Padre Valter Lucato Campano Junior, Chanceler
A vida presbiteral se apresenta sob a imagem de um homem que é retirado do meio de seu povo pra representá-lo diante de Deus, conforme encontramos no livro dos Hebreus (Hb 5, 1). À luz da Presbiterorumordinis a Igreja afirma que “os presbíteros, em virtude da sagrada ordenação e da missão que recebem das mãos dos Bispos, são promovidos ao serviço de Cristo mestre, sacerdote e rei, de cujo ministério participam”; desse modo, um ministro ordenado diocesano é figurado como autoridade cristológica legítima. Contudo, seu ministério se dá na participação com o ministério episcopal, pois não existe padre para si mesmo.
A vocação diocesana se expressa justamente na diocesaneidade do presbítero. Mais que uma vocação, se configura numa missão. Quando confirmado pelo bispo, por meio da ordenação, cada ministro ordenado é incorporado em uma união eclesial. A diocesaneidade é um vocábulo novo dentro da linguagem teológico-eclesial, e corresponde ao amor que o presbítero diocesano apresenta em sua pertença à uma diocese; trata-se, ainda, do carinho e comunhão que conserva com seu bispo diocesano, com os membros do presbitério e de igual modo com aqueles que sob sua responsabilidade participam da vida paroquial.
No exercício de sua missão, o padre busca atualizar a própria vida em conformidade com o Cristo Bom Pastor. A autêntica diocesaneidade se vê alicerçada sobre duas dimensões importantes: esponsalidade e incardinação. Sua inserção numa comunidade, por sua vez em sua diocese, manifesta um vínculo jurídico, espiritual e esponsal por meio de sua incardinação, sinal do compromisso com a plena comunhão com a Igreja Diocesana, porção do povo de Deus.
No que se refere à espiritualidade do padre diocesano, ainda que em meio à dificuldade de uma concreta definição, sua missão e carisma devem ser vividos com profunda interioridade, sinal de uma vocação acertada, fecunda e feliz. Busca viver em sua vida de oração o zelo à missão dada por Deus por meio de seu bispo, junto a seus irmãos de presbitério. Se há uma imagem que possa guiar a espiritualidade diocesana, esta se apresenta no coração do Bom Pastor, ao qual deve se configurar cada presbítero, na ação e na contemplação, junto à parcela do povo de Deus que lhe fora confiada.
O centro da missão presbiteral é, sem sombra de dúvidas, o seguimento das pegadas de Jesus que sempre nos motiva a lançar as redes ao largo. Na missão, junto ao povo, seja onde estiver, a força do presbítero provém da lembrança de que é um enviado e, portanto, possuidor de uma missão específica. Esta se dá no pastoreio fecundo, na obediência à Igreja e no exercício de sua diocesaneidade.
Um dos teólogos mais marcantes do século XX se dedicou a escrever sobre o ministério presbiteral, em obra intitulada “Estados de vida do cristão” (Christlicher Stand, 1977). Padre Hans Balthazar enfatiza o sacerdócio neotestamentário enraizado na cruz e ressurreição de Jesus. Sublinha que na vida ministerial pode ocorrer o grave erro em que a função não coincida com a pessoa, isto é, a ação do ministro não coincida com sua paixão. No sacramento da Ordem, ser e sofrer se fundem na vida do padre, assemelhando-o ao sofrimento de Cristo. A vida eclesiástica não se trata de uma representação abstrata, mas da concretude do Reino de Deus entre nós. A diocesaneidade é a garantia de que, juntos o reinado de Cristo acontece não somente na pregação, mas na ação de cada sacerdote.
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