*José Renato Nalini
É de Max Weber o asserto: há um
inimigo vulgar, muito humano, que o homem político deve dominar a cada dia e a
cada hora: a muito comum vaidade ela é inimiga mortal de qualquer devoção a uma
causa, inimiga do recolhimento e, no caso, do afastamento de si mesmo.
Foi Matias Aires quem escreveu
clássica obra, o Tratado sobre a vaidade dos homens. Para Weber, “a vaidade é
um traço comum e, talvez, não haja pessoa alguma que dela esteja inteiramente
isenta. Nos meios científicos e universitários, ela chega a constituir-se numa
espécie de moléstia profissional”. Se a vaidade literária, judiciária,
científica, talvez não causem grandes prejuízos, permanecendo numa espécie de
bolha, já em relação aos políticos ela é letal.
O desejo do poder é a mola
propulsionadora do político. É um instinto que poderia resultar em benefício
para a coletividade, não houvesse a venenosa vaidade a conspurcar a atuação do
profissional da política. Não raro, aliás, é o que existe de mais corriqueiro,
que “sem qualquer objetivo, em vez de se colocar exclusivamente ao serviço de
uma causa, não consegue passar de pretexto de exaltação pessoal”.
A vaidade é a necessidade de se
colocar pessoalmente, da maneira a mais clara possível, em primeiro plano. E
isso induz o homem político à tentação de cometer todos os pecados que se
conhece. Para Max Weber, “a mais ridícula caricatura da política é o daquele
que se diverte com o poder como um novo rico ou como um Narciso vaidoso de seu
poder, em suma, como adorador do poder pelo poder”.
O politiqueiro do poder é cultuado
pelos áulicos. Há sempre um séquito de fiéis aduladores, que não hesitam em
aplaudir, embora o vaidoso só consiga mostrar o vazio de sua ausência de
ideias, de projetos, de planos e de metas. É o absurdo que se abriga nos gestos
plenos de arrogância, demonstração de fraqueza e de impotência, numa
dissimulação de autoridade que não tem sustentação.
Na visão de Max Weber, “política
dessa ordem não passa jamais de produto de um espírito embotado, soberanamente
superficial e medíocre, incapaz de apreender qualquer significação da atividade
humana. Nada, aliás, está mais afastado da consciência do trágico, de que se
penetra toda ação, e, em especial, toda ação política, do que essa mentalidade”.
Vaidade, vulgar inimiga e assídua
companhia de certos políticos.
*José Renato Nalini é
Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Presidente da
ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2021-2022.
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