade como o Pretas & Pretos e o de Mulheres.

SERVIÇO

Lançamento de Deixa a Senzala
Data: 25 de julho de 2022 (SEGUNDA-FEIRA)
Horário: 13 horas
Plataformas:
- Facebook (facebook.com/institutoanelo)
- Instagram (@institutoanelo)
- YouTube (youtube.com/institutoanelooficial)

 

Teaser do lançamento: https://youtu.be/NAn0xTaT1Qw 

FICHA TÉCNICA

Deixa a Senzala

Composição: Luccas Soares
Arranjo: Deivyson Fernandez, Romulo Oliveira e Josimar Prince
Direção geral: Luccas Soares
Produção executiva: Jéssica Rodrigues
Captação de áudio: Deivyson Fernandez, Romulo Oliveira e Felipe Gondim
Mixagem e masterização de áudio: Thiago Santana
Captação de imagens e edição de vídeo: Marlon Rissatto
Realização: Instituto Anelo

Músicos:

Renata Alves (voz)
Simone Janita (voz)
Jéssica Rodrigues (voz)
Luccas Soares (voz)
Josimar Prince (voz)
Levi Macedo (voz)
Romulo Oliveira (voz)
Michael Charles Santiago (voz)
Jéssica Rodrigues (trompete)
Gláucio Sant’Ana (trombone)
Romulo Oliveira (sax soprano e flauta)
Edmilson Santos (sax tenor e flauta)
Matheus Soares (sax barítono)
Josimar Prince (violão)
Renan Augusto (guitarra)
Deivyson Fernandez (piano)
Josias Teles (baixo)
Filipe Lapa (bateria)
Renato Frederico (percussão)

Letra:

“Preta, sai da senzala, a voz que fala pertence a você.
Preta, quebra a corrente, a gente é gente, igual a você.
Preta, não é castigo, nem apelido, é o poder.

De um povo que veio da África, banhado na própria lágrima, marcado no coração, o preço da escravidão.

Preta, quanta maldade, ato covarde, sangue na mão.
Preta, teve abuso, depois de tudo, jogado no mar.
Preta, a piedade não teve coragem de vir salvar.

Do som desse sofrimento, deixado no esquecimento, uma nação sem noção que nega o que diz a canção.

Preta, sai da senzala, a voz que fala pertence a você.
Preta, quebra a corrente, a gente é gente, igual a você.
Deixa a senzala cantar, deixa, deixa cantar.
Preta, quebra a corrente, a gente é gente, igual a você.
Preta, sai da senzala, a voz que fala pertence a você.
Preta, sai da senzala, a voz que fala pertence a você.
Preta, sai da senzala.”




Arte Divulgação Renata Alves Renata Alves

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