Kano e o Judô





*José Renato Nalini


Cerca de oitocentos mil pessoas praticam o judô no Brasil. Nem todas elas sabem que esse esporte – em verdade, mais uma filosofia - foi criado por Jigoro Kano (1860-1938), um japonês fraco e que não queria sempre apanhar. Ele fundou em 1882 o Instituto Kodokan para divulgar sua criação. O judô concilia a educação física, a competição sem armas e o treinamento moral.

O Japão introduziu o judô no currículo de suas escolas em 1911, passou a difundi-lo por todo o país e essa difusão ganhou o mundo. Quando cuidava de introduzir o judô em outros continentes, Kano dizia: “O Japão já aprendeu muitas coisas com outras nações do mundo. Em troca, ele deve ensinar algo ao mundo. No futuro, se o Japão ensinar o judô que eu apoio, não apenas contribuirá pela primeira vez para a cultura mundial, mas também reforçará o seu próprio desenvolvimento internacional, com os grupos que aprenderam judô desempenhando um papel fundamental”.

Se nos primórdios do ju-jitsu, do qual teria se originado o judô, ele parecia uma técnica de combate, a educação física e o treinamento mental sempre também fizeram parte de seus propósitos. O treino envolve muitas maneiras de movimentar o corpo, o que dele faz uma exitosa fórmula de educação física. E todas as suas modalidades exigem inteligência, perspicácia, resposta rápida para o inesperado, o que faz com que a mente seja inconscientemente aprimorada. Coragem, postura, lealdade e muitos outros fatores benéficos são desenvolvidos pelos seus praticantes.

Ao contrário da esgrima, do uso da lança e do arco e flecha, tudo muito comum no Japão, o judô é método de defesa contra ataques que prescinde do uso de armas. Seu significado original é “o suave controla o duro”. Isso significa que nele, o fisicamente mais fraco pode usar sua inteligência e derrotar o mais forte.

A educação moral como objetivo do judô é um tema instigante. Ela vai ser implementada a partir das emoções. Ainda que intelectualmente o indivíduo saiba distinguir o certo do errado, ele precisa ser emocionalmente treinado para gostar do que é bom e evitar o que é ruim. Moral, para os judocas, não é algo intelectual, mas emocional.

O judô treina a força de vontade como parte da educação moral e incentiva o hábito, muito mais eficaz do que a mera intenção de fazer o bem. O judô pode ajudar a juventude brasileira a cultivar valores, bens que estão negligenciados, esquecidos e até mortos em alguns espaços.

*José Renato Nalini
é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Presidente da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS - 2021-2022.


Comentários