Amor à terra natal

 
José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da Uninove e Anchieta, palestrante  e conferencista. Integra a Academia Paulista de Letras. 

"Criança: ama com fé e orgulho, a terra em que nasceste! Não verás País nenhum como este!". Olavo Bilac propôs aos infantes este hino de amor ao berço natal. Algo que já foi bem mais intenso num Brasil do qual hoje as pessoas se envergonham, tamanho o escárnio dos políticos e a malversação dos escassos recursos de uma população cada vez mais miserável.

Quantos já fugiram do Brasil e procuraram abrigo em Portugal, nos Estados Unidos, no Canadá, em tantas outras plagas! Mas há os que não têm condições de transferir residência fora do País e um grupo bem reduzido, formado por aqueles que não querem deixar a terra em que nasceram.

Reagir, resistir, extirpar os malfeitores é um enorme desafio. E deve começar pela cidade. Ninguém nasce na União, nem no Estado. As pessoas nascem no município. Este era um mantra repetido à saciedade pelo grande André Franco Montoro.

Mas já não há manifestações apaixonadas como aquela que Honório de Sylos, imortal da Academia Paulista de Letras, pronunciou a respeito de São José do Rio Pardo. A sua "oração à terra natal" teve lugar em 28.9.1946, no auditório da Rádio Difusora, por iniciativa da Escola Normal Local.

Alguns trechos merecem menção, pois servem para qualquer pessoa exaltar o berço de origem: "Felizes aqueles que, tranquilamente, podem pisar o chão de sua terra, recordando, com enlevo, o passado. É sempre um encanto novo e singular rever montanhas que nossos olhos, tantas vezes, contemplaram com o coração cheio de alvoroço; rever o rio que despenca em sugestivas cachoeiras; o céu puríssimo, alentador de esperanças".

A cidade em que nascemos é também o recanto das saudades: "Atraente recapitulação de episódios, ao lado de um desfile de figuras que, em outras épocas, movimentaram a cena". Pois "o presente, na expressão de um poeta, nada mais é que a intercessão do que passou e do que vem vindo. Os grandes vultos do passado não deixam a cena. A saudade é um vidro de aumento, e eles vão crescendo cada vez mais".

Ter raízes é fundamental. Os nômades devem sofrer por carência de âncoras emocionais. "Nada mais nobre, a meu ver, que o amor ao município. Nenhum sentimento o supera. E é nele que reside o futuro da nação, a análise de cujas realidades, já se vai transferindo do campo da poesia, quase sempre estéril (não por culpa da poesia) para o das soluções objetivas e fecundas".

Honório de Sylos se envaidecia por provir do interior: "Sou um homem do Interior. Penso e atuo como um homem do Interior. E só me orgulho disso, porque, realmente, o Brasil autêntico mora no Interior".

Já estava longe de sua São José do Rio Pardo quando discursou em homenagem a ela. Lugar a que retornava sempre com prazer crescente: "Muitas outras vezes, espero, estaremos juntos. Aqui, voltarei sempre, recordando-me de que, na terra natal, a própria dor dói menos. São José será, sempre, para mim, um oásis inigualável, onde a gente encontra ternura e paz, água fresca e pura e muitas árvores copadas, parecidas com aquelas de Corrêa de Oliveira, que recebem sol pela rama, espalham sombra no chão".

Assim possamos todos reverenciar o sagrado chão da cidade em que nos foi dado ingressar nesta aventura irrepetível chamada existência! Oportunidade para tornar melhor este planeta, ainda que seja modesta a nossa contribuição: procurar lapidar nossos parcos atributos, a par de combater nossos imensos defeitos.

 

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