*José Renato Nalini
O descalabro em que o planeta se
encontra deriva da negligência em formar gerações conscientes de seu papel
nesta jornada. A educação antiga não privilegiou o capítulo do relacionamento
entre ser humano e natureza, esta concebida na velha formatação de servir,
incondicionalmente, aos interesses dos “racionais”.
Se existe alguma esperança de
reversão do quadro tétrico anunciado pela ciência, é preciso cuidar das
crianças de hoje. Elas são sensíveis e terão respostas mais saudáveis do que as
nossas em relação ao sofrido ambiente.
Não temos uma Greta Thunberg,
corajosa ao “puxar a orelha” de governantes toscos. Mas temos crianças que, à
sua moda, estão cuidando de salvar o mundo. O jornalista Italo Cosme fala de
algumas crianças que já lideram ações benéficas. Vitória Skuera e Pietra
Marcolino, ambas com nove anos, participam de uma cooperação internacional
organizada pela Maple Bear em trinta países. Propõem soluções baseadas nos ODS
da ONU. Bruna Saches, com doze anos, é vegana desde os quatro e hoje é
embaixadora da campanha global Plant Based Treaty, que promove ações em cem
cidades do mundo. Os maiores problemas do Brasil são a produção exagerada de
lixo, queimadas e caça. Já Eloah Silva, com oito anos, é uma das mais ativas no
Projeto Neac, no Rio. Troca material reciclável por Eco Real – a moeda
sustentável mais antiga do país. Retira das vias a maior quantidade de lixo
possível para trocar pelo dinheiro. Tudo com a ajuda de dois irmãos ainda mais
novos.
Nos manguezais, Haley Sá Barreto,
doze anos, mostra para outras crianças que a relação com os mangues pode ser
diferente e saudável. Percorre 1,5 km de trilha no Eco-Museu para apresentar
fauna e flora. No documentário do americano Bryan Buckley figura João Paulo
Barrera, onze anos, como exemplo de criança que transforma o mundo. Ele criou
dois projetos para limpeza de resíduos e escreveu três livros sobre o espaço
sideral. Para João Paulo, não importa a idade, todos devem seguir a filosofia
dos 3 Rs: Reduzir, reutilizar e reciclar.
Tenho a certeza de que outras
crianças também fazem o que podem. São elas que nos ensinam que é possível
assegurar um amanhã menos sombrio para os viventes e, principalmente, para os
que ainda não nasceram. Mas é preciso começar logo. Se não se começa cedo,
acaba-se como nós, aturdidos e apavorados, em pânico diante do que a ciência
nos afirma que logo virá.
*José Renato Nalini é
Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Presidente da
ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2021-2022.
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