*José Renato Nalini
O ser humano é uma espécie
paradoxal. Capaz do mais devotado altruísmo e também da mais cruel violência. Às
vezes, o mais pacífico dos indivíduos, quando provocado, reage como primata.
Afinal, somos civilizados ou selvagens? Pode ser que sejamos ambos a um só
tempo.
O livro “Comporte-se: a biologia
humana em nosso melhor e pior”, do cientista Robert Sapolsky ajuda a conhecer
melhor a natureza do bicho racional. Não se propõe a desvendar o motivo pelo
qual mães matam filhos, maridos matam mulheres e vice-versa, porque há
carnificinas, crueldades inimagináveis com pessoas aparentemente sãs,
infligindo maldades em vulneráveis. O que ele mostra é que o bem e o mal estão
entrelaçados na mesma pessoa.
Parece de bom tom dizer que não se é
violento e não se aprova qualquer exercício de violência. Mas isso é para o
discurso. Quando se vê um filho agredido, então a violência vale. Reagir de
forma semelhante, mas com sinal inverso, é o justo. O ofensor “merece” essa
reação.
A ciência pode mostrar um mosaico de
influências que faz o ser humano reagir de uma forma num episódio e de outra
numa ocorrência análoga. Para isso servem a psicologia social e comportamental,
a neurociência, a endocrinologia, a genômica, a antropologia e a arqueologia, a
sociologia e a ética ou ciência moral. O humano é uma criatura provida de
várias personalidades. A dupla personalidade é muito pouca para conter o
cadinho e multiversidade de tons no comportamento da espécie.
A educação pode controlar os gestos
mais incontidos e refrear os rompantes? Ajuda, mas não é milagrosa. Não é
verdade que o estágio civilizatório evidencie uma ascensão na trajetória da
humanidade, que os ufanistas presumem seja perfectível.
Isso parece servir para a demonstração
de que o bicho-homem é surpreendente, quando encarado de frente e muito
próximo, ninguém pode ser considerado “normal”. Ajuda a desenvolver a humildade
e a adotar técnicas de controle, para que não haja irrupção intempestiva,
causadora de desatinos, que justificam a existência do consistente arsenal da
segurança e do sistema Justiça. Controlemo-nos!
*José Renato Nalini é
Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Presidente da
ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2021-2022.
Comentários
Postar um comentário