Uma justiça tardia

 





28 | JUN | 2022

Você sabe quem foi Antonio Tavares? Eu também não sabia até outro dia.

 Buscando no Google, encontrei um escritor português, um urologista e um leiloeiro, antes de chegar à segunda página que me mostrasse uma matéria do ano 2000, sobre seu assassinato. Agricultor, pai de cinco filhos, 38 anos, Antônio Tavares levou um tiro da PM numa emboscada armada na BR-277, no Paraná, durante o governo Jaime Lerner (1994 a 2002). Ele estava em um dos 50 ônibus com integrantes do Movimento Sem Terra, indo para um ato na capital paranaense pelo dia 1º de maio. Foram mais de 300 feridos e ele perdeu a vida.

Foi somente nesta segunda, 27 de junho de 2022, mais de 20 anos depois que o caso de Tavares ocupou as páginas do google novamente. Desde ontem, o Estado brasileiro está sendo julgado na Corte Interamericana de Direitos Humanos, na Costa Rica, por esse crime. A Globo News recuperou as imagens violentas na época para relatar o caso e entrevistou a viúva.

 A ação é um desdobramento da denúncia protocolada contra o Estado brasileiro pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), Justiça Global, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares (RENAP) e Terra de Direitos. Tavares é o terceiro caso levado à Corte na história.

Em 2021, o mesmo tribunal julgou um caso de violação de direitos humanos registrado na Paraíba, em 1998. Na condenação ficou determinado o pagamento de dano moral e material à família de uma mulher vítima de feminicídio. No caso de Tavares, a sentença pode levar ainda um ano para sair. O julgamento continua hoje e pode ser acompanhado em transmissão pelo youtube.

Uma justiça ainda que tardia que pode minimamente garantir uma forma de reparo financeiro para a família. Mas com prazos como esse, poderíamos pressupor que crimes recentes, como o de Genivaldo, asfixiado com gás na traseira de um carro da PM em Goiás, possa chegar próximo à metade do século, em 2050 para ter o mesmo destino.

Uma justiça tardia, tempo de uma vida.

#DESTAQUES 

Oceanos - Na abertura da Conferência dos Oceanos ontem, em Lisboa, o secretário-geral da ONU afirmou que manter mares saudáveis e produtivos é vital para a humanidade que o mundo enfrenta emergência para preservá-los

Multas - Despacho assinado pelo presidente do Ibama, Eduardo Fortunato Bim, pode fazer com que a União deixe de receber ao menos R$ 3,6 bilhões em multas por infrações ambientais. MPF vai investigar. 

Sem comemoração - No Dia do Orgulho, levantamento do Grupo Gay Bahia aponta que Brasil registrou 135 mortes violentas de pessoas LGBTQIA+ no primeiro semestre de 2022. 

Cotas - O Valor mostra que uma a cada três universidades federais tem cota para trans, mas que vagas estão concentradas na pós-graduação. 

#ARTIGOS

António Guterres - Temos de acabar agora com vício em combustíveis fósseis

Caio Magri - Empresas têm de encarar inclusão como meta a ser cumprida

Ricardo Sales - Não basta celebrar o orgulho LGBTI+, é preciso entendê-lo

Fabiana Moraes - O Judiciário e o Ministério Público estão descolados da realidade brasileira

Márcio Oliveira - ESG e a relação com os clientes 

Miriam Leitão - Por que apenas 40% acham que presidente do Brasil incentiva o desmatamento

Opinião Estadão 2 - Brasil, um gigante anêmico

Renan Sukevicius - Os Estados Unidos são a gente amanhã?

Caio Callegari e Pollyana Gama - Lentes de equidade

Opinião Estadão - Mais combustível, menos concorrência

Carolina Vila-Nova - Como você, leitora, se sente diante das últimas notícias sobre direito reprodutivo?

Cristina Serra - Aborto, cidadania e democracia

Daniela Grelin - Empreendedorismo e comunidade

Michael França - Ainda não lidamos com a endogamia nas universidades

Renê de Oliveira Garcia Junior e Tomaz Leal - Redução do ICMS é irracional

Opinião O Globo - Queda das criptomoedas soa alarme para necessidade de regular mercado

Rodrigo Rattier - Há uma revolução silenciosa nas universidades. O Brasil vai aproveitar?

Preto Zezé - Transatlântico quase afundou em Cannes por falta de diversidade

Opinião Folha de S. Paulo - Expulsos de casa

#EMPRESAS

Cargill lança duas novas iniciativas nas áreas de restauração e regularização ambiental. 

Polo, Weg e Renault constroem ecoposto solar público para carregamento de veículos elétricos em Fernando de Noronha.

Comentários