Estudo de doutorado na USP revela os riscos da profissão do perito

Durante quatro anos a enfermeira Greice Petronilho Prata Carvalho estudou a rotina dos peritos criminais e fotógrafos que atuam no Núcleo de Perícias em Crimes contra a Pessoa, do Instituto de Criminalística de São Paulo, e pode vivenciar, por meio de entrevistas e acompanhamentos em cenas de crimes, todo estresse, pressão e violência a que as categorias da Polícia Técnico-Científica estão expostas.
Em sua tese de doutorado em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo, Greice concluiu que a exposição direta e diária à violência pode provocar danos à saúde dos profissionais e afirma que é “necessário oferecer ações psicológicas preventivas e treinamento contínuo aos servidores periciais no sentido de manter a saúde desses trabalhadores”.
Segundo a pesquisadora, a violência a que esses profissionais estão sujeitos pode afetar a saúde mental dos servidores e, por isso, é imprescindível que a Superintendência da Polícia Técnico-Científica invista em um tratamento psicológico adequado para a classe.
Em seu estudo, Greice afirma que atuar na perícia criminal exige que o trabalhador desenvolva estratégias coletivas e individuais constantemente, “pois a violência e os crimes não são estáticos”. A pesquisadora analisa a influência da exposição diária à violência nos profissionais e avalia a forma com que isso afeta a classe. “A convivência com a morte por causas violentas gera uma antevisão da própria morte, não pelo temor da finitude, mas pelo temor de como ela poderá ocorrer”, escreve a autora na tese.
(Greice Petronilho Prata Carvalho realizou o estudo durante 4 anos)
Em sua tese de doutorado, Greice disponibiliza relatos de profissionais e fala sobre o cotidiano da profissão, que é a responsável por processar cenas de crime e emitir laudos que são imprescindíveis no processo de esclarecimento de crimes. “O estudo traz um olhar atento para a nossa profissão e os riscos a que todos estamos sujeitos. E serve de base para cobrarmos políticas de proteção e de prevenção em saúde mental para a nossa categoria”, avalia o presidente do Sindicato dos Peritos Criminais do Estado de São Paulo (SINPCRESP), Eduardo Becker.
O estudo “Violências e mortes: um olhar etnográfico das práticas e estratégias cotidianas das equipes periciais do Instituto de Criminalística do município de São Paulo” foi orientado pela professora Frida Marina Fischer e contou com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Durante os anos de 2016 e 2017, a pesquisadora entrevistou 28 profissionais e os acompanhou em 61 locais de crime.

Comentários