*José Renato Nalini
Numa República em que a regra é
orçamento secreto, reserva de seis bilhões para Fundões Eleitorais enquanto
milhões de brasileiros passam fome, não se espere notáveis exemplos de honradez
e dignidade na política profissional. Mas já fomos melhores. Muito melhores.
Seria bom que os jovens lessem a
autobiografia do Visconde de Mauá, Irineu Evangelista de Souza, cujo título é
“Exposição do Visconde de Mauá aos Credores de Mauá & Companhia e ao
Público”. Foi publicada em 1878, como prestação de contas, depois da falência
de um dos brasileiros que mais investiu em sua Pátria e com irrepreensível
honestidade de propósitos.
Ele começa por afirmar que ainda
jovem, mercê de infatigável e honesto labor, conquistara uma fortuna. Poderia
desfrutá-la, mas seu patriotismo impôs uma batalha entre o egoísmo e as ideias
generosas que o arrastavam a outros destinos: promover o desenvolvimento de sua
pátria e de sua gente.
Ele se propõe a prestar contas, com
o único objetivo de salvar do naufrágio aquilo que para ele valia mais do que
ouro: “um nome puro, pois persisto em acreditar que o infortúnio não é um
crime”.
Faz meticuloso relatório de todas as
empresas que fundou e de todos os investimentos que mereceram seu capital e seu
trabalho, além daqueles aos quais emprestou apoio prestigioso. Culmina por
elencar as causas de seu insucesso financeiro. A causa primordial foi uma
intervenção indébita do Executivo, com decreto de efeito retroativo, em abrupta
mudança das regras do jogo. A famosa imprevisibilidade que acarreta insegurança
jurídica e que, até hoje, afasta bons investidores do Brasil. A segunda causa é
a profusão de leis financeiras que excluem a iniciativa individual e impõem
desastrosa tutela governamental.
A terceira causa é a injustiça de
decisões judiciais por equivocadas apreciações. Os profissionais da área
jurídica deveriam examiná-las para não reiterarem o decisionismo insensato que
não avalia as consequências que advirão de uma aplicação rígida da letra de uma
lei sempre defeituosa, pois fruto de um Parlamento sui generis, como é o
brasileiro.
Quais dos investidores mal-sucedidos
em nossos dias, que se propõem a fazer essa pública prestação de contas? Quem
souber de algum, por favor, faça-me saber, para louvar sua atitude.
*José Renato Nalini é
Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Presidente da
ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2021-2022.
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