Os números dos tribunais e o futuro do Judiciário

Renata Gil
Presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB)

Presidente da AMB analisa produtividade recorde do Judiciário.

 

Os números divulgados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) nesta semana sobre o desempenho do Judiciário no exercício do ano de 2019 são motivo de orgulho e contribuem para a análise do trabalho realizado pelos membros do sistema de Justiça. A publicação registrou a maior produtividade do setor em 11 anos – desde o início da série histórica, em 2009.
Se em 2014 o número de processos solucionados por magistrados era em média de 1.696 ao ano, em 2019 o número saltou para 2.107, um aumento de 24,2%. A resolução também aumentou (14,1%) na comparação com o ano anterior entre os servidores. Cada um baixou, em média, 175 processos. A maior produtividade da magistratura influencia diretamente no número de processos pendentes no Judiciário. Ainda de acordo com o estudo, 77,1 milhões de ações aguardavam solução definitiva. Um número alto, mas com redução de 1,5 milhão em comparação com 2018. Resultados que também contribuem para a avaliação do trabalho realizado e com experiência importante para o novo judiciário que surge após a pandemia e que deve impactar em estudos futuros.
A crise provocada pela covid-19 trouxe uma necessidade de adaptação, e os servidores e tribunais de todo o país adaptaram-se rapidamente. Houve uma preocupação da magistratura e do Conselho Nacional de Justiça para que os serviços não fossem totalmente interrompidos. Pela primeira vez, as associações integraram um grupo de trabalho com os conselheiros para o debate dos procedimentos.
Como um dos resultados, o uso de plataformas online nos tribunais cresceu, e um processo de adaptação que levaria longo prazo está se impondo e sendo antecipado com alguns avanços para a manutenção dos serviços aos jurisdicionados. Os números já surpreendem: apenas no regime de teletrabalho em razão da Covid-19, aproximadamente 11 milhões de sentenças já foram proferidas. Além de 17 milhões de decisões e mais de R$ 450 milhões destinado pelos tribunais no combate à doença.
O futuro é multiplataforma, e a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), maior entidade representativa da magistratura do país, vem planejando ações estratégicas com grandes empresas de tecnologia para fortalecer o ensino e o Poder Judiciário como um todo. É preciso avançar ainda mais, e a AMB, com seu laboratório de tecnologia (AMB Lab), vai trabalhar junto com o laboratório de inovação do CNJ em determinadas áreas para auxiliar na interlocução com os tribunais para implementação efetiva de novidades tecnológicas.
Dos principais desafios hoje do sistema são a segurança dos dados – evidenciada com o aumento do uso das redes digitais -, a agilidade no andamento dos processos e o acesso à Justiça. Quanto à proteção das informações, é preciso investimento e sensibilização para a seguridade nos tribunais diante da nova realidade, e o CNJ deve cumprir importante papel neste sentido.
Já o tempo longo dos processos é um desafio antigo, já apontado por documentos técnicos e científicos produzidos pela AMB. A experiência bem sucedida com as audiências virtuais deve permanecer e dar mais agilidade, mas o futuro deve balancear entre o presencial e o digital, porque a atividade de julgar é eminentemente humana, e a tecnologia é parceira e deve ser utilizada para facilitar o andamento de alguns procedimentos.
Cabe ressaltar que o estudo recente divulgado pelo CNJ enfatizou os avanços com o uso da conciliação, que também contribui com o descongestionamento do sistema de Justiça. Foram proferidas 3,9 milhões de sentenças de acordos, o que representa 12,5% de processos solucionados pela via conciliatória. O segmento que mais promoveu conciliações foi a Justiça do Trabalho, em 24% dos casos. Já a Justiça Estadual apresentou aumento no número de Centros Judiciários de Resolução de Conflitos e Cidadania, que chegaram a 1.284 unidades. Nos juizados especiais, o índice foi de 20% na fase inicial, sendo 23% na Justiça Estadual e 12% na Justiça Federal.
A tendência é que estes números aumentem, porque a Justiça está no caminho certo e aprendendo com as experiências. O Judiciário se adequa ao futuro para suprir as necessidades dos jurisdicionados, com aprimoramento, eficiência, responsabilidade e transparência. O destino da Justiça brasileira é brilhante e comprometido com a sociedade. Porque, além de tudo, entendemos que o futuro é hoje.

 

 

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