*José Renato Nalini
Talvez ambas. O ambiente, embora
imprescindível e valioso, não tem muitos amigos. Ao contrário, sobram inimigos.
Desde os criminosos que exterminam a floresta Amazônica, invadem reservas
naturais e desrespeitam áreas demarcadas em favor dos verdadeiros donos da
terra, os indígenas, até o aparente inofensivo indivíduo que desrespeita a
natureza em sua rotina. Gastando água em demasia. Desperdiçando energia
elétrica, produzindo resíduos sólidos em abundância, poluindo ruas, rios e
oceanos.
Poucos se salvam nessa empreitada
que representa verdadeiro suicídio coletivo. Tão irracional a primícia dentre
as criaturas, a única a se vangloriar de sua racionalidade, que prefere acabar
com a experiência da vida neste frágil e sofrido planeta.
Dentre os “amigos” do ambiente estão
as crianças. Ainda puras, ainda ingênuas, sensíveis e aptas a enxergar que “o
rei está nu”. Um rei tosco, rústico e mal-educado. Penso na sutil ironia do
filme “Um Pequeno Grande Plano”, dirigido por Louis Garrel e que, pretendendo
ser comédia, é na verdade uma lição de ética ecológica.
Escancara o cinismo dos adultos
quando o assunto é ecologia, embora a Terra lance candentes sinais de exaustão.
Nela, a vida está com os dias contados. As frases de costume são: “é exagero da
mídia para ter audiência”, “é estratégia do liberalismo para vender”, “os
catastrofistas são poetas”, “o que interessa é vender e transformar tudo em
cifrão”.
A infância é menos hipócrita.
Percebe que os adultos estão “se lixando” e resolvem atuar. Por isso existem
Gretas Thunberg, não só na Escandinávia, mas em todos os continentes. Para os
cineastas franceses Louis Garrel e Jean-Claude Carrière, que o cinema perdeu há
pouco, o Brasil protagoniza a sua versão “Pária Ambiental”. Numa das cenas, no
final da película, uma das crianças afirma que o projeto de salvar o mundo
consiste em “fazer exatamente o contrário dos brasileiros”, que exterminam suas
florestas.
Que orgulho em ser brasileiro neste
fatídico e emblemático ano de 2022!
*José Renato Nalini é
Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-Graduação da UNINOVE e Presidente da
ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2021-2022.
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