O que é e o que não é ESG?

 

28 | JUN | 2021

O que é e o que não é ESG?

Bom dia.

Leonardo Boff em seu livro “O que é e o que não é sustentabilidade” – de 2016 – parte da construção do conceito ao longo de décadas, suas variações e abordagens, para traçar considerações – muitas vezes filosóficas – sobre como esse termo foi apropriado pela sociedade, governos e empresas, muitas vezes erradamente.

O desenvolvimento, por exemplo, em sua análise, jamais poderia compor uma dobradinha com o complemento “sustentável”, ao passo que se daria em formato linear de evolução, enquanto a real sustentabilidade seria circular.

Parece estar acontecendo um pouco isso com o termo ESG. Enquanto a mídia demonstra ter descoberto as três letrinhas que viraram ouro na boca de empresários ávidos por atrair investidores antenados aos sinais dos tempos críticos, há os que examinam com lupa essa abordagem e já detectam aí a clássica apropriação indevida.

Poderia a Petrobras constar numa lista de empresas que abordam o ESG, tendo em vista que ela descartou a diversidade de sua diretoria e do seu conselho, e já não mantém no seu portfólio investimentos relevantes em energia renovável? E a Vale, deve ficar a mercê de seu passivo ambiental e social com os acidentes ocorridos em MG e não ser analisada por essa ótica?

Para uma abordagem mais profunda, o primeiro passo é entender de vez que ESG não é a mesma coisa que sustentabilidade. A primeira vez que o termo apareceu oficialmente foi em 2004, numa publicação chamada “Who Cares Wins” —algo como “quem se importa vence”, em português. O documento foi um pedido do então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, para que instituições financeiras incorporassem princípios sociais, ambientais e de governança em suas análises de investimento. Mas não foi isso que mobilizou o setor empresarial para agir. E sim, a carta de Larry Fink, no ano passado, sinalizando que haveria uma migração de recursos para negócios que identificassem seus riscos e assumissem postura propositiva diante deles.

“Geralmente, quando o mundo dos negócios fica obcecado por um assunto, é porque a bússola do dinheiro está apontada para lá. Com o ESG não é muito diferente”, diz a Folha em um caderno de 16 páginas neste domingo. O jornalão entra na esteira da mídia que descobriu esse nicho, assim como o Estadão, que há um ano criou uma editoria para falar da “retomada verde”, e que na semana passada trouxe um Summit com autoridades no tema, entre elas o “papa” da sustentabilidade: John Elkington.

Apesar dos avanços, o Brasil ainda tem muito o que caminhar na regulação das chamadas finanças verdes. São louváveis calls de ESG como o que a Suzano fez na última sexta, e é interessante ver o termo ESG crescer mais de 13 vezes no trends do google de 2019 a 2021. Mas há um longo caminho.

O primeiro passo para seguir nele é realmente entender para onde se quer ir, para onde esse caminho nos leva e como será essa caminhada. Dificilmente qualquer passo poderá ser dado sem uma compreensão profunda a respeito das desigualdades sociais que afligem o planeta, e um mergulho nas soluções para resolvê-las.

Sem isso, seremos apenas turistas brancos desavisados, a visitar um bistrô orgânico, com vista para mata intocada, e elegantemente instalado sobre pilares corroídos de uma favela que recebe seu esgoto, e fornece seus empregados negros para nos servir vinho. A desigualdade está na falta de diversidade existente no nosso entorno. Está no acesso à água e esgoto. Está em condições de moradia decentes. Está na comida no prato. E não só na descarbonização das indústrias. Estaremos aptos a pagar esse preço?

Boa leitura! e ótima semana.

#DESTAQUE

Alertas da Suzano - Durante evento na última sexta, a Suzano fez um grande balanço ESG tanto das suas ações de hoje e para o futuro quanto para o cenário ambiental do país, que deve seguir difícil na Amazônia, com desmatamento e incêndios florestais, com outra estação seca. A Suzano está desenvolvendo um projeto que protegerá a biodiversidade de mais de meio milhão de hectares na Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica, por meio de corredores de vegetação, ajudando na capacidade de reprodução de espécies. 

Passaporte de Ricardo Salles - Investigado por facilitação da ação de madeireiras na Amazônia, o ex-ministro Ricardo Salles terá que entregar seu passaporte, após decisão da ministra do STF (Supremo Tribunal Federal) Cármen Lúcia. Com isso, ele não pode sair do país. Os advogados de Salles afirmaram que vão cumprir a ordem judicial.

Risco na Amazônia - Análise do Instituto Socioambiental (ISA) mostra que a taxa de desmatamento na Amazônia em 2020 foi o maior em 12 anos, um recorde. O cenário vem afetando principalmente Unidades de Conservação e Terras Indígenas.

#ARTIGOS

Ricardo Sales - Agenda ESG depende de diálogo e corre risco com projeto autocrata em curso

Renée Castelo Branco - Um Brasil sem pobreza absoluta é possível

Júlia Neiva e Adriana Ramos -Desmonte do licenciamento ambiental compromete entrada do Brasil na OCDE

Ana Cristina Rosa - Risco melanina é marcador negativo associado à cor da pele

Opinião Estadão - Clima, biodiversidade e desenvolvimento

Editorial O Globo - A boa onda do ESG deve ser aperfeiçoada

Gustavo Franco - O sequestro

Helio Mattar - Por uma comunicação que oriente a tomada de decisão do consumidor

Rodrigo Tavares - Deputado bolsonarista associa práticas de responsabilidade social à esquerda

#ENTREVISTAS

Visão sobre a Amazônia - Em entrevista ao NeoFeed, Denis Benchimol Minev, CEO da Bemol, fundador de várias Ongs e estudioso sobre a Amazônia, analisa o que deu errado na região e o que precisa ser feito para que “o pulmão do mundo” comece a respirar com sustentabilidade.

Preservação é fundamental para o agronegócio - Em entrevista ao GLOBO, Paulo Sousa, presidente da Cargill no Brasil, disse que a questão ambiental prejudica a imagem de empresas brasileiras e adverte que só há um caminho para evitar a perda de mercados no exterior: coibir o desmatamento ilegal. Ele criticou também produtores agrícolas que desprezam a agenda ambiental pensando em só exportar para a China.

A importância das pessoas nos negócios - Em entrevista ao Estadão, Claudia Yoshinaga, do Centro de Estudos em Finanças da FGV-EAESP, falou a necessidade de se investir mais no social dentro das empresas, como a participação de mulheres nos conselhos.

Avanço da sustentabilidade - John Elkington, um dos precursores do movimento global pela sustentabilidade, ressaltou em sua palestra de abertura do Summit ESG Estadão, sobre a importância das atitudes dentro de cada um nas empresas. Em entrevista ao Estadão, ele avalia que os sinais de que as mudanças estão acontecendo são fortes, mas ainda é preciso mais.

#EMPRESAS

Airbnb lança hoje um manual de diversidade para orientar os anfitriões do site na recepção de hóspedes LGBTQIA+.

Eneva anunciou Anitta Baggio como diretora de Gente e ESG

Volkswagen anunciou que planeja parar de vender carros com motores a combustão na Europa de sua marca VW entre 2033 e 2035

Microsoft e a Alphabet estão reagindo contra os apelos pela inclusão de informações sobre ESG em sua prestação de contas às autoridades dos Estados Unidos.

Bloomberg e a MSCI Inc. lançaram uma família de dez índices ESG para títulos de renda fixa de mercados emergentes.

#EVENTO

Suzano ESG - Na sexta, a Suzano realizou seu primeiro call ESG, evento que será anual, onde  reforçou suas metas e compromissos ambientais e sociais, e também mostrou que a agenda ESG tem o apoio de toda a diretoria. A empresa falou sobre o potencial de receita com a venda de créditos de carbono e a preservação de áreas prioritárias para conservação da biodiversidade na Amazônia, Mata Atlântica e Cerrado.

#AGRONEGÓCIO

Nova planta de etanol - A Raízen vai investir na construção de sua segunda planta de etanol celulósico, junto ao parque de bionergia Bonfim, em São Paulo. As operações devem ser iniciadas em 2023.

Títulos verdes ainda longe do campo - Apesar do aumento nos dois últimos anos das emissões de títulos de dívida privada rotulados como “verde”, “sustentável” e “social”, os projetos de investimento no setor agropecuário ainda representam uma pequena fração das operações totais, de acordo com levantamento da organização global Climate Bonds Iniciative (CBI).

#DIVERSIDADE

Direitos LGBTQIA+ - O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) lançará nesta segunda (28) um manual inédito para orientar magistrados de todo o país na aplicação de diretrizes que assegurem direitos fundamentais de pessoas LGBTQIA+ no contexto da Justiça criminal e juvenil.

Justiça para os LGBTQIA+ - Após sugestão da cantora Daniela Mercury, o presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministro Luiz Fux ,vai instituir nesta segunda (28) um grupo de trabalho para identificar situações em que a população LGBTQIA+ fica mais sujeita a violências. A ideia é desenvolver um formulário para definir o grau de risco a que essas pessoas estão expostas e aplicar mecanismos de proteção.

Publicidade mais diversa - O Cannes Lions - Festival Internacional de Criatividade foi marcado este ano pela forte tendência das marcas em apresentar diversidade e sustentabilidade.

#ENERGIA

Pacto pelo hidrogênio - O governo brasileiro apresentou um pacto energético sobre hidrogênio durante o Fórum Ministerial do Diálogo em Alto Nível das Nações Unidas sobre Energia na semana passada. O instrumento estabelece um compromisso voluntário e tem como objetivo reforçar o papel desta tecnologia na descarbonização.

ExxonMobil - Reportagem especial da The New York Times Magazine conta a história do dia em que o fundo de investimentos Engine No.1 ganhou uma batalha dentro do conselho de administração da ExxonMobil, no mesmo momento em que a Shell se viu obrigada pela justiça a reduzir suas emissões de carbono. Ambos os movimentos podem ser um ponto de partida para uma mudança nos rumos da indústria do petróleo.

#ESG

Folha ESG - A Folha de S.Paulo publicou neste final de semana o especial “Folha ESG” com uma série de reportagens mostrando a visão de especialistas sobre as práticas ESG no mercado em suas diferentes vertentes.

ESG nas empresas - Ser reconhecido por cuidar do meio ambiente, promover impacto social positivo e adotar uma conduta corporativa ética se tornou o padrão ouro do mundo dos negócios. Por isso, nos últimos anos, falar (e adotar) ESG virou febre, e a sigla vem sendo um  selo que atesta a responsabilidade socioambiental das empresas.

ESG veio para ficar - Na visão do mercado, as empresas que não se preocupam com políticas de sustentabilidade vão ficar para trás, mostrando que o ESG não é só um modismo e veio para ficar na cultura das companhias. Hoje, 80% das cinco mil maiores empresas globais já elaboraram Relatórios de Sustentabilidade.

Mais ESG na prática - Levantamento da consultoria Bain & Company feito com executivos das 20 maiores empresas de bens de consumo do Brasil mostra que apesar de a importância de adotar práticas ESG ser unanimidade entre as empresas brasileiras, só uma pequena minoria consegue seguir essa agenda na prática.

#FINANÇAS

Fundo Verde reabre para investimentos - O Fundo Verde, gerido por Luis Stuhlberger, abriu uma nova janela de captação, para clientes do Banco Inter. Criado em 1997, o fundo já rendeu mais de 19.000% e os aportes vão de R$10 mil a R$50 mil.

Investimentos socioambientais - O surgimento das fintechs nos últimos anos trouxe junto um movimento importante da associação de investimentos a causas ambientais. No Brasil, investimentos de impacto social vem crescendo nos últimos anos, com resultados positivos, de acordo com o Mapa do Impacto 2021, da Pipe Social.

Negócios verdes - Os investimentos no Brasil voltados para negócios verdes poderão movimentar mais de US$ 1,3 trilhão (R$ 6,5 trilhões) até 2030, afirmou o diretor de regulação do Banco Central, Otavio Damaso, que vê inúmeras oportunidades de novos negócios que combinem inovação, tecnologia e sustentabilidade.

#MEIO AMBIENTE

Amazônia Sem Lei - A Agência Pública lançou o podcast "Amazônia sem Lei" criado para contar histórias sobre o que vem acontecendo na Amazônia. No total serão 10 episódios publicados sempre na última sexta-feira do mês sobre investigações feitas pela equipe de repórteres do portal de notícias.

Brasil será denunciado na ONU - Organizações não Governamentais (ONGs) pretendem denunciar o Brasil no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, por causa do projeto de licenciamento ambiental aprovados no Congresso e que pode destruir a Política Nacional do Meio Ambiente no Brasil degradando áreas protegidas.

Processos contra servidores - O deputado federal Gustavo Fruet (PDT-PR) encaminhou ao Ministério do Meio Ambiente um requerimento para saber quantos processos administrativos foram instaurados contra servidores por violações ao código de ética do ICMBio. Em 2020, a gestão de Ricardo Salles estabeleceu um novo código no órgão, que recebeu críticas das associações.

#SOCIAL

Emprego para imigrantes - A contratação de imigrantes passou a ocupar posição de relevância na agenda de empresas que priorizam a diversidade como um todo. Como uma extensão dos compromissos relacionados à inclusão, essas companhias vêm estendendo suas políticas a esse grupo.

Trabalho infantil - O fundo soberano da Noruega, o maior do mundo, com US$1,4 trilhão, vem escolhendo manter o apoio a empresas de chocolate que seguem com a prática de trabalho infantil nas suas colheitas de cacau, como Nestlé e Hersheys. A opção, segundo o fundo, é para poder exercer pressão a essas empresas por mudanças nesse cenário.

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