Bolsonaro troca a Lava Jato pelo centrão

Presidente usa estratégia de Temer para sobreviver, mas pesquisa mostra que tiro pode sair pela culatra

Por Ricardo Corrêa
27/04/20


Editor de Política de O TEMPO, Ricardo Corrêa analisa a decisão do presidente e as consequências perigosas da escolha

O presidente Jair Bolsonaro fez uma escolha perigosa e que só faz quem se sente muito ameaçado de queda. Trocou a Lava Jato pelo apoio do centrão. E o tiro pode sair pela culatra, como mostra a primeira pesquisa divulgada após o divórcio com Sergio Moro.
A ideia de Bolsonaro é ter um destino mais parecido com o de Michel Temer (MDB) do que o de Dilma Rousseff (PT). O primeiro foi pragmático. A despeito da péssima avaliação popular, conseguiu firmar, no apoio do centrão, uma sólida maioria que impediu o avanço da autorização para que fosse afastado, após denúncia da Procuradoria Geral da República. Fraco nas ruas, Temer sobreviveu graças a uma maioria parlamentar.
No caso de Dilma, ao não aceitar o acordo com Eduardo Cunha (MDB), a presidente avaliou que conseguiria resistir com o apoio popular. Não conseguiu uma coisa nem outra quando seu governo foi varrido pela Lava Jato e pelo cenário econômico difícil. Dilma viu-se sem apoio suficiente na rua e sem deputados para brecar o impeachment. Caiu.
Bolsonaro fez esse cálculo ao dar espaço ao centrão e concordar em esvaziar Moro. Também, claro, por conta dos problemas de seus familiares com investigações da Polícia Federal. Mas isso tem um preço muito caro para quem vivia de apoio popular. Muita gente está abandonando Bolsonaro.
Os resultados da pesquisa do Atlas Político (veja aqui) mostram que hoje mais da metade da população aprova o impeachment, que a avaliação de governo de Bolsonaro piorou fortemente e que as figuras políticas mais bem avaliadas no Brasil são hoje Luiz Henrique Mandetta e Sergio Moro, justamente os dois últimos ministros a deixarem o governo.
Mais que isso, números mostram que Bolsonaro é mais rejeitado que os adversários que escolheu: Rodrigo Maia, Lula ou Doria, por exemplo, possuem índices de avaliação negativa do que Bolsonaro. É um baita sinal de que o caminho do presidente pode ter sido um erro profundo.

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