O risco de ficar de fora do clube

 

30 | AGO | 2021

Bom dia!

Ponto nevrálgico da atual agenda climática, o famigerado Artigo 6 do Acordo de Paris – que trata da cooperação e da regulação de um mercado global de carbono – certamente estará na berlinda novamente em novembro, na COP 26, em Glasgow, na Escócia. Nas últimas duas Conferências do Clima – em Madri, na Espanha (2019) e em Katowice, na Polônia (2018) – não houve consenso entre os países para a regulamentação do Artigo 6, o que faz crescer ainda mais a expectativa para a próxima edição.

A possibilidade de criação de instrumentos de mercado que permitam que os países cooperem para reduzir emissões de gases de efeito estufa abre uma janela de oportunidades em diferentes frentes. Todos os países estão de olho nesse novo mercado e o Brasil tem condições para entrar nesse jogo com vantagens competitivas. Embora tenha manifestado interesse, o Brasil não foi selecionado pelo Banco Mundial para o PMI (Partnership for Market Implementation), programa que apoia países a implementarem sistemas de precificação de carbono.

O Banco Mundial selecionou oito países para o PMI, entre eles, Chile, Colômbia e México, que estão em processo mais avançado nesta agenda. Embora o Brasil tenha um estudo detalhado desde o fim de 2020, o projeto não avançou no Ministério da Economia desde então e perdemos uma oportunidade ímpar para alavancar a implementação de um mercado de carbono no país.

É certo que a precificação do carbono impulsionará investimentos em tecnologias de baixa emissão. Estudos do Partnership for Market Readiness (PMR), finalizados em 2020 pelo Ministério da Economia – com a participação da sociedade civil e empresas –, mostram que a precificação viabiliza oportunidades de baixo custo e alto potencial em projetos de eficiência energética, redução do desmatamento, aumento do reflorestamento e ganhos de produtividade na agropecuária.

O PMI – segundo passo ao PMR – começa a operar em 2021 com meta de capitalização de US$ 250 milhões e duração de 10 anos. De acordo com o Banco Mundial, o que colocou o Brasil atrás de Chile, Colômbia e México nessa seleção foi a ausência de um marco regulatório desse mercado. Há no país hoje apenas um mercado voluntário, onde algumas empresas assumem compromissos com a descarbonização por conta própria.

A cerca de dois meses da Conferência do Clima, preocupa não só o fato de o Brasil estar fora do programa de implementação do Banco Mundial. Acendeu também o sinal de alerta para o risco de o Brasil ficar de fora do ‘clube’ dos países que já têm mercado interno de carbono – segundo o Banco Mundial, há hoje no mundo 64 iniciativas (em países e regiões) de precificação de carbono em vigor –, caso se confirme a regulamentação do Artigo 6 na COP 26 e a criação de um acordo global. Não foi coincidência a China ter criado seu mercado de carbono em julho passado. Os chineses têm consciência da importância estratégica dessa agenda e não querem ficar de fora. Já o Brasil, sem uma regulamentação interna, assume o risco de ficar em desvantagem apesar de todo o potencial ambiental que possui.

Boa leitura!

#DESTAQUE

Garimpo - Uma pesquisa da MapBiomas aponta que a área ocupada pelo garimpo dentro de terras indígenas cresceu 495% nos últimos dez anos. Reportagem do Fantástico, da TV Globo, foi até a terra Kayapó, no Pará, para mostrar a situação. O Valor Econômico também trouxe informações sobre o caso. A presença de garimpo em atividades de mineração em unidades de conservação e em terras indígenas explodiu nos últimos dez anos. Nas unidades, houve um salto de 301% na área de exploração de 2010 a 2020.

Folha ESG - Especial ESG da Folha deste final de semana mostrou o cenário da regulação do crédito de carbono no Brasil e como as empresas estão se comprometendo com metas ambientais. 

#ARTIGOS

Sergio Gusmão Suchodolski - Um novo paradigma na relação entre meio ambiente e economia

Luiz Carlos Trabuco Cappi - O Dia da Amazônia

Opinião O Globo - Governo precisa agir com urgência para evitar apagão

Luis Henrique Guimarães - A hora e a vez do mercado de carbono no Brasil

Giuliana Vallone - O papel das empresas diante da ineficiência pública

Erika Gottfritz - Biodiversidade: Um caminho possível para uma cadeia mais sustentável

Antonia Moreira - Se diversidade é uma disputa, as tecnologias sociais estão nos municiando?

Editorial O Globo - Aumento de incêndios florestais expõe desmonte da fiscalização

Opinião Estadão - A liderança autêntica como instrumento para o sucesso da diversidade e inclusão nas empresas

Cláudio Sá Leitão - Agenda ESG veio para ficar

#ENTREVISTAS

Marfrig - Paulo Pianez, diretor de sustentabilidade e comunicação da Marfrig, afirmou em entrevista à Folha, que o setor do Agronegócio já se compromete com o ESG, mas paga o preço dos problemas ambientais de uma pequena parcela.

Diversidade - Em entrevista ao O Globo, a presidente da Procter&Gamble, Juliana Azevedo, falou sobra a ampliação das ações pró-diversidade étnica e LGBQTIA+ dentro da companhia.

Gerdau - Em entrevista à Folha, o presidente do conselho da Gerdau, Guilherme Gerdau, falou sobre as ações ESG implantadas pela empresa nos últimos anos, como investimento de R$20 milhões no social e busca por líderes mulheres e negros.

#EMPRESAS

Philip Morris International anunciou que quer vender menos cigarro e atrair investidores ESG.

Effect Sports, empresa dedicada à organização de eventos esportivos, está direcionando para ações socioambientais e de sustentabilidade.

#EVENTOS

Sociedade - Especialistas que participaram da Conferência Brasil Verde falaram sobre a importância da discussão sobre sustentabilidade para a população em geral, e que todas as pessoas têm seu peso na discussão climática.

#AGRONEGÓCIO

Cana - O setor sucroenergético está um passo à frente de outros setores do agronegócio em ESG, Gonçalo Pereira, coordenador do Laboratório de Genômica e Bioenergia da Unicamp, em live promovida pela Globo Rural.

#CLIMA

Mudanças Climáticas - As crianças vivendo em países como Guiné-Bissau, Chade, Nigéria e República Centro-Africana têm mais risco de sofrer os impactos da mudança climática, que ameaçam sua saúde, educação e proteção. Esta é uma das conclusões de um estudo lançado pelo Unicef.

Temperatura - O relatório Estado do Clima 2020, recém-publicado pela Sociedade Meteorológica Americana, o ano de 2020 foi o mais quente já registrado na Europa. Os dados apontam ainda que a crise climática é ainda mais preocupante para o Brasil.

#ENERGIA

Mercado Livre - Suplemento Especial do Valor Econômico mostra as iniciativas ESG das empresas do setor de energia que já impactam nos resultados e no nível das emissões e das metas ambientais

La Niña - Os técnicos do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) já estão em alerta para os possíveis efeitos do fenômeno climático La Niña, a partir de outubro, no regime de chuvas no país, que podem cair de 10% a 30% no centro-sul do país, onde a estiagem neste ano colocou em alerta os reservatórios de usinas hidrelétricas.

Reservatórios - O Brasil tem hoje 30 hidrelétricas já sofrendo perda de potência por causa dos baixos níveis dos reservatórios, estima a consultoria Volt Robotics. O impacto na geração de energia soma 7 GW (gigawatts), o equivalente à metade da capacidade de Itaipu.

#FINANÇAS

Commodities - A agenda climática vai produzir novo superciclo de commodities demandando investimentos maciços por décadas mudando a rotina de indústrias pelo mundo.

Veículos Sustentáveis - A adaptação das frotas de veículos para modelos sustentáveis segue em expansão em diversos setores, com uso de bicicletas e vans com placas solares.

#GOVERNANÇA

Transparência - Meagan Tenety, consultora de ESG da Nasdaq, afirmou durante o evento Expert XP, que as empresas estão confusas sobre o que é importante para os investidores.

#INDÍGENAS

Marco Temporal - O presidente Jair Bolsonaro afirmou neste sábado que não aceitará demarcar terras indígenas quando não houver comprovação de ocupação antes da Constituição de 1988. Ele criticou a possibilidade do Supremo Tribunal Federal (STF) mudar o entendimento do chamado "marco temporal".

Desmatamento - O Jornal Nacional mostrou reportagem de denúncia de indígenas do Brasil e do Peru sobre o desmatamento ilegal que está ocorrendo perto da fronteira, por máquinas que rasgam a mata rapidamente do lado peruano e cortam territórios indígenas e áreas de conservação para a construção de uma estrada clandestina.

Yanomami - O antropólogo francês Bruce Albert falou ao Valor Econômico sobre a situação dos Yanomami e vê uma ofensiva generalizada contra os direitos territoriais constitucionais dos povos indígenas no Brasil.

#MEIO AMBIENTE

Multas - A atuação da Polícia Militar no Pantanal deixou de se limitar a operações de apoio e de repreensão ao crime ambiental e passou a emitir multas por infrações ambientais, dentro de áreas federais. O poder de multar atropela uma função que, por lei, é restrita aos fiscais do ICMBio, órgão federal ligado ao Ministério do Meio Ambiente.

Água - O número de fundos de investimento focados em empresas que atuam para melhorar a gestão e a distribuição da água vem crescendo no Brasil, seja em saneamento, seja em fundos dedicados.

Pantanal - A atividade agrícola no Brasil e na Bolívia, aliada com a seca e os incêndios, estão pressionando o Pantanal e a vida de quem mora na região e precisa dos rios para sobreviver.

Incêndios - Cada vez mais para dentro, os incêndios no Pantanal têm gerado ainda mais dificuldade para os brigadistas, que sem a possibilidade da chegada dos carros-pipa, estão precisando controlar os incêndios com máquinas de sopro.

Jalapão - Com a possível concessão do Parque Estadual do Jalapão à iniciativa privada, o BNDES e o governo do Tocantins vão ao Jalapão para ouvir quilombolas que dependem do turismo local e devem ser afetados pelo projeto.

#POLÍTICA

Fundação Palmares - O Ministério Público do Trabalho pediu o afastamento de Sérgio Camargo da presidência da Fundação Palmares por denúncias de assédio moral, perseguição ideológica e discriminação contra funcionários da instituição.

Desenvolvimento Sustentável - A Associação Brasileira de Desenvolvimento (Abde) está elaborando um documento com ações e propostas para contribuir com o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. A ideia é que esse material, com sugestões de projetos de lei, políticas públicas e regulações, seja encaminhado aos candidatos à Presidência. 

#SOCIAL

Escravidão - Enquanto empresas de todo porte alardeiam a quatro ventos investimentos bilionários em ESG, o mundo hoje registra 40 milhões de pessoas em situação de escravidão. Mais de 70% delas são meninas e mulheres.

#TECNOLOGIA

Jogos conscientes - Para conscientizar o público contra o desmatamento, jogadores de ‘League of Legends’, o popular ‘LoL’, vão disputar uma partida especial na final do Campeonato Brasileiro do jogo, em 5 de setembro, quando é celebrado o Dia da Amazônia. Eles terão que pensar em estratégias para avançar no jogo com a floresta em chamas.

Estratégia ESG é uma iniciativa de Alter Conteúdo em parceria com a agência epbr.

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