Não arranquem as flores do jardim, protejam-nas

 

Gabriela Amadeu
é Advogada, formada
 pela UNIFEV

Hilton Marques
é Vereador e aluno do curso
de Direito da Unijales























As manchetes de jornais trazem diariamente casos de agressão contra a mulher, apesar de medidas conquistadas no campo sociojurídico – Lei Maria da Penha e Lei do Feminicídio, por exemplo. Crimes bárbaros que revelam uma cultura da supremacia dos homens, e um machismo que determina a dominação do homem sobre a mulher – característica da sociedade brasileira que colocou o país na 5ª posição da lista de países que mais mata mulheres no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde.

Em Jales foi noticiado que a violência doméstica aumentou 100% no último ano, além de casos marcantes como a tentativa de assassinato em 2007, quando o marido queimou a própria esposa, e de mesmo modo um homem que tentou incendiar a casa após o término de relacionamento. E a precoce morte de Alcione, de 24 anos, atacada com vinte golpes de faca.

A pesquisa Violência e Assassinatos de Mulheres (Instituto Patrícia Galvão) relata que a sociedade admite os atos criminosos praticados pelo agressor, assim, importante ressaltar que a violência doméstica é praticada por pessoas “comuns”, o agressor não tem um perfil único e nem sempre possui ficha criminal, pois o pai de família trabalhador e cidadão de bem também mata.

Por trás de um “crime passional” esconde-se os sentimentos de posse, ódio, ciúmes, inconformismo com a autonomia e insubordinação da mulher; e a sociedade culpabiliza e julga a própria vítima pelo descontrole do agressor. Desse modo, a lei não consegue determinar que a sociedade respeite a existência da mulher, sendo necessário que a coletividade se conscientize que o problema é cultural e precisa ser revisto com urgência.

Os Poderes – Judiciário, Executivo e Legislativo – têm papel indispensável nessa luta, principalmente com a criação de mecanismos para coibir todo tipo de violência e garantir segurança às mulheres. O povo deve cobrar políticas públicas que proporcionem amparo à vítima, pois a mulher não pode ser deixada nas mãos de um possível agressor.

A capacitação e especialização dos profissionais – desde policiais até equipes de apoio social – são necessárias, visto que o problema é social e está enraizado nos pensamentos como algo aceitável. A capacitação de juízes e membros da carreira policial é mais necessária ainda, pois são autoridades que lidam com a situação e podem salvar vidas, como no caso de Andradina, em que um Policial percebeu que o pedido de pizza era, na realidade, um pedido de socorro. As mudanças são urgentes e necessárias, pois uma medida protetiva concedida de forma “desnecessária” pode ser revogada, mas uma vida perdida não tem volta.

De fato, a vida começa quando a violência acaba, como mencionou Maria da Penha – inspiração para a criação de uma lei voltada à proteção da mulher. É uma verdade dura de ser encarada. Os altíssimos números de casos de violência contra a mulher comprovam maior risco ao sexo feminino, o que justifica a criação de uma lei específica. Aliás, a cada dois minutos uma mulher é vítima de violência no Brasil. Dois minutos é o tempo da pausa do café, ou para checar mensagens nas redes sociais, ou da leitura de um artigo (como este) no jornal.

O título deste artigo menciona “flores”, no entanto, é melhor esclarecer: uma flor precisa ser livre para demonstrar sua força e sua beleza de ser. Mulheres, não deixem que te definam como frágil.

Leitores, esqueçam o ditado popular em briga de marido e mulher não se mete a colher – disque 190 se uma mulher estiver em perigo, disque 180 se precisar de ajuda. Apoie a causa, pois as flores precisam de cuidados para não morrerem.


 

 



Comentários