Em um cenário de polaridade acirrada, há um crescente anseio vocal na sociedade. As pessoas, empresas e organizações procuram espaços para vocalizar suas agendas, demandas, posições... “Resolvi falar, sou bissexual”, disse Richarlyson, ex-jogador e hoje comentarista, com um movimento pioneiro e corajoso no futebol brasileiro. Já a bióloga Cris Machado perguntou: “Por que não se pode falar de exaustão materna?” Em entrevista ao jornal O Globo, ela, que recém-lançou o livro ‘Exaustão não é amor’, falou sobre a pressão velada da amamentação sobre as mulheres, encarando de frente um tabu ainda vigente. Semana passada, no Vaticano, o Papa Francisco se reuniu com 17 bispos que atuam nos Estados da Amazônia e disse: “Vocês estão na fronteira, com os mais pobres. Estão onde eu gostaria de estar.” A fala aconteceu depois que recebeu um relatório do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), que aponta o aumento dos conflitos na região nos últimos quatro anos. Uma declaração que fortalece a atuação local em defesa das comunidades indígenas da Amazônia. E se soma a tantas outras vozes que denunciam o avanço da criminalidade na região. “Precisamos resgatar a Amazônia das mãos dos criminosos”, anunciaram Paulo Moutinho, Rodrigo Soares e Alexandre Mansur, em artigo publicado ontem no portal Um Só Planeta, no qual denunciam o avanço desenfreado da grilagem e do desmate ilegal sobre terras públicas na região amazônica. Divulgado ontem, o 16º Anuário de Segurança Pública mostrou crescimento da letalidade nas cidades rurais da Amazônia: dos 30 municípios mais violentos do Brasil, quase a meta (43%) fica na região. No artigo de Moutinho, Soares e Mansur, há uma associação histórica, direta e ininterrupta do aumento da violência na região amazônica ao longo das últimas duas décadas com três atividades ilegais: grilagem, exploração ilegal da madeira e exploração ilegal do ouro. Falar é preciso, pois quem cala, consente! Assim, vale trazer a provocação que a Vogue Internacional trouxe sobre a necessidade de falarmos sobre o impacto das devoluções online no mundo da moda: considerando que 2,6 milhões de toneladas de devoluções acabaram em aterros em 2020 somente nos Estados Unidos, segundo levantamento da empresa de logística reversa Optoro. Muita gente está preparada para soltar a voz e ainda bem que há espaços para isso. É hora de dar voz às diferenças, à ciência, à defesa da Amazônia, às denúncias contra a democracia, a um novo modelo de produção e consumo... Mas, claro, não dá pra falar por falar apenas. Há momentos mais adequados, há o chamado lugar de fala. Às vezes, o silêncio pode ser a melhor resposta e, em outras, ele chega a ser ensurdecedor. Ou ainda, o silêncio pode ser um espião, como brilhantemente escreveu o poeta Mário Quintana. |
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