A fome que nos confronta

 




30 | SET | 2021

Osso. Pelanca. Pele. Restos de carne que antes eram jogados aos cachorros, agora são disputados por seres humanos num garimpo esfomeado do Brasil de 2021. A cena exibida na capa jornal Extra de ontem, exemplifica bem a situação do País que já foi a sexta economia do mundo e hoje ocupa o 13º lugar entre 15 nações que representam o ranking do PIB mundial. E se você não se sente ultrajado com essa cena, sinto informar, mas você já deixou de ser humano.

Em 2020, a fome atingiu 19 milhões de brasileiros, conforme dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil. Em outro estudo, a Integration Consulting mostrou que 55% da população brasileira, 116,9 milhões de pessoas, tiveram algum grau de insegurança alimentar em 2020. Lembrando que o Brasil paralisou ações de combate à fome gradativamente desde 2014, contínuos avanços nesta seara ao longo de 20 anos. O menor patamar foi em 2013, quando 7,2 milhões de pessoas passavam fome, ou 3,6% da população.

Ante os números e o cenário trágico, o ministro Dias Toffoli, determinou que o governo federal apresente, em 10 dias, informações sobre suas políticas públicas em relação ao combate à fome, atendendo ação da OAB que aponta irregularidades nas ações do governo em relação ao tema: violação de cláusulas constitucionais que garantem a dignidade da pessoa humana, o direito à vida, os direitos sociais - incluídos o direito à saúde e à alimentação – e ainda cláusulas que asseguram a promoção do bem de todos sem qualquer forma de discriminação e redução das desigualdades sociais e regionais.

Em julho, o projeto #Colabora destacou o retrocesso do Brasil em todos os ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável), com destaque para o ODS 1 e o ODS 10, respectivamente de combate à miséria e redução de desigualdades. Entre as causas estavam a estagnação de políticas sociais de distribuição de renda, a redução das pensões e aumento dos requisitos para obtenção de aposentadorias, para além da pandemia e ainda sem incluir na lista a inflação que galopa sobre a população, puxada pela alta ensandecida dos combustíveis.

É fato que há necessidade urgente de se cobrar do governo medidas que façam valer a Constituição e garantir o combate à fome e à miséria no País. Mas também é fato que a sigla ESG ou o tal capitalismo de stakeholder que tanto se fala hoje, viram pó, diante da cena em que pessoas disputam pele e osso espalhados na traseira de um caminhão qualquer.

De acordo com a TrackInsight, dos 758 ETFs negociados em pregões pelo mundo, 316 são baseados em índices que consideram algum ODS na hora de selecionar as empresas da carteira. Existem, por exemplo, 15 fundos formados só por companhias com boa diversidade de gênero, o ODS 5. Há até mesmo um ETF dedicado ao ODS 14 (Vida na Água), cujo critério para seleção da carteira são empresas com práticas sustentáveis em relação aos recursos oceânicos. Só não existe nenhum fundo de investimento no mundo que mencione a erradicação da pobreza, o ODS 1

Enquanto houver ser humano disputando osso com cachorro, ficamos combinados que falar de mercado de carbono, combate às mudanças climáticas e políticas de diversidades nas empresas, passam a ser falácias na hora de tratar de desenvolvimento “sustentável”.

Ou mudamos a sanha ensandecida de acionistas por lucro, ou admitimos que ESG é apenas um fetiche, como diz Clotilde Perez, ou ainda tiramos o S do ESG, e assumimos que viramos robôs, sem qualquer humanidade e estamos todos apartados da realidade.

"Se executivos se seduzem pelo ESG é porque nada ou muito pouco está sendo realmente feito. Se ESG surge com tanta força é porque “algo” está muito errado. E esse “algo” é justamente a sobrevalorização dos lucros em detrimento do bem comum."

#DESTAQUES

Amazônia - Os gastos militares na Amazônia cresceram 178%, mas isso não se refletiu em melhorias nos índices de desmatamento, que se mantém em alta. Desde que as Forças Armadas passaram a fazer o combate direto à derrubada da floresta, em 2019, a área desmatada se manteve acima dos 10 mil km² – o que não acontecia desde 2008.

Pantanal - As cheias no Pantanal estão alagando menos e o período de inundação também diminuiu. Levantamento feito pela rede MapBiomas mostra que a área coberta por água e campos alagados na cheia de 2018 alcançou 4,1 milhões de hectares, 29% a menos do que a cheia de 1988. A cheia que durava seis meses agora dura dois.

Desmatamento - Uma área equivalente ao Chile, ou 74,6 milhões de hectares, em cobertura vegetal natural deixou de existir nos países que abrangem a chamada região pan-amazônica, entre 1985 e 2020, com o avanço da mineração e agropecuária. Levantamento do MapBiomas mostra que nesse período, a mineração cresceu 656%, a agricultura/pecuária aumentou 151%, e a infraestrutura urbana deu um salto de 130%.

#ARTIGOS

Daniel Vargas - A nova dívida internacional brasileira?

Alexandre Mansur - Como as empresas brasileiras podem cuidar do clima e gerar valor

Francine Lemos - Iremos alcançar as metas da Agenda 2030?

Joaquim Levy - Soluções baseadas na natureza em Glasgow

Roberto Abdenur - Meio ambiente será centro da relação Alemanha-Brasil

Antônio José Barreto de Araújo Júnior - Mudanças climáticas: riscos e oportunidades ASG

Ronaldo Ferreira Júnior - Comunicação inclusiva em alta

Maria Alice Setubal, David Saad, Paulo Emílio Andrade, Ricardo Henriques e Fernanda Rennó - Uma ponte entre a escola e as Amazônias

Cida Bento - Equidade racial se destaca no debate de ESG

Rodrigo Tavares - Pode um produto ser sustentável se for transportado de forma insustentável?

#EMPRESAS

AES Brasil levantou R$ 1,12 bilhão em oferta de ações

Rolls-Royce anunciou o fim da produção de carros a gasolina até 2030

Itaú vai apostar em fundo de hidrogênio

Nu invest e a Teva Indices lançaram um levantamento exclusivo de empresas listadas na B3 que contam com maior presença de mulheres em seus conselhos de administração

#ENTREVISTAS

Diversidade Sempre - Sócio-fundador do Cescon Barrieu Advogados, Mauricio Teixeira dos Santos, defende que promover a equidade de gênero nos escritórios é fundamental para garantir a qualidade do trabalho, em entrevista à Época Negócios.

Biogás - Em entrevista à epbr, Tamar Roitman, gerente executiva da ABiogás (Associação Brasileira do Biogás), conta que grandes indústrias já valorizam o biometano como uma alternativa para substituir combustíveis fósseis e reduzir emissões de carbono.

#AGRONEGÓCIO

Produção Sustentável - Representantes do governo e do setor privado do Brasil garantiram nesta quarta-feira, em evento virtual na Organização Mundial do Comércio (OMC), que o Brasil quer liderar o comércio e a produção agrícola sustentável.

Mudanças Climáticas - O setor de biogás do Brasil e as cadeias produtivas agrossilvopastoris da Amazônia terão à sua disposição novos mecanismos de financiamento devido ao efeito positivo que promovem na mitigação das mudanças climáticas.

Energia própria - Em tempos de crise energética no Brasil, o meio rural atingiu a marca de 1 gigawatt de potência instalada em geração distribuída, aquela em que se produz a própria energia, reduzindo os custos com eletricidade em cerca de 95%.

#CLIMA

Reunião - A partir de hoje, autoridades e especialistas de todo o mundo se reúnem em Milão, capital econômica da Itália, para a pré-COP26. Trata-se de um evento preparativo para a 26ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP26

#ENERGIA

Créditos de Carbono - Em meio a um processo de transição energética e de demanda crescente por investimentos em energia limpa, Brasil, Peru e Colômbia concentram 80% das oportunidades de emissões de créditos de carbono na América Latina, segundo estimativas da consultoria S&P Global Platts.

Energia Limpa - Estudo inédito lançado pela Catavento Consultoria alerta para risco de escassez e alta de preços de minerais para geração de energia limpa.

#FINANÇAS

Fundos ESG - Dois novos fundos brasileiros acabam de ser desenhados para destravar mais de R$ 500 milhões em investimentos diretos em projetos ESG. Os dois instrumentos estão sendo lançados hoje pelo Laboratório Global de Inovação em Finanças Climáticas, um programa de aceleração de inovação financeira.

Investimentos - O primeiro fundo de investimento em participações, chamado de FIP, de créditos de carbono do país captou R$ 51 milhões de 60 cotistas em quatro meses. Batizado de FIP Carbono, ele foi criado para ampliar a escala, a liquidez e a eficiência da formação de preços dessa modalidade de investimento.

#MEIO AMBIENTE

Extinção - O pica-pau-bico-de-marfim e mais 22 pássaros, peixes e outras espécies serão declarados extintos pelo Serviço de Peixes e Vida Selvagem dos Estados Unidos. O pica-pau-bico-de-marfim inspirou o personagem de desenho animado Pica-Pau está entre essas espécies.

#POLÍTICA

Normas Ambientais - A Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara aprovou nesta quarta um convite ao ministro da Economia, Paulo Guedes, para que ele explique aos deputados o pedido de flexibilização de normas ao Ministério do Meio Ambiente.

#SOCIAL

Gás de Cozinha - A liberação de R$ 300 milhões pela Petrobras para ajudar a população mais carente a consumir gás de cozinha, anunciada ontem, pegou de surpresa empresas do setor, que não foram comunicadas antecipadamente pela estatal. A estimativa é de que 400 mil famílias sejam beneficiadas.

Estratégia ESG é uma iniciativa de Alter Conteúdo em parceria com a agência epbr

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