Prisão de militar com cocaína racha a oposição no Congresso


Gleisi cobra demissão de ministro e diz que Bolsonaro tem responsabilidade por episódio. Para Freixo, associar presidente ao caso é leviano (foto Montagem; Ag. Câmara e Ag. Brasil)

A prisão de um militar com 39 quilos de cocaína em avião de apoio ao voo presidencial dividiu a oposição no Congresso. Há quem defenda cautela na associação do nome do presidente Jair Bolsonaro ao episódio, como o deputado Marcelo Freixo (Psol-RJ), e quem exija a presença do ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, a exemplo do líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues, e da presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR).

Grande crítico de Bolsonaro, Freixo surpreendeu até os aliados do governo ao chamar de “leviana” a estratégia de parte da oposição de associar o presidente ao episódio. Segundo ele, esse seria o comportamento de Bolsonaro caso a droga tivesse sido apreendida em um avião de apoio ao transporte de ex-presidentes como Dilma, Lula e Fernando Henrique Cardoso - seus desafetos declarados.

“Se os 39kg de cocaína fossem encontrados em aviões presidenciais de Dilma, Lula ou FHC, como Bolsonaro reagiria? Nós não podemos ser levianos. O episódio é muito grave e precisa ser esclarecido, mas pode ser um caso isolado e não é possível responsabilizar o presidente”, afirmou Freixo pelas redes sociais.

Além de cobrar a apuração do caso, deputado citou o episódio para defender a revisão da política de combate ao narcotráfico no Brasil. “O caso da cocaína no avião presidencial mostra o erro de se insistir na política de guerra às drogas nas favelas brasileiras, vitimando os pobres. O tráfico de armas e drogas movimenta fortunas no mundo todo e envolve poderosos. É preciso seguir o dinheiro, ir pro andar de cima”, disse.

Randolfe em discussão com Bolsonaro quando o presidente era deputado. 
Senador cobra explicações da Presidência. Tânia Rego/ABr

Freixo ainda repudiou o ministro da Educação, Abraham Weintraub, que fez alusão a Dilma e Lula ao comentar o assunto. “Esse ministro da Educação é um acidente pedagógico. Além de não ter inteligência e responsabilidade, também não tem humor. Sujeito sem graça e tosco”, escreveu Freixo no Twitter ao rebater a declaração de Weintraub.

O ministro postou ontem a seguinte mensagem: “No passado o avião presidencial já transportou drogas em maior quantidade. Alguém sabe o peso do Lula ou da Dilma?”

Demissão e convites
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, cobrou a demissão de Heleno. "Ele é responsável pela segurança das aeronaves presidenciais. Não adianta dizer que não tem bola de cristal, que foi falta de sorte. O senhor tem responsabilidade. O senhor deve explicações para o Brasil. Por que não cumpria sua obrigação? O senhor deveria ter vergonha na cara e pedir demissão", disparou. "Bolsonaro também tem responsabilidade, pelo estímulo às armas e aos bandidos. Ele estimula a questão da bandidagem. Deve explicações", acrescentou.

Parlamentares querem Augusto Heleno no Congresso

O líder da oposição no Senado anunciou que apresentará nesta quinta-feira convite para que o ministro Augusto Heleno esclareça o episódio. “Acredito que Sua Excelência tem alguns esclarecimentos a prestar sobre esse gravíssimo evento que envolve uma aeronave que estava a serviço da Presidência", cobrou Randolfe Rodrigues. Ontem, porém, ele havia anunciado a apresentação de pedido de convocação. Nesse caso, ao contrário do que ocorre com o convite, a presença do convidado não é obrigatória.

Também há um convite para que Heleno compareça na Câmara, apresentado pelo vice-líder do PCdoB Márcio Jerry (MA). Jerry também pediu ao presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que cobre explicações de Heleno. Entre outros pontos, ele questiona quem é o segundo sargento da Aeronáutica preso na Espanha com o carregamento de drogas, quem o indicou para o grupo que antecedia o voo presidencial ao Japão e quem são os responsáveis pelos controles de acesso a pessoas, bagagens, equipamentos e cargas nas aeronaves.

Ontem Bolsonaro defendeu “punição severa” para o militar e disse que não tem qualquer relação com o caso. O vice-presidente Hamilton Mourão disse que o episódio era isolado e que o militar atuava como uma “mula [pessoas utilizadas para transportar drogas] qualificada.

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