por Andréa Ladislau
O confinamento social, medida extremamente necessária para que
possamos evitar a disseminação do Covid-19, aponta algumas situações
que nos levam a avaliar questões dentro dessa nova experiência a que
estamos expostos, como por exemplo: o convívio confinado. Processo no
qual a proximidade e a convivência em tempo integral desafiam as
relações interpessoais.
A convivência afetiva em uma quarentena, submetida ao estresse, ao
medo e a incerteza do amanhã, tende a fazer com que nossas
insatisfações, angústias e frustrações sejam deslocadas para o outro de
forma intuitiva. Além, claro, do estresse econômico que,
potencializado, contribui ainda mais para esse desconforto -
complicando, assim, a relação conjugal e florescendo aspectos
desagradáveis deste convívio.
Naturalmente, é o momento em que estamos mais suscetíveis a
refletir sobre as nossas vidas, onde queremos chegar e o que estamos
fazendo dos nossos dias.
O cenário da pandemia alterou os hábitos e a rotina de todos. As
famílias estão convivendo 24 horas do dia. O contato com o parceiro foi
intensificado. Com isso, já temos relatos de que, com o fim do período
de confinamento na China, o número de divórcios quase triplicou.
Demonstrando que o relacionamento não resistiu ao convívio contínuo.
Além disso, já temos também dados de que essa mesma temática está sendo
aplicada para justificar o aumento de casos de violência doméstica no
Brasil e no mundo.
E quais seriam as causas? Relacionamentos frágeis? Dificuldades em administrar problemas? Bem, podemos destacar vários aspectos.
Para se evitar a deterioração da relação, em primeiro lugar é
importante que cada parceiro entenda que o momento de isolamento é
necessário e que medidas de boa convivência devem ser adotadas, levando
sempre em consideração o outro. Entendendo que cada pessoa é única,
possui características, ciclos de vida e bagagens diferentes. Um pode
ser mais vulnerável, ansioso e reativo que o outro. Por isso, o auto
controle é essencial neste momento de quarentena. A meta é não
enlouquecer e não enlouquecer quem está a sua volta.
De forma inconsciente, o confinamento traz a necessidade do
indivíduo alinhar-se e, através desse alinhamento, vencer o momento
vivenciado. Portanto, a regulação emocional é o ponto chave.
Infelizmente, a tendência é - em um convívio prolongado - apegar-se a
pequenas coisas, potencializando a raiva e a chateação por questões que
antes, quando a convivência era menos intensa, não incomodavam tanto.
Agora, mais evidentes, podem desagradar, fomentando o total
desconforto.
O desafio dos casais neste período é, além de manter sua saúde e a
de todos, também manter - de forma saudável e equilibrada - as suas
relações. Buscamos a assertividade constante, mas temos que aprender a
controlar os ímpetos com orientação e foco.
Algumas atitudes devem ser eliminadas para não prejudicar o
relacionamento e ajudar o casal a sair mais fortalecido e unido desse
período de isolamento. Adotar um modelo acusatório, apontando o dedo
para culpar o parceiro por tudo, certamente irá ativar a defesa do outro
- que poderá reagir com ataques. Vitimizar-se também não trará uma
energia saudável para a relação. O clima também poderá ficar pesado e
desconfortável se um dos parceiros se colocar de forma queixosa e cheia
de lamúrias, reclamando e alimentando a negatividade. As repetições,
os excessos de cobrança, as necessidades de convencimento e o abuso da
vigilância, são, sem dúvida alguma, aspectos nocivos ao convívio.
Sabendo que todo relacionamento se sustenta pelos níveis de prazer
acima dos níveis do desprazer, e que os comportamentos destrutivos devem
ser vigiados e descartados, a meta é fortalecer a relação. Algumas
medidas devem ser tomadas: intensificar o diálogo com o parceiro,
trabalhando de forma consciente, a cumplicidade e a intimidade do casal.
Controlar a agressividade, reagindo com ponderação, polidez e
diplomacia. Além do respeito ao limite do outro. Outro fator é não
alimentar, dentro de si, a mágoa e a dúvida. Por isso, o diálogo é tão
importante para eliminar a distância na comunicação saudável. As
exposições respeitosas, no momento certo, são mais que bem vindas nesta
busca pela harmonia conjugal.
Portanto, o vínculo afetivo pode ser melhor solidificado se as
atitudes sensatas forem adotadas por ambos neste momento tão estressante
e desafiador que estamos vivendo.
Enfim, a potencialização das emoções exige equilíbrio e maturidade
para promover uma comunicação pessoal positiva. Cuide da forma de
falar, use a gentileza, a empatia e sabedoria, uma vez que a pandemia
pede auto controle e muita cautela para não tornar seu convívio em um
relacionamento tóxico e destrutivo.
Dra Andrea Ladislau
Psicanalista
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